Tão logo teve a confirmação de seus advogados de que não era mais jogador do Flamengo, Ronaldinho Gaúcho reuniu as pessoas mais próximas em sua mansão na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Após um rápido lanche e um papo com a família, o jogador recebeu a reportagem do UOL Esporte e concedeu uma entrevista, publicada ainda na noite de quinta-feira. Em cerca de 20 minutos de conversa,
o olho marejado não escondeu a mágoa com a diretoria do Fla, mas a pressão de Assis, seu irmão e empresário, foi mais forte e evitou que o craque entrasse em polêmicas. Há oito meses sem conceder uma entrevista - com exceção das rápidas declarações na saída de campo em dias de jogos -, o Gaúcho respirava fundo a cada pergunta e deixava claro que tinha algo para desabafar. Entre um suspiro e outro do jogador, Assis interrompia e pedia para que os problemas antigos fossem esquecidos. O irmão mais novo apenas acatava a ordem e seguia um roteiro previamente estabelecido.
Fla melhor que Barcelona
No primeiro ato, uma exaltação ao Flamengo. Na tentativa de minimizar os aborrecimentos com atrasos de salário e outras polêmicas fora de campo, Ronaldinho exaltava a torcida e dizia que a passagem pelo rubro-negro carioca superava até mesmo os anos que esteve no Barcelona. O auge da carreira, com inúmeros títulos e onde foi consagrado o melhor do mundo, era um mero detalhe diante da necessidade de evitar o confronto com o time carioca.
"Posso dizer que minha passagem no Flamengo foi melhor até que a do Barcelona. Nunca tinha ficado sete meses sem perder, como aconteceu aqui no Rio. Isso sem falar do calor humano da torcida que sempre foi maravilhosa", avaliou o craque, lembrando da série invicta em 2011 e passando por cima das crises e vaias de 2012.
Os elogios ao clube agradavam Assis, mas incomodavam alguns membros do staff. Um responsável da área de marketing chegou a defender um "ataque" ao Rubro-negro. "Os caras estão falando de você, temos que responder. Não cite os torcedores, mande um recado apenas para os seus fãs. Deixe o Flamengo de lado", disse um mais exaltado, antes de ser duramente repreendido pelo irmão e empresário de Ronaldinho.
Advogada irritada
Assis tentava manter a calma no ambiente, mas a irritação com o episódio da saída do Flamengo era clara. Aos berros no telefone, a advogada do jogador, Gislaine Nunes, gritava para quem quisesse ouvir. "Deixa essa diretoria do Flamengo comigo. Estão dizendo que vão recorrer? Coitados. Essa guerra vai ser engraçada. Depois de mandar recado para o Coutinho [Paulo César, vice de futebol], vou ter que mandar para a Patricia [Amorim]", bradou.
"Deixe-me ir embora antes que eu fale demais. Estou muito irritada. Não aceito essa covardia que estão fazendo com o Ronaldo. O jogador fica sem receber e ainda está errado? Faça-me o favor", disse, antes de se despedir de Assis e de dar um forte abraço em seu "bebê", como costuma chamar o craque dentuço.
Quieto e sem qualquer reação diante das situações, Ronaldinho só esboçou um movimento na hora de falar da mãe. Sentado à mesa da sala, ele olhou para trás, viu a foto na estante e voltou a se emocionar. Ainda que com poucas palavras, o camisa 10 deixou claro que Dona Miguelina seria sua prioridade a partir daquele momento.
Além das seguidas intervenções na entrevista, Assis decretou o fim da conversa quando as questãos mais delicadas começaram a ser abordadas. "Está bom. O Ronaldo já falou bastante", encerrou o polêmico tutor do craque.
Com um sorriso amarelado, Ronaldinho se calou novamente. A indecisão sobre o que fazer no momento era um resumo do que estar por vir. Ainda "perdido" com os fatos, o camisa 10 irá se dedicar à recuperação da mãe, que realizou cirurgia para a retirada de um tumor, enquanto o irmão define seus próximos passos.
Pedro Ivo Almeida
Do UOL, no Rio de Janeiro
Do UOL, no Rio de Janeiro
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