Uma pesquisa realizada ao longo de toda a década passada na cidade de São Paulo indica os dias do ano em que mais acontecem nascimentos. Segundo o autor, a escolha da data do parto é um fenômeno relacionado ao grande número de cesarianas feitas no Brasil.
O dia mais escolhido foi 8 de março, o Dia Internacional da Mulher. Por outro lado, os
resultados também mostram que as mães evitam dar à luz em 2 de novembro, Dia de Finados, e em 25 de dezembro, no Natal. Além disso, a evolução do número de nascimentos ao longo do ano mostrou que não há nenhum pico em novembro e que, portanto, a ideia de que o Carnaval levaria ao nascimento de muitas crianças não passa de um mito.
Alexandre Chiavegatto Filho, pós-doutorando na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), contabilizou 1.933.137 bebês nascidos vivos entre 2001 e 2010 na capital paulista em seu estudo, publicado na revista especializada “Ciência e Saúde Coletiva”.
“O que acontece mais é rejeição”, define o autor, especialmente em relação a Finados e ao Natal. Quanto à preferência por 8 de março, ele acredita que seja uma forma de homenagear as mães em uma data “bastante emotiva e simbólica”.
Chiavegatto conta que a ideia de fazer o estudo surgiu depois que ele leu um estudo semelhante feito nos Estados Unidos. Lá, a data mais evitada é o Halloween, em 31 de outubro, e a predileta é o Dia de São Valentim, 14 de fevereiro, quando os norte-americanos comemoram o Dia dos Namorados.
Mais do que apenas uma curiosidade, a pesquisa tem importância médica, segundo o autor. Ele explica que a marcação da data implica uma cesariana antes do dia em que o bebê deveria, teoricamente, estar completamente formado e pronto para nascer.
“Com a escolha da data, você aumenta a possibilidade de prematuridade”, afirma. “A rejeição a uma data faz com que o nascimento seja antecipado”.
“Isso é um problema pela associação com prematuridade e baixo peso [ao nascer]”, prossegue o autor da pesquisa. O baixo peso pode acarretar uma série de complicações à saúde da criança nos primeiros meses de vida.
Outro ponto observado pelo autor foi a diminuição do número de partos aos domingos. Entre 2001 e 2010, o número de bebês nascidos nesse dia da semana caiu 10,2%. Isso evidencia, na avaliação do pesquisador, que os médicos também têm participação na escolha, pois no domingo os hospitais têm equipes reduzidas.
Ao longo do período estudado por Chiavegatto, as cesarianas passaram a ser maioria entre os partos no Brasil. Em 2001, o parto natural ainda era mais comum e as cesáreas respondiam por 48,9% dos partos no país. Em 2010, esse números já estava em 56,8%.
O Conselho Federal de Medicina tenta reduzir o números de cesarianas no Brasil – a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o procedimento não seja usado em mais do que 15% dos partos. Os médicos argumentam que a cirurgia é mais agressiva e que a recuperação da mãe é mais lenta, uma vez que ela envolve cortes.
Tadeu MeniconiDo G1, em São Paulo
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