Altas, magras e de biquínis cor de rosa, elas se dizem prontas para acabar de vez com o preconceito e marginalização que travestis e transexuais sofrem na sociedade. Dispostas a ganhar a coroa de miss e o prêmio de uma cirurgia plástica, que pode ser o procedimento de mudança de sexo, 28 candidatas participam na segunda-feira (21) da 2ª edição do Miss T, no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro.
A maioria das candidatas trabalha no mercado de beleza, como modelos, cabeleireiras e
maquiadoras. Mas, se engana, completamente, quem pensa que elas se restringem apenas a essa área. Há vendedora, editora de vídeo, psicóloga, estudantes e agente de saúde na passarela.
Nathalie Oliveira, representante do Rio de Janeiro, foi primeira colocada no concurso público para agente de saúde na cidade onde mora, Bom Jardim, na Região Serrana. Há um ano na função, ela não pensa em largar a profissão.
"A estabilidade é muito grande e foi uma grande conquista. Já tenho planos para 2014, quando poderei, finalmente, começar uma faculdade e conciliar com o emprego público. Nunca participei de nenhum concurso de beleza e estou apenas curtindo o momento", disse a jovem, de 19 anos.
Modelo transexual
Organizado pela Associação das Travestis e Transexuais do Estado do Rio de Janeiro, Astra-Rio, o concurso visa abrir as portas e os olhos da sociedade para a causa dos transexuais. Muitas não divulgam a verdadeira identidade em seu dia a dia. É o caso da modelo Felipa Tavares, de 27 anos. Única modelo transexual da famosa agência 40º Models, de Sérgio Mattos, descobridor de Gisele Bündchen, ela não contou durante um curso qual era seu verdadeiro nome.
"O Sérgio Mattos só foi descobrir realmente quem eu era quando foi entregar o meu diploma e viu que o nome era de homem. Ele já tinha me convidado para fazer parte do casting, mas quando soube a verdade, só bateu o martelo: você vai ser a primeira modelo transexual da minha agência", lembra a mineira.
Com 10 estados na disputa, o caminho até a seleção foi longo para muitas. As mineiras são maioria, com seis ao todo, seguidas por representantes do Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Paraíba, Alagoas, Santa Catarina, Ceará, Rio Grande do Norte e Maranhão são representados por apenas uma candidata cada.
Rifa para viajar ao Rio de Janeiro
Dávila Medeiros, representante do Rio Grande do Norte, de 26 anos, conhece bem o longo caminho que teve que percorrer até chegar ao concurso. Além de vencer o preconceito de algumas cidades do interior, foi necessário vender uma rifa para alcançar seu objetivo. O dinheiro arrecadado custeou a viagem até o Rio de Janeiro.
"Meu sonho é ser miss e fazer a feminilização facial - cirurgia que visa suavizar o aspecto do rosto e torná-lo mais feminino. Ganhar o concurso realizaria meus maiores sonhos de uma só vez", conta a determinada maquiadora.
A organização do Miss T Brasil se responsabiliza apenas por acomodações e refeições em um hotel no Centro do Rio durante todo evento. As candidatas tiveram que arcar com as passagens, além da taxa de inscrição de R$300. A premiação consiste no contrato de um ano com Astra-Rio; pagamento da taxa de inscrição de US$ 500 para participar do Miss International Queen 2014 - equivale ao Miss Universo para transexuais, e o pagamento da passagem para a Tailândia, assim como consultoria preparatória e confecção do traje típico a ser cedido no evento.
Tema delicado para algumas, o concurso também pode dar a oportunidade, para as que desejam, de fazer a cirurgia de redesignação sexual - procedimento cirúrgico que muda a aparência física e características sexuais para o sexo oposto. Entre os prêmios, as três primeiras colocadas ganharão um voucher da Kamol Cosmetics Hospital, famoso hospital tailandês para tais procedimentos.
Flávia RodriguesDo G1 Rio
Nenhum comentário:
Postar um comentário