Com um preço cerca de oito vezes maior que o do metro de um tecido jeans convencional de qualidade, uma pequena empresa de Maringá, no Paraná, criou um ‘jeans’ que, além de ecológico, é de luxo: 50% do material é composto por fios de seda e outros 50% de garrafa pet e de algodão. O metro custa R$ 80 – ante aproximadamente R$ 10 a R$ 12 de “um bom
jeans tradicional”, afirma Gustavo Rocha, que está à frente da O Casulo Feliz e desenvolveu a novidade.
“Na comparação com o pano da calça jeans tradicional, a parte que fica por dentro, que tem o tom de branco, no nosso tecido fica a seda, que deixa um branco brilhante (...) Fica um prata metálico belíssimo”, explica, acrescentando que a seda dá ainda sensação de maciez no contato com a pele.
Segundo o empreendedor, a intenção é unir o luxo da seda com a sustentabilidade do pet e o tradicional jeans. “Nunca tínhamos trabalhado com pet. A ideia foi de ser um produto reciclado, preocupado com o meio ambiente”, afirma.
Após dez anos de pesquisa, a primeira amostra do ‘jeans’ ficou pronta há cerca de três meses. “Já apresentamos para os clientes (...). O pessoal não está usando só para fazer calça jeans convencional. Estão usando para fazer paletó, blazer, fica maravilho. Estão fazendo calça de tudo quanto é tipo”, diz, afirmando que, na maioria das vezes, o pano é usado com o lado de dentro para fora, que “é mais bonito.”
Para a aparência do jeans, a parte macia, da seda, fica pelo lado de dentro das peças. O pet fica para o lado de fora.
A pretensão, contudo, não é vender o material em larga escala. “A gente não vai vender o tecido de grande forma comercial, mas passar uma ideia que o ser humano tem que também reciclar”. De acordo com ele, a empresa está fazendo o "jeans" só com o algodão e a seda também, mas o preço é o mesmo. “O foco mais comercial é só com algodão [e a seda]. Sai o mesmo preço, algodão custa R$ 8 o quilo. O pet, R$ 7”, diz. O que encarece o preço é a seda: R$ 400 o quilo.
A empresa sempre trabalhou para o segmento de luxo e vende tecidos para grifes. Por conta disso, o empresário diz acreditar que, em breve, o tecido será bem aceito pelo mercado.
“Tem a questão de preço, as pessoas não estão acostumadas, pois compram sempre de algodão. Aí, se vai comprar [o ‘jeans’] de seda e pensa, ‘nossa como é caro’. (...) Mas não estamos preocupados, estamos acreditando que o mercado vai absorver a ideia”, explica. “Hoje a mulherada vai comprar uma seda e paga em dez vezes. Antes, não comprava. Isso é questão de mercado”, avalia.
“Num tecido de R$ 10, R$ 12, o custo final para eles de uma marca boa, uma calça bem feita, é de R$ 50. O nosso fica em R$ 120.”
Casulos ‘impróprios’
Criada há 25 anos, O Casulo Feliz é uma empresa familiar e nasceu após Rocha, que é zootecnista, enxergar a oportunidade de aproveitar casulos de seda que eram impróprios para a indústria, por terem pequenos defeitos.
“Estudei uma forma manual de fiar esses casulos que não eram aproveitados. Ficou um fio com pequenas irregularidades (...). Apresentei no mercado, comecei trabalhar com artistas plásticos em São Paulo e no Rio(...), eles acharam maravilhoso para fazer tricô, crochê, pela forma irregular, fazia produtos muito bacanas”.
Ele explica que trabalhou por muito tempo só com decoração, fazendo tecidos grossos para sofás, finos para cortina e revestimento em parede e tapetes. “Hoje a moda tem dinheiro, temos 80% do nosso trabalho para esse mercado. (...) Eles fazem tênis, roupa, chapéu, cinto, tudo com esse produto nosso”, explica.
Sustentabilidade
Desde a criação, a fábrica de tecidos trabalha com produtos naturais e sustentáveis – apesar de Rocha afirmar que a palavra “sustentabilidade” ainda não era muito pronunciada na época. “Hoje a moda está como nós pensávamos 25 anos atrás. Pensávamos na moda como ela está hoje, maluca”, afirma.
O fiado é todo feito a mão, com tear manual. A seda corresponde a 99% da matéria-prima. O resto são fibras naturais, como o algodão, lã, linho, rami e sisal. “É mais caro porque é tudo feito devagarinho, à mão”.
O tingimento das peças é vegetal. “A gente pega a casca de cebola, ferve, e tira a cor dourada. Pega 50 quilos de tomate, bota para ferver, cozinha e sai a tinta”, explica, acrescentando que, na época, fez várias viagens para aprender técnicas de tingimento com vegetais. “Não existia internet para pesquisar”, salienta.
Hoje, o quadro de funcionários varia de 30 a 80 pessoas, dependendo da época do ano e da demanda. A fábrica fica em bairro da periferia de Maringá e Rocha diz que sempre contratou mão de obra da comunidade carente.
O faturamento gira em torno de R$ 2 milhões ao ano. “Eu não sou um grande empresário, eu sou um empreendedor”, diz. De acordo com ele, a busca é trabalhar com exclusividade e criatividade, sempre pensando em fazer “algo de bom para o planeta”. “Tem muita coisa que é mais importante do que o dinheiro, o dinheiro tem que fazer só parte”, avalia.
Gabriela GasparinDo G1, em São Paulo
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