Na madrugada de domingo passado, uma jovem cheia de sonhos foi assassinada numa rua de um bairro nobre de São Paulo. Os assassinos foram presos. Na frente da delegada, contaram, sorrindo e sem remorso, como mataram Caroline Lee, uma adolescente batalhadora de 15 anos.
Esforçada e inteligente. Caroline Silva Lee tinha uma bolsa de estudos no colégio São Luís, um dos mais tradicionais de São Paulo.
Aos 15 anos, estava na segunda série do ensino médio.
“O objetivo dela era crescer na vida. Ela ia atrás de todo curso. Inglês, espanhol, tudo”, disse a
mãe Maria Lee Silva.
Madrugada de domingo passado, em Higienópolis, bairro nobre da capital paulista.
Caroline e o namorado Jardel, de 24 anos, estavam na festa de aniversário da amiga Beatriz, numa casa noturna. Ela foi uma das últimas pessoas a falar com Caroline./
“Foi incrível. Tava tudo bem. Falou que tinha que ir embora mais cedo que domingo ela ia começar um curso de acupuntura.”, disse a amiga Beatriz Pugliese.
Mas, na rua, Caroline e Jardel foram seguidos por dois assaltantes. Um é Marcus Vinícius Gomes, de 19 anos. O outro: Alex Venâncio, de 18.
Caroline levava uma mochila, com celular, máquina fotográfica, agenda e os desenhos que ela adorava fazer.
“O que estava na frente sacou a arma, próximo dele, e falou: eu vou atirar, eu vou atirar. E ela ficou segurando a mochila e gritando. Na hora que eu pensei em puxar ela, ele já puxou o gatilho”, conta o namorado.
Fantástico: Por que a Carol não quis entregar a mochila?
Namorado: Eu acho. Por causa dos desenhos dela.
Caroline foi morta com dois tiros na cabeça.
Marcus Vinícius e Alex Venâncio fugiram - com as mochilas do casal – num carro, que tinha sido roubado por eles uma semana antes. Quem dirigia era Claudinei Modesto, 18 anos.
Eles foram perseguidos pela polícia, bateram o carro, trocaram tiros com os PMs e acabaram presos, cerca de duas horas depois.
Segundo a delegada do caso, os três confessaram o assassinato com deboche, sem nenhum arrependimento.
“Eu falei: sabe a menina que vocês atiraram? Eles fizeram: sei. Ela faleceu. Quem atirou? O Marcus Vinicius: fui eu, doutora. Por que você fez isso? Ah, ela reagiu. É isso que acontece com quem reage. E fez assim... Deu de ombros. O Alex começou a rir e falou: quem mandou ela reagir. Ela mereceu”, disse a delegada Leslie Caram Petrus.
“A reação dela foi com medo. Não foi que ela reagiu. Então, eles deveriam: "a adolescente está com medo, ela não reagiu". Deixaria a menina ir embora, não matar”, disse a mãe de Caroline.
“Eles demonstraram um completo desprezo pela vida humana”, afirmou a delegada.
Marcus Vinícius - o que confessou ter atirado em Caroline - não terminou o primeiro grau. Com 15 anos, foi internado por tráfico de drogas na fundação casa - a antiga FEBEM. Lá dentro, ele e um grupo de rapazes agrediram um menor.
Já nas ruas, em abril do ano passado, dois meses antes de completar 18 anos, Marcus Vinícius praticou um roubo. Nesse caso, ele chegou a dar um tiro que não atingiu a vítima.
“O Marcus Vinicius disse: acabei de sair da fundação casa. Trabalhei um mês. Deixei o trabalho e decidi ficar só roubando”, disse a delegada.
Claudinei Modesto e Alex Venâncio também não foram além do primeiro grau nos estudos.
Quando eram menores, Alex foi flagrado roubando; e Claudinei se envolveu com tráfico de drogas e assaltos.
O Fantástico esteve nos endereços onde disseram morar, no centro de São Paulo. Conversamos com dez pessoas - entre vizinhos e comerciantes - mas não encontramos nenhum parente deles.
O médico Gustavo Bonini Castellana, do Instituto de Psiquiatria da USP, fez uma avaliação de 90 jovens infratores, entre 18 e 21 anos, e concluiu: “A maioria deles não apresenta um transtorno de personalidade ou uma psicopatia”.
Então, como explicar crimes tão banais?
“A maioria deles comete esse tipo de ato justamente porque aquilo faz parte do histórico de vida. Essa é a dificuldade: entender que a perda de uma vida não é algo tão banal quanto parece pra quem cometeu o crime, disse o psiquiatra.
“No dia que eu encontrar eles, frente a frente, eu vou perguntar: não sabe estudar? Tem que roubar e matar?, conta a mãe de Caroline.
Na vida de Caroline, uma pessoa marcante foi o pai. Um imigrante coreano, fisioterapeuta, que morreu de câncer, quando ela tinha 9 anos.
Caroline sonhava em seguir os passos do pai, que era um mestre das artes marciais. Há cinco meses, ela fazia aulas de kung fu numa academia e já era uma campeã.
“Você percebe que algumas pessoas têm algo especial e a Caroline tinha esse algo especial”, disse o mestre de kung fu Francisco Nobre.
Caroline queria abrir a própria academia, junto com o namorado, que também pratica o esporte.
“Ela quis fazer algo pra que a historia do pai dela continuasse. Também quis fazer
acupuntura, que o pai dela era acupunturista também”, disse o namorado.
Os três assassinos de Caroline podem ser condenados a 50 anos de cadeia. Segundo a polícia, eles não têm advogados nem foram procurados por nenhum parente.
“Só vai acabar essa dor no dia que eu morrer”, disse a mãe.
Fantástico: Qual a maior lembrança que você vai ter da Caroline?
Amiga: Uma pessoa muito forte, muito criativa, muito especial e que, com certeza, fez e faria muita diferença no mundo.
Fantastico
Nenhum comentário:
Postar um comentário