sexta-feira, 6 de setembro de 2013

No PA, motel, vendedoras e strippers relatam alta no mercado do sexo

Natália Viggiano diz que a venda de produtos eróticos é uma forma divertida de complementar o orçamento (Foto: Natália Viggiano / Arquivo Pessoal)

A jornalista Natália Viggiano trocou a rotina de trabalho em uma empresa de comunicação, emBelém, por um escritório em casa: em maio de 2013 ela se tornou freelancer, e passou a dedicar mais tempo para a sua nova atividade, um delivery de artigos eróticos. Nesta sexta-feira (6), dia do sexo, o G1 conversou com ela e outras pessoas ligadas a esta indústria,
como gerentes de motel e strippers, que garantem: o mercado do sexo está sempre em crescimento.
Erotismo delivery
Natália diz que o comércio surgiu como uma forma de complementar a renda e, além do retorno financeiro, proporciona a satisfação de vários clientes que compram produtos para apimentar a relação: são artigos como vibradores, próteses e, principalmente, óleos sensuais, procurados por homens e mulheres com idades entre 20 e 50 anos.

“Eu queria trabalhar vendendo produtos eróticos, mas não sabia se ia ter um bom retorno. Comecei com um valor relativamente baixo, e paguei meu investimento no segundo mês”, disse a vendedora. “Eu escolhi esse segmento porque achei que tinha mercado e seria divertido. Como eu não saio de casa sem ser chamada pelos clientes, não tenho prejuízo. E quando alguém me chama, é impossível não comprar”, revela.
Segundo Natália, o diferencial é fazer a clientela se sentir à vontade. “O segredo é apresentar os produtos com naturalidade, para que os clientes não se sintam ‘fora’ desse mundo”, conta a vendedora, que está satisfeita com o seu modelo de negócios. “Se fosse abrir uma loja, perderia a discrição”, avalia.

Além de anunciar seus produtos em uma página do Facebook, Natália conta com a propaganda das próprias clientes. “Acabo não tendo muito tempo para divulgar, mas os produtos se vendem sozinhos. Uma pessoa usa, indica para uma amiga, que indica para a outra... e quem já conhece acaba ligando querendo saber das novidades”, explica.
 

Lingeries são os artigos mais procurados na loja de Denise (Foto: Divulgação / Miss Valentaine)
Lingeries são os artigos mais procurados na loja
de Denise (Foto: Divulgação / Miss Valentaine)
Ponto fixo
A empresária Denise Chimiti preferiu investir em um ponto comercial fixo: há 2 anos ela é dona de uma butique sensual, um tipo de loja que, segundo a proprietária, é “menos agressiva” que as sex shops . “É um conceito mais clean de se trabalhar com o sensual. Nada mais é que uma butique de lingerie, com atendimento exclusivo e espaço reservado. Falamos de sexo e trabalhamos com sexo, mas sem cair na vulgaridade”, define.

Segundo Denise, apesar do pouco tempo de funcionamento, a loja já teve um incremento no faturamento de 80% em relação a 2012. Os produtos mais procurados são lingeries, mas o mercado está se expandindo. “Além de ser um objeto de fetiche masculino, as mulheres gostam de estar bem vestidas também por baixo da roupa. Mas os brinquedos sensuais de luxo vêm ganhando uma clientela considerável, seguidos pelos lubrificantes com sabor e óleos com sensações de quente ou gelado”, disse.

Atualmente a loja emprega cinco funcionários diretos e três indiretos, e deve lançar um site de comércio eletrônico em breve. Para Denise, uma das maiores dificuldades para o crescimento do negócio é encontrar mão de obra qualificada. “As pessoas que trabalham na loja foram treinadas e são convidadas a estudar os produtos, para que possam atingir o padrão de exigência do nosso cliente. Hoje não existe vendedor de produtos, existe vendedor de ideias, e de sonhos”, conta.
 

A stripper Dani Mist (Foto: G1)A stripper Dani Mist diz que era bem desengonçada, mas hoje adora dançar  (Foto: G1)
Dança envolvente
Vegas e Dani, que pediram para não ter os sobrenomes divulgados, são dançarinas de uma boate que funciona há 36 anos em Belém. Lá, elas e outras quatro garotas fazem strip-tease para uma plateia predominantemente masculina, cheia de clientes fiéis. Vegas conta que estava aposentada dos palcos há 3 anos, mas decidiu voltar para uma apresentação especial no aniversário da casa noturna. “Hoje sou microempresária, tenho meu próprio salão de beleza, mas me envolvi ‘de gaiata’”, brinca.

A stripper Dani Mist (Foto: G1)
Dani conta que as dançarinas são muito cobradas
e precisam manter a forma (Foto: G1)
Para Dani, é o amor pela dança que motiva os espetáculos. “Eu adoro dançar. No início eu não gostava, era bem desengonçada, mas acho legal porque é uma dança bem sedutora e envolvente”, confessa.

