Os eleitores paraguaios irão às urnas neste domingo (21) para sua primeira eleição presidencial após o impeachment do presidente Fernando Lugo, que teve o mandato cassado em processo de menos de 36 horas em junho de 2012. Os cerca de 3,5 milhões de eleitores irão eleger não apenas o sucessor de Federico Franco, que assumiu a presidência
com a saída de Lugo, mas também renovar o Senado, Câmara dos Deputados, governos e assembleias regionais.
As eleições são feitas em turno único – o primeiro colocado ganha, independentemente do percentual de votos. Neste ano, os cidadãos paraguaios que moram na Argentina, Estados Unidos e Espanha também poderão votar. O voto é feito de forma manual, e apesar de obrigatório, o comparecimento dos eleitores não costuma passar de 40%. O novo presidente será empossado apenas em 15 de agosto, para um mandato de cinco anos.
Após a crise política que resultou na saída de Lugo no ano passado, as eleições paraguaias serão acompanhadas de perto por organismos sul-americanos – um grupo de trabalho da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) acompanhará o processo eleitoral.
Lugo, fora da política desde o impeachment, será candidato ao Senado, buscando ampliar a presença da esquerda na casa – ele apoia Anibal Carrillo, da Frente Guazu, em quarto lugar nas pesquisas, para a presidência.
A liderança tem sido de Horacio Cartes, do Partido Colorado, que tenta voltar ao poder. Os colorados governaram o Paraguai por mais de 60 anos, sendo tirados da presidência por Lugo em 2008.
Seu principal concorrente é o liberal Efrain Alegre, apoiado pelo atual presidente, Frederico Franco – que foi vice de Lugo e se afastou do ex-presidente na crise do ano passado, retirando seu apoio e tornando o impeachment possível.
Confira abaixo o perfil dos principais candidatos à presidência paraguaia:
PRINCIPAIS CANDIDATOS | |
---|---|
Horacio Cartes (Partido Colorado)
Vice: Juan Afara
Milionário de 56 anos, lidera as pesquisas eleitorais com cerca de 40% dos votos. Estudou nos Estados Unidos e é dono de um conglomerado de empresas que atuam principalmente no campo de cigarros, além de um time de futebol. É suspeito de envolvimento com o narcotráfico e contrabando, além de compra de apoio político. Esta é sua primeira candidatura. Foi apontado porFernando Lugo como possível mentor do processo que causou seu impeachment. Separado, tem três filhos.
| |
Efrain Alegre (Partido Liberal)
Vice: Rafael Filizzola
Segundo colocado nas pesquisas, ele é o candidato do atual presidente, Federico Franco. Advogado de 50 anos, é senador e foi ministro de Obras Públicas e Comunicações no governo de Fernando Lugo, mas se afastou durante o impeachment. Começou sua vida política na juventude do partido. Tem entre suas propostas tirar o Paraguai da pobreza e promover o crescimento sustentável. Tem o apoio da Unace, partido de Lino Oviedo, candidato morto em fevereiro. É casado e tem quatro filhos.
| |
Mario Ferreiro (aliança Avanza País)
Vice: Cynthia Brizuela
Jornalista de 53 anos, foi âncora de telejornais até sair para iniciar sua candidatura. É novo na política, sendo esta sua primeira eleição para um cargo público. Aparece em terceiro lugar nas pesquisas. Representa parte da esquerda, e defende a continuidade das reformas de Fernando Lugo – apesar disso, não é apoiado por ele. Já admitiu ter sido viciado em drogas e bebidas alcoolicas Tem entre suas propostas uma lei dos meios de comunicação semelhante a da Argentina. Tem cinco filhos.
| |
Anibal Carrillo (aliança Frente Guazu)
Vice: Rafael Lis Aguayo
Médico de 59 anos, é uma figura discreta que representa a outra parte da esquerda paraguaia. Quase desconhecido da população, é apoiado pelo ex-presidente Fernando Lugo, deposto em 2011. Atua há 40 anos em organizações políticas e lutou contra a ditadura paraguaia. Foi um dos porta-vozes de Lugo na campanha de 2008. Conta com a força do ex-presidente entre o eleitorado. Não descarta a expropriação como método de recuperação de terras e atendimento aos mais necessitados. Separado, tem sete filhos
|
Alianças recentes
Um quinto nome conhecido que aparecerá nas urnas é o de Lino Oviedo Sánchez, da Unace, sobrinho do general Lino Oviedo, então candidato do partido morto em um acidente de helicóptero em fevereiro de 2013. Apesar disso, o partido decidiu no início de abril apoiar Efrain Alegre, do Partido Liberal. O nome de Oviedo ainda estará disponível para o voto, pois não havia tempo hábil para retirar sua candidatura. Entretanto, ele e seu partido têm pedido votos para Alegre.
A estratégia foi feita para tentar evitar a volta do Partido Colorado ao poder. Durante reunião que celebrou o acordo, Raquel Marín, viúva do general Oviedo, disse que o apoio a Alegre era a única forma de não deixar Horacio Cartes vencer, segundo a imprensa paraguaia. Ela afirmou que o desejo de seu marido era que Cartes não fosse presidente. Enquanto ainda figurava nas pesquisas, Lino Oviedo tinha cerca de 10% dos votos – que ambos os partidos agora esperam reverter para Alegre.
Enquanto ainda figurava nas pesquisas, Lino Oviedo tinha cerca de 10% dos votos – que ambos os partidos agora esperam reverter para Alegre. “[A renúncia] é um grande gesto patriótico de um partido que colocou sua pátria em primeiro lugar”, disse Alegre após o apoio, segundo o jornal local ABC.
