O Exército terá 600 militares especializados em combate ao terrorismo atuando nas seis cidades-sede da Copa das Confederações, que começa em 15 de junho com a partida entre Brasil e Japão, em Brasília.
Segundo o coronel Richard Fernandez Nunes, que integra o Centro de Coordenação de Prevenção e Combate ao Terrorismo, criado pelo Exército para centralizar as atividades ligadas ao tema durante o evento, o planejamento sobre como as tropas serão empregadas em Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Salvador e Brasília, será finalizado em maio.
Em cada uma das sedes da Copa das Confederações haverá tanto um grupo específica para terrorismo e quanto um para defesa química, bacteriológica e nuclear (DQBN, como o termo é como conhecido no meio militar).
“Nesta semana (de 15 a 19 de abril), grupos de 10 homens que atuam nestas áreas visitaram as seis cidades-sede da Copa das Confederações para um reconhecimento inicial, conversar com os órgãos de segurança e de defesa civil para identificar vulnerabilidades, locais que devem ter atenção ou requerem inspeções específicas para prevenir qualquer incidente. Eles farão relatórios que nos trarão dados importantes sobre como iremos dividir as ações com as polícias nestes locais”, disse Nunes ao G1.
O G1 divulgou no último dia 17 que o atentado na maratona de Boston, nos EUA, que deixou 3 mortos e 176 feridos, preocupou o governo em relação ao tema.
Por um acordo entre os Ministérios da Justiça e da Defesa, a coordenação das atividades de terrorismo na Copa das Confederações, na Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas, de 2016, está nas mãos do Exército.
Os militares serão responsáveis ainda pelas ações de contra-terrorismo (pronta-resposta a possíveis ataques), enquanto que a Polícia Federal fará o monitoramento de suspeitos e o levantamento de inteligência para prevenção. Apesar das polícias Civil e Militar de alguns Estados realizarem treinamentos simulando ações contra o terror, elas só irão ajudar quando forem convocadas.
“Em cada cidade-sede haverá um centro de coordenação em que será decidido como iremos dividir as tarefas. Para as polícias dos estados, a atuação em alguns locais é mais rotineira, eles conhecem melhor a região, estão acostumados com o ambiente. O que faremos é atuar de forma conjunta e distribuir capacidades”, explica o oficial.
“Nenhuma agência ou órgão do país é capaz de dar conta sozinho da questão de terrorismo. É uma operação interagências, todos trabalharão integrados”, define.
Armas químicas e nucleares
O Brasil possui a única unidade da América Latina certificada pela Organização Internacional para Proibição de Armas Químicas com capacitação para atuar em casos de ataque com agentes químicos, bacteriológicos, nucleares e radiológicos.
O batalhão DQBN do Exército, localizado no Rio de Janeiro, distribuirá ao menos 120 soldados em três cidade-sede dos jogos: Rio, Belo Horizonte e Recife. Cada uma terá 40 homens do ramo. Na capital fluminense ficará ainda um contingente de reserva.
Uma companhia deste batalhão, sediada em Goiânia (GO), empregará outros 50 homens em Brasília. Os mesmos soldados, após o evento de abertura da Copa das Confederações, seguem para Fortaleza. Já uma tropa da Marinha empregará 60 soldados especializados em Salvador.
Já os militares de combate ao terrorismo, treinados no Comando de Operações Especiais, em Goiás, serão agrupados em destacamentos de 80 a 100 cada um nas seis cidades-sede. Um contingente de reserva ficará em Brasília.
“Como os grandes eventos realizados até então no Brasil eram em uma só cidade, a Copa das Federações, com seis cidades atuando de forma simultânea, será um teste de coordenação para a Copa do Mundo, em que teremos jogos em 12 capitais”, explica o coronel.
Desde 2012, o Exército aumentou o ritmo de treinamento dos soldados especializados. O curso de DQBN, que era realizado a cada dois anos para oficiais e para praças, passou a ser realizado anualmente, e o número de profissionais formados passou de 12 para 24 por vez.
“Até as Olimpíadas de 2016 vamos aceleramos o ritmo dos cursos para duplicar o número de homens que sabem manusear os equipamentos, que são extremamente complexos e capazes de localizar áreas infectadas com material químico ou nuclear e também identificar qual é o agente”, diz o oficial.
Mais de R$ 60 milhões foram gastos também para a aquisição de laboratórios e equipamentos com sensores que permitem localizar e descobrir agentes químicos e bacteriológicos dos mais diversos tipos, como a ricina, substância tóxica que pode matar entre 24 e 72 horas e que foi encontrada em cartas endereçadas ao presidente dos EUA, Barack Obama, após os ataques de Boston.
“Já tínhamos estas tecnologias. O que estamos fazendo é adquirindo mais, para termos disponíveis em todas as sedes da Copa das Confederações, e também obtendo materiais novos para descontaminação. Substâncias como a ricina, que são em pó, são mais fáceis de se localizar, porque há um indício da presença. O mais complicado é com o nuclear, é que algo invisível aos olhos. Mas nossos equipamentos são de precisão”, garante Richard.
O pior cenário de um ataque terrorista, segundo o oficial, seria um caso com o uso de qualquer arma química, bacteriológica ou nuclear. “O risco existe quando há um nível de ameaça e também há vulnerabilidade. Vamos evitar as ameaças e sanar as vulnerabilidades. Ninguém quer que ocorra. Mas se algo ocorrer, estamos preparados para isso”, diz.
Tahiane StocheroDo G1, em São Paulo
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