Reportagem do Fantástico exibida neste domingo (20) revela ameaças de integrantes de uma facção criminosa que age dentro e fora dos presídios paulistas contra policiais, agentes penitenciários e ex-integrantes da facção. Em um dos diálogos, um dos líderes revela a intenção de aliar-se com criminosos do Rio de Janeiro para impedir a realização da Copa do Mundo de 2014.
Investigação realizada durante três anos pelo Ministério Público Estadual denunciou 175 pessoas suspeitas. A Justiça negou os pedidos de prisão imediata. O caso deve ser reavaliado por um colegiado de desembargadores. Na próxima semana, o Tribunal de Justiça de São Paulo deverá decidir se 35 presos apontados como chefes da facção devem ser transferidos para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).
O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Márcio Elias Rosa, disse que a investigação conduzida pelo Ministério Público Estadual contra a facção que age dentro e fora dos presídios mostra que o estado tem capacidade de reagir.
“O Estado e a sociedade não estão reféns do crime organizado. Esta investigação demonstra que o Estado tem a capacidade de reagir, e a qualquer momento, seremos também capazes desarticular de maneira sistemática toda a organização criminosa", afirmou.
Ao comentar a ameaça contra a Copa, o secretário da Segurança Pública, Fernando Grella, afirmou que não há motivo para alarmismo. “Não há motivo para alarmismo porque até agora não há nenhum elemento concreto que indique a existência de um plano real", afirmou.
Escutas realizadas com autorização da justiça mostram um preso fazendo ameaças: "Aquele que vier a mexer com a nossa família terá sua família exterminada. Vida se paga com vida e sangue se paga com sangue."
Todos os criminosos ligados à facção são obrigados a seguir um estatuto, escrito em 2011, com regras bem definidas e repassadas por celular. Quem descumpre esse estatuto paga com a vida.
O estatuto diz: "O preço da traição é a morte e que toda missão destinada deve ser concluída.”
Tiriça
Segundo as investigações, o estatuto da quadrilha foi elaborado por Roberto Soriano, 36 anos, o Tiriça. Em novembro de 2012, Tiriça foi transferido para o presídio federal de Porto Velho. Em Rondônia, não parou de fazer ameaças.
Em um telefonema com um comparsa, ele fala que tem uma carta na manga para 2014, que só vai ter a Copa do Mundo de futebol no Brasil se os bandidos quiserem; e que, se fosse preciso, contaria com ajuda de quadrilhas do Rio de Janeiro.
O estatuto da facção paulista menciona esse tipo de parceria criminosa. "O crime fortalecer o crime. Esta é a ideologia."
Também está no estatuto: agentes penitenciários e policiais são inimigos. As escutas revelam o diálogo entre dois presos:
Homem 1: “Já mandei matar uns 5 ( policiais ) que eu sei que tem na quebrada.”
Homem 2: “Pegar mãe, pega tudo, truta. Pega filho, pega todos.”
Na denúncia do Ministério Público consta que, em 2009, os criminosos mataram a tiros o agente Denilson Jerônimo. O assassinato foi em frente à casa dele, em Álvares Machado, interior de São Paulo. Denílson trabalhava na Penitenciária de Presidente Bernardes, onde é aplicado o RDD.
Veja o que aconteceu depois do assassinto do agente. Um ex-integrante da quadrilha revelou à polícia quem cometeu o crime. Em represália, a mulher do delator - chamado de "cagueta" pelos bandidos - foi morta dentro de casa, em 2010.
Ele prometeu se vingar. A quadrilha mandou o seguinte recado.
“Fala pra esse cara que é o seguinte: se ele ficar com essa palhaçada, nós vai derreter a familia dele inteirinha.”
O Ministério Público também investigou a recente onda de ataques contra policiais.
Entre julho e dezembro do ano passado, 48 PMs foram assassinados em São Paulo.
Salve
Foi confirmado que existia um "salve", ou seja, uma ordem para matar.
“Se for executado um irmão, será executado dois policiais. Esta determinação deve ser acatada por toda irmandade, de todas as regiões."
O cabo da Força Aérea Luiz Henrique Pereira, 31 anos, foi morto em Campinas, com 29 tiros de fuzil. Ele estava à paisana, em uma pizzaria.
A promotoria suspeita que Luiz foi confundido com um PM. Segundo a investigação, escutas telefônicas mostram os bandidos falando tranquilamente sobre o assassinato, uma hora depois. “Alugar casa" significa matar policial.
Homem 1: “Foi agora de pouco que nóis alugou a casa, lá.”
Homem 2 : “Tá bom, então, irmão. É nóis, parça.”
A família do cabo da Aeronáutica preferiu não gravar entrevista. A mulher dele disse apenas que, 20 dias depois da morte do marido, nasceu o segundo filho do casal e que é muito triste ver as crianças crescerem sem o pai.
Do G1 São Paulo, com informações do Fantástico
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