Uma apresentadora de TV de Cascavel, no oeste do Paraná, teve de abandonar o programa que comandava há 32 anos por causa de uma cirurgia plástica realizada há seis meses em uma clínica particular. Edileusa Fabrini, de 65 anos, considerada a "Rainha dos Caminhoneiros", teve o rosto desfigurado devido ao procedimento. “Não tem dinheiro que pague o meu sorriso. É igual uma vida. Que dinheiro paga uma vida?”, questiona.
Emocionada, no último programa, exibido em setembro, ela contou como ocorreu o procedimento
cirúrgico e que estava abandonado o programa, além dos shows que realizava em todo o Brasil, principalmente no sudoeste do Paraná “Eu pensava em chegar toda linda e maravilhosa. Eu queria me mostrar mais bonita porque, hoje, com a TV digital, eu tinha esse direito. Todo mundo gosta de ficar bonita”, disse.
Edileuza lembra com muita emoção a decisão de fazer a cirurgia no rosto, que, segundo ela, partiu do próprio médico. “Eu falei que queria apenas fazer uma cirurgia no seio. Mas o médico olhou para mim e disse: ‘qual sua profissão?' Falei para ele que era apresentadora e ele disse: ‘Não, então vamos fazer uma plástica. A senhora vai ficar muito linda. Porque a senhora está muito velha, a senhora está muito envelhecida, a senhora está velha demais, está acabada. O seio não tem problema’. Ele ficou tão encantado em fazer o meu rosto que a impressão que dava é que eu ia ficar muito bonita”, acrescentou.
Segundo ela, com o apoio da família, mas ainda receosa em fazer a cirurgia, decidiu por fazer, já que “ficaria mais bonita para aparecer na TV”. No dia da cirurgia, porém, a apresentadora lembra que percebeu que algo tinha ocorrido errado. “Eu ouvia os médicos e enfermeiros falando 'volta Edileuza, volta Edileuza'. Eu escutava o desespero do pessoal e não conseguia fazer nada”, disse.
Após 12 horas, a paciente foi levada para o quarto. Mas sentia muitas dores. “Aquela noite eu não dormi. Gritei a noite inteira. (...) Todas as enfermeiras viram que eu estava muito mal e me aplicaram injeção na veia a noite inteira”, lembrou. Ela conta ainda que o médico que a operou só foi vê-la no dia seguinte e afirmou que as dores eram “normais”. “Eu falei para ele que não tinha dormido a noite inteira de dor e ele disse que era normal. Depois me mandou embora”, garantiu.
O maior ressentimento de Edileuza, conta ela, é o médico ter dado alta, embora soubesse que estava sentindo muitas dores. “Ele deveria ter me segurado no hospital, ter me colocado numa UTI, ter pegado a equipe do hospital, ter pegado um neurocirurgião, feito uma eletromiografia e já ia ver os nervos lesados”, completou.
Já em casa, ela lembra que só chorava. “Eu não enxergava, nos primeiros dias, eu tinha dores demais. Tudo o que eu comia caia da boca. Aliás, até hoje eu não posso comer perto dos outros. E eu também não sinto o sabor. O cheiro, também, eu só sinto se for muito forte”, complementa.
O programa
O programa, que era voltado para o público de caminheiros, era exibido em uma TV fechada e uma TV de canal aberto. Ela lembra com carinho todos os anos que trabalhou com comunicação e afirma estar muito triste por ter de abandonar o que tanto gostava de fazer. “O meu sentimento é de muito sofrimento, de muita tristeza. Ter me tirado do ar, sabia, foi a maior tristeza do mundo. Eu não merecia ter saído do ar por um médico. Eu fiz a operação porque ele falou que eu ia ficar bonita. Eu achei que fosse ficar mais uns dez anos ainda no ar. Eu queria trabalhar na TV até, pelo menos, meus 75 anos”, conta emocionada. Além da apresentação do programa, Edileuza também era conhecida por ser responsável pela “Caravana Lobo na Estrada”, onde organizava shows.
Além de todos os anos como apresentadora, ela conta que a dor é ainda maior, pois o programa foi pensado para homenagear o marido, já morto, e que era caminhoneiro. “Esse programa representa a minha vida, porque o meu marido era caminhoneiro. Quando eu estava esperando bebê, eu viajava com ele. Ainda bem que eu fiz esse programa como homenagem para ele antes dele morrer”, complementou.
Justiça
O nome do médico que realizou a operação não foi revelado pela apresentadora por questões éticas. Mesmo assim, ela diz que processou o médico. Ela apenas afirmou se tratar de um profissional que está no começo da carreira e que é do nordeste do país. “Ele estragou a minha profissão, mas eu não quero estragar a dele”. disse. No entanto, Edileusa afirmou ao G1 que se a “justiça não for feita”, terá de dizer. “Eu estou salvando a pele dele, mas se eu quiser falar, eu posso falar”.
Ciente de que o processo que moveu contra o médico deve demorar para sair, Fabrini pede para que, pelo menos, os juízes lhe concedam uma “ação de alimentação”. “Essa ação vai demorar. Quando eu for ganhar essa ação, talvez eu já tenha morrido. Os juízes poderiam ver isso. Eu não posso trabalhar. Estou fraca demais. Perdi 14 kg. A cada 15 dias, estou no hospital tomando vitamina e injeção para dor”, conta.
Apesar de todo o sofrimento que ainda passa, ela garante que está se sentindo muito amada e amparada pela família, amigos e pelos fãs que os acompanham.
Cassiane SeghattiDo G1 PR, em Cascavel
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