O jovem baiano de 23 anos, que pesa 280 quilos e tem 1, 60 m de altura, portador daSíndrome Prader-Willi, que gera apetite excessivo, deverá passar por uma cirurgia bariátrica para reduzir o estômago em seis meses, segundo informou Osmário Salles, chefe do setor de endocrinologia do Hospital Geral Roberto Santos, onde o paciente está internado.
Salles explicou ao G1, nesta sexta-feira (30), como deverá acontecer procedimento, que é de alto risco, por conta do estado grave de saúde de Francisco Araújo Júnior.
"O paciente tem 280 quilos, já chegou com infecção respiratória, infecção de pele. Nós estamos tratando essas infecções. No tratamento vai ser colocado um balão intragástrico. Esses pacientes desenvolvem muita dilatação gástrica, mas não tem jeito. Vamos tentar colocar o balão e esse paciente vai ficar seis meses com ele. É o tempo que a gente vai tratando ele clinicamente. Após seis meses, perdendo peso, nós vamos fazer a cirurgia bariátrica, que também nessa situação é extremamente grave. Há pouca experiência e a mortalidade é muito grande da cirurgia bariátrica nesse tipo de paciente [obeso]", relatou o médico.
Segundo Salles, a síndrome que Francisco Júnior possui é rara e pode ser identificada enquanto o feto ainda está na barriga da mãe. "Os obesos tem uma causa endócrina ou uma causa genética para a sua obesidade. O nosso paciente tem a principal síndrome da obesidade associado à genética. Se fizer o ultrassom, são aqueles fetos com pezinho pequeno, mãozinha pequena. Quando nasce, é uma criança extremamente hipotônica, com fraqueza, com dificuldade em sugar o seio da mãe", explicou.
Entre os dois e três anos, a criança começa a apresentar apetite excessivo por conta da doença e passa a engordar de maneira acelerada. "Elas não param de comer. Além disso, ela tem uma fraqueza muscular intensa. Essas crianças desenvolvem atrofia muscular muito grande, osteoporose, má formação esquelética, baixo QI [quociente de inteligência]. Esses pacientes dificilmente passam dos 40 anos", apontou.
Francisco Júnior tem estado todo o tempo no hospital deitado em um dos leitos da unidade e conta com a ajuda de seis funcionários para passar pelo procedimento de higienização, de acordo informou Osmário Salles. As pessoas com esse quadro dificilmente conseguem ter uma vida normal, informou o médico.
"Não pode engordar, porque depois que engordar é extremamente difícil fazer perder peso. A obesidade é considerada a doença mais difícil da medicina. É a doença que mais mata. É um problema muito sério, associado a problemas cardiovasculares. O sistema de saúde e o governo deveriam intervir de forma mais pesada porque nós temos uma epidemia no mundo", avaliou.
A condução do tratamento de Francisco Júnior é complicada para o próprio hospital. "Nós estamos em situação extremamente difícil. É aquela situação em que, se a gente fizer nada, ele vai morrer. Se a gente tentar fazer as coisas, a chance de óbito também é grande", disse.
Transferência
Francisco Araújo chegou no Hospital Geral Roberto Santos no início da tarde de quinta-feira (22), após ser transferido do Hospital Regional de Serrinha, no interior da Bahia. Para deixar a unidade em Serrinha, foi preciso a ajuda de 12 pessoas para colocá-lo em uma UTI móvel disponibilizada pela Secretaria de Saúde do Estado (Sesab). Ao chegar no hospital da capital baiana, cerca de 15 maqueiros da unidade fizeram a retirada do paciente da ambulância.
A possibilidade de transferir o jovem de helicóptero foi levantada, porém cancelada por conta do peso dele.
Muito emocionada na chegada a Salvador, a mãe do jovem, Maria Aurizete, disse que agora tem esperança que o sofrimento do filho acabe. "No meu interior não tinha como [fazer o tratamento]. Minha esperança é ele não continuar sofrendo até chegar a óbito", afirmou.
Francisco Júnior estava internado no Hospital Regional de Serrinha desde o dia 11 de novembro. Ele sofre com a obesidade desde a infância, mas segundo a família, nos últimos anos a situação piorou.
A história
A mãe de Francisco, Maria Aurizete, conta que ele começou a engordar aos nove anos de idade. "Até aí era tudo normal. Ele começou a engordar como todas as crianças, mas aos 12 anos ele já era muito gordo, muito mais do que os colegas. Eu achei tudo isso estranho porque quando pequenino ele era muito magrinho, ninguém nem esperava vida nele. Ele não tinha força nem para puxar o leite", disse.
De acordo com a mãe, o jovem já ficou internado por cinco anos em Salvador. "Aos 16 anos ele fraturou a perna direita, fez cirurgia e depois disso ele parou de mexer a perna. Ele anda de cadeira de rodas, mas é muito difícil sair com ele porque onde eu moro a rua não é asfaltada, então eu não tenho como sair", revelou.
A mãe conta que não tem condições financeiras para pagar o tratamento adequado para o filho. "Eu nunca abandonei ele. Eu não tenho dinheiro para poder arcar com esse tratamento. Eu vendo roupa que minha irmã faz. Eu recebo um auxílio porque minha outra filha tem problemas, ela tem depressão, mas eu não tenho dinheiro para comprar remédios e o município não dá", afirmou.
Ruan Melo e Rafaela RibeiroDo G1 BA
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