segunda-feira, 13 de maio de 2013

Polícia paulista cria o primeiro cadastro de pedófilos do Brasil


A Polícia Civil de São Paulo está formando um banco de dados inédito de todos os pedófilos do Estado. O trabalho é feito pela 4ª Delegacia de Repressão à Pedofilia, única no Brasil especializada nesse tipo de crime.
Desconhecida do público, a delegacia foi criada em novembro de 2011 e desde
então tem cadastrado foto, nome, cor de pele, idade e histórico de crimes dos pedófilos.
Segundo a delegacia, 40% desses criminosos têm entre 18 e 40 anos, 25% estão acima dos 40 e 35% têm até 17 anos.
O número de pedófilos com parentesco com a vítima chega a 40%. Dos outros 60%, grande parte tem alguma relação com a família da vítima ou são amigos ou vizinhos, segundo a delegada-assistente Ana Paula Rodrigues, 38.
A delegacia não foi autorizada a informar o número total de pedófilos cadastrados. Das vítimas, 80% são meninas, e 60% tem de 7 a 13 anos.
O sobrinho de dez anos da auxiliar de enfermagem Yneida Brito sofreu frequentes abusos de um vizinho, amigo da família. "Ele falou para o menino: 'Vamos lá na minha casa. Tem uma bola de capotão super legal'. Ao chegar lá, fechou a porta, amarrou o menino e o estuprou", disse a tia.
Os abusos foram tantos que a criança, hoje aos 12, teve uma disfunção anorretal e, desde então, usa fraldas.
A tia descobriu que as mudanças de comportamento no sobrinho tinham relação com algum tipo de abuso porque ela também foi abusada aos 9 anos. "Voltando da escola, eu fui tomar algo numa lanchonete de um conhecido da família. Ele disse entra, abaixou a porta da lanchonete e abusou de mim". Yneida só conseguiu contar para mãe o que tinha sofrido aos 22 anos.
Em 2011, foram 2.814 denúncias de abuso sexual contra crianças e adolescentes no Estado. No ano passado, chegaram a 3.117, um aumento de 10%, segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. No Brasil, o aumento foi de 20%.
A delegacia de pedofilia alerta: os pedófilos estão se proliferando pela internet.
CASO CHOCANTE
A delegada conta que o caso mais chocante que já investigou foi o de uma menina de 6 anos que vivia com a família em um cômodo pequeno. "Mãe, filha e padrasto dormiam na mesma cama e nessa cama ele abusava da menina, com o consentimento da mãe."
A menina só conseguiu falar dos abusos quando encaminhada à brinquedoteca da delegacia. "Ela pediu para que todas as luzes fossem apagadas porque assim ela tinha a sensação de que ninguém ouviria o que ela tinha para relatar", diz a delegada.
O homem foi preso, a criança, encaminhada ao Conselho Tutelar, e a mãe desapareceu.
O crime de pedofilia é punido com reclusão de oito a 15 anos. Praticar o crime pela internet tem pena de três a seis anos de reclusão.

ADRIANA FARIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA / Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

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