A rotina inclui apresentações diárias e ensaios semanais, com acompanhamento de coreógrafo que dá dicas de expressão corporal. Segundo as dançarinas, o segredo do espetáculo está nos detalhes, e a cobrança é grande. “Pegam muito no pé com o corpo e a maquiagem. Além disso, é preciso ter um sorriso no rosto e envolver com o olhar. A gente acaba se dedicando demais. Não é tanto por se expor, é por gostar de dançar”, define Vegas. “Eles dizem ‘olha a barriga, olha o cabelo! Não olha assim, olha pra frente! Dá um sorriso!’. Até na hora do show tem essas cobranças, para ficar bonitinho”, explica Dani.

O resultado de tanto esforço se reflete no sucesso do espetáculo: Vegas explica que clientes satisfeitos costumam dar gorjetas melhores, e Dani conta que já foi procurada por mulheres casadas em busca de dicas de relacionamento. “Já me pediram para ensinar. Às vezes perguntam se é fácil, e eu digo que no início não é, mas a gente vai se acostumando. Muitas mulheres têm curiosidade de saber como fazer strip-tease: o negócio é ser bem safada e, com o marido, todo mundo consegue”, orienta a dançarina.

Mercado sem crise
Márcio Bezerra, 39 anos, tem experiência no mercado erótico: ele administra há 5 anos um motel em Ananindeua, na região metropolitana de Belém. Antes disso, havia sido gerente de outro motel de alto padrão, e conta que a atividade não sofre com crises ou recessão econômica.

Casa Imperial do motel (Foto: Divulgação / Motel Sagitário)O motel onde Márcio Bezerra trabalha oferece espaços diferenciados e ambientes com vagas para 15 carros (Foto: Divulgação / Motel Sagitário)
"É um mercado que está sempre aquecido. Mesmo com pouco dinheiro, as pessoas não abrem mão de ir ao motel. Além disso, a fantasia, o sonho e a curiosidade sempre estão presentes nas pessoas. Os clientes se renovam a todo tempo, cada qual buscando por novas experiências. Temos desde maridos que trazem esposas pra conhecer o espaço pela primeira vez até quem venha fazer despedida de solteiro, confraternização entre amigos ou mesmo casais que buscam sair da rotina", disse.

Segundo Bezerra, para atrair casais o motel investe em suítes temáticas com decorações que variam de ícones pop, como os Beatles e Marilyn Monroe, até o sadomasoquismo. O estabelecimento também tem acomodações de luxo, como a “Casa Imperial”: com garagem para até 15 carros, o espaço oferece churrasqueira, mesa de bilhar, hidromassagem, sauna, cascata com iluminação de LED, bar molhado e pole-dance. Os preços variam entre R$ 89 e R$ 523. "Muitos grupos vêm aqui para ficar num período que às vezes ultrapassa o pernoite, e resolvem trazer carne para assar, para acompanhar a diversão. Aí nós damos de graça o carvão e o sal grosso", revela o gerente.

Noites especiais
Segundo o gerente, está havendo uma mudança de comportamento da clientela. "É cada vez maior a iniciativa de mulheres em procurar o motel, agendar uma suíte e oferecer uma noite especial para o seu parceiro. De cada 10 casais, em 7 deles é a mulher quem sai na frente e organiza tudo. Muitas delas pedem pétalas de rosas, um jantar especial, velas perfumadas ou querem trazer o homem vendado até o quarto. Elas são mais cuidadosas na preparação e nós procuramos atender a todos os pedidos. Acredito que o preconceito das mulheres em procurar motéis está diminuindo, o que é bom: ganham os casais e os estabelecimentos", conclui.

Para Bezerra, a maior dificuldade do segmento é o trânsito da cidade. "Muitos dos nossos clientes nos procuram, durante a semana, no horário de almoço. Eles só têm duas horas para ficar aqui, mas com o trânsito difícil eles passam a metade do tempo presos em engarrafamentos. Com isso, não tem almoço, muito menos sobremesa", brinca.

Para lidar com um público tão diverso, Bezerra tem que estar preparado para lidar con situações inusitadas. Entre as histórias que ele coleciona está a de um cliente que foi até o local acompanhado de uma boneca inflável, mas que voltou para casa sem o brinquedo. "Um outro cliente foi se instalar no quarto e de repente sentiu um cheiro de borracha queimando. Chamamos o pessoal da manutenção e descobrimos que a boneca inflável havia sido dobrada e escondida atrás de uma sanca de gesso, onde havia pontos de iluminação. Com o calor da luz, a boneca começou a derreter. Acredito que ele tenha deixado lá para voltar ao quarto e reencontrar a companheira".

Márcio conta que além dos fins de semana, as datas em que a maioria dos clientes procura o motel são o dia dos namorados, natal e réveillon. Além das datas comemorativas, o local também é muito procurado nas terças-feiras, quando é realizada a Novena de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. "Temos aqui uma coleção de terços, santinhos, missários que os clientes trazem e esquecem nos quartos. O pessoal sai de casa dizendo que vai rezar; só não diz pra que santo", ri.
Ingo Müller, Luana Laboissiere e Natália MelloDo G1 PA

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