O apoio, entretanto, não sairia de graça – em caso de vitória, a Unace teria cargos importantes no governo. Segundo a imprensa paraguaia, Lino Oviedo Sánchez que teve sua candidatura abortada, receberia o Ministério da Defesa. Jorge Oviedo Matto, atualmente senador, poderia ir para o Ministério do Interior, e a deputada Fabiola Oviedo assumir o Ministério da Mulher.
Pesquisas e temor de fraude
As chances de vitória parecem estar concentradas entre Horácio Cartes e Efrain Alegre, os dois principais candidatos, que vêm trocando acusações. Alegre se apresenta como a solução para o Paraguai, enquanto acusa Cartes de representar as máfias, falsificação e contrabando. O candidato Colorado nega as acusações, e diz que se trata de uma “guerra suja”, segundo o jornal ABC.
Ao mesmo tempo, Cartes divulgou nos últimos dias supostas acusações sobre o desvio de milhões de dólares do Ministério de Obras Públicas enquanto Alegre foi ministro. Cartes também diz que o apoio da Unace ao liberal Alegre foi feito a compra de algumas terras por US$ 15 milhões pelo governo, de acordo com o jornal “Última Hora”
Na última pesquisa eleitoral, de 5 de abril, Cartes aparecia com 37,6% dos votos, contra 31,7% de Efrain Alegre, do Partido Liberal, segundo levantamento feito junto a 1.846 eleitores pela First Analysis and Research.
Em terceiro lugar com 10,9% de apoio dos eleitores está o apresentador de TV Mario Ferreiro, que lidera a coalizão Avanza Pais, de partidos de esquerda. A pesquisa tem uma margem de erro de 2,9% e foi feita antes do anúncio do apoio da Unace a Alegre.
Como a votação ainda é feita com urnas manuais, crescem os temores de fraude eleitoral – tanto pelos observadores internacionais quanto internamente, mesmo que as acusações sejam feitas muitas vezes como forma de manipulação política. Além da Unasul, a Organização dos Estados Americanos (OEA) também acompanhará a eleição.
Os resultados devem sair apenas a partir de terça-feira (23), caso não seja necessária a realização de recontagem.
Impeachment
O Paraguai é governado pelo Partido Liberal desde junho de 2012, quando o esquerdista Fernando Lugo saiu do poder em um processo de impeachment que durou 36 horas. A crise política foi motivada por um confronto armado em Curuguaty, 250 km a nordeste de Assunção, que causou a morte de trabalhadores sem-terra e de policiais durante a desocupação de uma fazenda.
Após o confronto armado na fazenda em Curuguaty no dia 15 de junho, os oposicionistas responsabilizaram Lugo pela morte das 17 pessoas. Em seguida, o Partido Liberal, do então vice Federico Franco, que apoiava o presidente, abandonou o governo e agravou a crise política no país.
O processo de impeachment aconteceu de forma extremamente rápida. Sua votação, na Câmara, aconteceu no dia 21 de junho, resultando na aprovação por 76 votos a 1. No dia 22, o processo foi julgado. Lugo não compareceu, e foi afastado da presidência do Paraguai pelo placar de 39 senadores contra 4, com 2 abstenções. Franco assumiu a presidência menos de duas horas depois.
O ex-bispo Fernando Lugo sempre teve problemas para governar o país, sem maioria na Câmara e no Senado. Ele foi eleito em 2008 foi eleito por uma frente de partidos de oposição que se uniu contra o tradicional Partido Colorado, no poder havia mais de 60 anos. Mas a aliança que se ofereceu como alternativa ao país logo se desfez, enfraquecendo a base política do presidente.
As eleições deste domingo já estavam previstas mesmo antes do impeachment. O processo feito em tempo recorde prejudicou a imagem política do Paraguai no exterior. Por isso, o bom andamento das eleições é essencial para que o país recupera sua posição internacional.
As eleições devem abrir caminho para a volta do Paraguai ao Mercosul – o país foi suspenso em junho do ano passado, após o impeachment. Na época, ficou acertado que a suspensão – que não envolveu sanções econômicas – seria temporária, até as novas eleições. O impeachment foi condenado pelos países sul-americanos.
Junto com a suspensão do Paraguai, foi feita a admissão da Venezuela. O processo de ingresso da Venezuela havia se iniciado em 2006, após ser solicitado um ano antes, mas estava parado por conta da negativa do Congresso do Paraguai a ratificá-lo.
Por isso, a volta do Paraguai e a existência dos dois países ao mesmo tempo no Mercosul é esperada com cautela. Entretanto, em entrevista no dia 4 de abril, o presidente Federico Franco disse que o Paraguai “não tem problema” em conviver no Mercosul com a Venezuela, embora antes tenha entregado ao bloco regional documentos que, segundo ele, provam que Hugo Chávez apoiou um grupo armado em seu país.
“Nós não temos problema. O maior inconveniente nosso é que temos que falar de forma clara, transparente, com os documentos que temos e os benefícios que vamos ter”, disse Franco em entrevista coletiva, segundo a agência EFE.
O líder considerou, além disso, que o Mercosul “deve ser refundado”, porque “o político prevalece sobre o jurídico” e continua havendo um “grande desequilíbrio” na participação dos países. Entretanto, disse que a intenção do Paraguai é “vender seus produtos a qualquer país que ofereça os melhores preços e as melhores condições”, afirmou, incluindo a Venezuela, se for o caso.
Do G1, em São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário