Se o carnaval de rua e da Marquês de Sapucaí só agitam as ruas com mais intensidade em fevereiro e março, os consultórios de cirurgia plástica já começam a "bombar" três meses antes. Em busca do corpo perfeito às vésperas dos desfiles, a procura por mudanças estéticas crescem 30% a partir de dezembro, segundo o Centro Nacional de Cirurgia Plástica, sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro. Para o cirurgião carioca Luiz Felipe Reis o aumento é ainda maior,
principalmente em janeiro. Só os implantes de silicone nos seios em seu consultório na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, chegaram a saltar 40%.
"O carnaval e o verão são marcos para qualquer carioca, o famoso 'projeto carnaval'. As brasileiras valorizam muito o contorno glúteo e há um aumento muito grande na procura [por próteses no bumbum]. Antigamente, eram três por ano. Hoje, são três por mês. Já as próteses de seios, só consultando os arquivos. São dezenas, aumentaram mais de 40% em relação ao resto do ano. A agenda fica completamente lotada", garante o cirurgião.
A dentista Rachel Crokidakis foi uma das pacientes. Depois de encontrar o médico justamente em um bloco de carnaval no Leblon, em 2013, ela decidiu transformar o corpo. "Eu malhava, mas, como perdi peso, era muito reta. Faltava alguma coisa. No carnaval, todo mundo fica mais exposto porque é quente. Então falei: 'não dá' e me decidi", disse a jovem de 27 anos.
Além da obsessão por causa do feriado, o aumento está associado ao recebimento do 13º salário e das férias, já que o tempo de recuperação do pós-operatório pode ser de até 30 dias, como explica o diretor do Centro Nacional de Cirurgia Plástica, Arnaldo Korn. "As férias de dezembro e janeiro são importantes, pois os pacientes aproveitam este tempo para se recuperar", diz o diretor do Centro, que costuma intermediar a relação entre o paciente e o médico.
Justamente por isso, a advogada Brena Eyer Matesco aproveitou o final do ano para poder fazer a cirurgia em uma clínica em São Conrado. Trabalhando na área de festas e eventos, aproveitou para se recuperar da cirurgia em novembro e voltar com tudo ao batente em dezembro — época mais movimentada do ano. Mas, claro, sem perder a estação mais quente do ano. "Queria aproveitar para estar assim no verão. Mudou minha vida completamente, estou muito mais feliz. Sou apaixonada por praia", disse ela.
Preocupada com as possíveis dores e as consequências da intervenção estética, a mineira Keli Barreto cancelou a viagem que já estava marcada para a Europa. "O médico me sugeriu: 'por que você não faz antes de viajar?' Então juntei os dois. Vou me preparar para o carnaval e ficar com o corpo bonito", contou a estudante de direito de 36 anos.
O investimento custa alguns milhares de reais, mas o "quanto" é considerado um tabu pelos cirurgiões. Mesmo assim, a procura é grande. Os médicos, aliás, precisam ter cuidados para não realizar implantes "impossíveis". "Às vezes a paciente deposita uma expectativa na cirurgia que o médico não pode curar: a perda de um marido, o término de um relacionamento, algum problema focal da vida", resume Kom.
Maridos aprovam cirurgia, mas têm ciúme
Um dia depois do outro, as amigas Jacqueline Apecuita, de 34 anos, e Simone Torreão, de 40, também foram para a tesoura. O resultado, segundo elas, foi o melhor possível. "É claro que não vou sair pelada em escola de samba, mas nós queríamos ficar bem com nós mesmas e com as outras mulheres — porque mulher se arruma mais para as outras", disse Jacqueline, com o aval da amiga. "O problema é que agora a gente quer colocar um biquininho e o marido fica com ciúme", lembrou, aos risos.
Gabriel BarreiraDo G1 Rio
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