O deputado Marco Feliciano (PSC-SP) demonstrou ontem ceticismo sobre a reunião de líderes partidários na Câmara que tratará do seu caso. O encontro estava marcado para ontem e ficou para a semana que vem.
"Eu não recebi o convite ainda. Estou estudando se eu vou atender. Regimentalmente, não tem o que ser feito. Eu não sei o que faria nesse colégio de líderes. Ir ali para ser oprimido e achincalhado por um grupo de
pessoas que, na verdade, deveria defender o Parlamento -e não abrir um precedente como está sendo feito. Acho muito perigoso", disse o deputado.
Em entrevista ao Poder e Política, programa da Folha e do UOL, Feliciano falou de maneira franca sobre suas convicções como pastor, sua outra atividade além da política. Ao dizer mais uma vez que não vai renunciar ao cargo de presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, comparou-se ao atual presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN).
"Todos nós sabemos que o deputado Henrique Alves chegou à presidência [da Câmara] debaixo de muita pressão, debaixo de muita luta. Eu me espelho nele. Esse vigor que eu estou tendo de suportar essa pressão se inspira nele", declarou Feliciano, que tem 40 anos e sofre críticas diárias por estar no comando da Comissão de Direitos Humanos.
Henrique Alves foi eleito para presidir a Câmara em fevereiro em meio a acusações de irregularidades, como manter dinheiro no exterior sem declarar, entre outras. Alves negou culpa. "Tantos jornais falando sobre ele e mesmo assim ele permaneceu. Eu quero ter a mesma chance que ele teve de permanecer e provar que eu posso fazer um bom trabalho", disse Feliciano.
Na entrevista, o deputado também diz estar insatisfeito com o tratamento recebido do governo da presidente Dilma Rousseff. Coloca em dúvida um alinhamento automático que evangélicos poderiam ter com o projeto de reeleição da petista.
Relata ter vestido a camisa de Dilma em 2010, mas agora se sente traído pelo PT, pois vários integrantes do partido pedem a sua saída da CDHM. "O PT pegou um grupo de deputados e veio contra mim", diz.
Sua maior mágoa é com a ministra da Casa Civil, Glesi Hoffman, que não o ajudou a ter audiência com Dilma Rousseff ou com o ministro da Secretaria-Geral, Gilberto Carvalho, para tratar do impasse na comissão de Direitos Humanos.
Neste mês, Feliciano diz esperar o apoio de 24 mil pastores que estarão em Brasília para um congresso da Assembleia de Deus. O deputado aguarda também outras manifestações a seu favor. "[Eles, o movimento LGBT] colocam 20, 50, 200 pessoas na rua. Se é público que eles querem ver, nós temos 50 milhões [de fiéis] no país".
A respeito de sua declaração recente sobre a CDHM ter sido no passado comandada por "Satanás", explicou não se referir a alguém especificamente, mas a todos que pensam de forma diferente da sua. "Satanás", no caso, seriam "os adversários" no campo das ideias.
Conservador nos costumes, Feliciano explicou a maioria das suas opiniões que vêm sendo alvo de críticas. Negou ser racista ou homofóbico. Disse que ele e o papa Francisco, da Igreja Católica, são perseguidos pelos simpatizantes da causa LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros).
É contra o aborto, entre outras razões, por ter presenciado a prática quando era jovem. Sua mãe chegou a manter uma casa clandestina de abortos. Na "12ª semana, estamos falando de um bebê com três meses de idade. Já tem sentimentos. Já sente dor. Abortar uma criança de três meses é assassinato", diz.
E a frase polêmica no Twitter sobre negros serem amaldiçoados? Explica que seria apenas uma expressão da Bíblia. Hoje "escreveria da mesma forma, mas diria que a frase não termina aqui".
A interpretação de que houve racismo seria "maldade nos olhos de quem lê". Quem? "Um grupo de pessoas na internet. O movimento LGBT. Nós temos tudo isso catalogado. Eles acabaram empesteando o país inteiro com esse pensamento".
Feliciano acha que o Brasil vive uma "ditadura gay" e relata que na Assembleia de Deus, "tem muitos casos de ex-gays".
É necessária uma lei para combater a homofobia? Ele acha que não. Se a lei for aprovada, teria de se fazer o mesmo para outras minorias -por exemplo, para quem é "caolho" ou "banguelo".
Contrário a manifestações públicas de carinho entre gays, o deputado acredita que os próprios homossexuais saberiam que se trata de algo inconveniente. Cita o caso de artistas mulheres se beijando em público para protestar. "Você viu algum artista masculino dar algum beijo na boca de outro artista masculino? Não tem. Por quê? Porque eles sabem que isso vai chocar a população. Porque um beijo feminino talvez choque menos".
Na política, diz admirar os colegas deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Chico Alencar (PSOL-RJ), além de Ulysses Guimarães (1916-1992).
Cantor de músicas religiosas, Feliciano diz alisar o cabelo e fazer a sobrancelha. "Pecado é quando a tua vaidade te põe acima de Deus", diz.
FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA / folha
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