O delegado titular da 6º distrito policial, do Cambuci, José Gonzaga Pereira da Silva Marques, disse na noite desta quinta-feira (18) que o administrador de empresas Fernando Gouveia, de 33 anos, "tem a noção do que ele fez". Pela manhã, ele atirou contra três pessoas na região da Aclimação, em São Paulo. Gouveia tem problemas mentais e reagiu à
abordagem de uma equipe que tinha ordem judicial para interná-lo.
"Há declarações médicas particulares, não públicas, de que ele é portador de quadro de esquizofrenia", disse o delegado. Apesar disso, para Marques, o administrador estava plenamente ciente dos seus atos ao efetuar os disparos contra um oficial de Justiça, um técnico de enfermagem e, posteriormente, contra policiais militares.
“Ele tem a noção do que ele fez, ele sabe o que faz. Ele falou, inclusive, que usou a [espingarda calibre] 12 contra os policiais, porque, apesar de matar, é uma arma de contenção, de impacto, e que os escudos [balísticos da polícia] resistiriam aos disparos”, afirmou Marques.
Ao atirar, Gouveia também acabou atingindo a mulher com quem tem um relacionamento há dois anos, a psicóloga Silvia Helena Gondim, de 45 anos. “Não era o objetivo. Pegou nela porque estava na linha de tiro. De qualquer forma, é [tentativa de homícidio com] dolo eventual”, ressaltou Marques. Gouveia vai responder criminalmente por tentativa de homicídio quádruplo.
No imóvel, onde morava com a psicóloga, foram localizados uma espingarda calibre 12, uma pistola 380, um revólver 38, facas, duas espadas, munição, e uma besta (espécie de arco com cabo e gatilho para disparar flechas). Ele também tinha registrado em seu nome uma espingarda calibre 44 e um revólver 32, que não foram encontrados pela polícia. Todas as armas são regularizadas. Segundo o delegado, Gouveia passou a adquirir as armas recentemente. “Ele disse que não encontrou dificuldades para comprar as armas”, afirmou.
O homem disse à polícia que admirava as armas. Ele também contou que tinha duas câmeras na residência onde morava porque se sentia ameaçado e tinha medo de ser atacado. "Ele achava que com as câmeras e as armas evitaria um ataque, o que caracteriza uma personalidade neurótica", afirmou Marques.
Segundo o delegado, “nem a mãe dele sabia que ele mantinha tantas armas, e dessa qualidade”. “Ela disse que ele nunca revelou nada”, contou Marques.
Rendição
O administrador se entregou à polícia por volta das 17h de quinta-feira, após cerca de nove horas de negociação. Após a rendição, Gouveia foi atendido com ferimentos leves no Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM), onde passou por avaliação, e depois foi levado para o Instituto Médico-Legal. De lá, seguiu para o 6º Distrito Policial, onde foi interrogado.
Na manhã de quinta, um oficial de justiça, um médico, três profissionais de enfermagem e o advogado da família de Gouveia foram até a residência para interná-lo. A dona da casa, companheira do suspeito, gritou ao saber que o grupo pretendia levá-lo. Fernando chegou por trás da mulher e disparou.
Quando os primeiros policiais chegaram, foram recebidos a tiros, que acertou o escudo de um deles. “Eu estava na rua, negociando com ele. Ele estava do lado de dentro da casa, na sala, e efetuou os disparos. Ainda bem que estávamos abrigados com escudo balístico”, disse o sargento Ribeiro. Atiradores de elite se posicionaram sobre um prédio em frente à casa.
Além da psicóloga, o atirador feriu um oficial da Justiça e um técnico de enfermagem. Gouveia acabou sofrendo ferimentos leves ao resistir à abordagem. Segundo a polícia, ele lutou com o enfermeiro, que conseguiu desarmá-lo. Em seguida, ele teria reagida e retomado a pistola 380 com a qual efetuou os primeiros disparos.
As negociações, que começaram por volta das 8h30, duraram cerca de nove horas. Após a rendição, a polícia realizou uma inspeção dentro da residência na Rua Castro Alves, na região da Aclimação.
Segundo o tenente-coronel da Polícia Militar Marcelo Pignatari, Gouveia vai responder, inicialmente, por tentativa de homicídio triplo e também contra os policiais. O caso será investigado pelo 6º Distrito Policial, no Cambuci.
Estado de saúde
Segundo a Secretaria Muncipal de Saúde, os socorridos foram levados ao Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM). O estado de saúde do técnico de enfermagem Márcio Teles, de 27 anos, da psicóloga Silvia Helena Godin, de 45 anos, e do oficial de Justiça Marcelo Ribeiro de Barros, de 49 anos, era considerado estável.
Os três pacientes estavam conscientes. Segundo o cirurgião-geral do Pronto-Socorro, o oficial de Justiça, ferido no tórax, passou por uma drenagem e reagiu bem. Os outros dois feridos, baleados na face, tinham estado de saúde estável. O oficial de Justiça foi transferido para o Hospital Bandeirantes e a psicóloga, para o Hospital São Camilo.
A PM negociou com o atirador pelo telefone celular da mãe do suspeito e também em conversa direta com ele a partir do imóvel ao lado. O Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), da PM, isolou a área e moradores da rua não puderam transitar no trecho.
"Nossa preocupação quando ele se entregou foi tranquilizá-lo, dizer que ele não precisava ficar nervoso. Levamos para a casa ao lado, onde ele deitou na maca e a equipe médica fez os primeiros atendimentos, viram que não tinha nada grave e ele foi algemado", disse o tenente-coronel Pignatari. "Ele ainda está perturbado, dá para ver pelo movimento dos olhos dele", afirmou.
Pedido de interdição
De acordo com pessoas ligadas à família do atirador, Gouveia não trabalhava e tinha esquizofrenia, constatada em laudo médico. A família havia entrado recentemente com um pedido de interdição, como medida protetiva para avaliação e internação.
A assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) informou que, como o processo pertence à Vara da Família, ele corre sob segredo.
Marcelo MoraDo G1 São Paulo
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