É difícil para a maioria da diretoria palmeirense eleger apenas um culpado ou um fato isolado na trágica campanha do time no Brasileirão de 2012. Os bastidores da queda alviverde, na realidade, formam um caótico cenário representado por três questões incômodas: a falta de sintonia entre o ex-técnico Felipe Scolari e elenco, a pressão da torcida sobre atletas
considerados baladeiros e o presidente Arnaldo Tirone, perdido em meio ao tiroteio político que tradicionalmente domina o Palmeiras.
As primeiras faíscas começaram a aparecer logo no Campeonato Paulista de 2012, quando o time foi eliminado pelo Guarani. A partir dali, Luiz Felipe Scolari passou a ser duramente contestado por boa parte do Conselho Deliberativo. Tirone, por outro lado, absolveu Scolari e o manteve no comando do time.
A irredutível opinião de Tirone surtiu efeito e o Palmeiras, sob o comando de Scolari, conquistou no dia 11 de julho o título da Copa do Brasil de maneira invicta e garantia a vaga na Libertadores de 2013. A partir do dia 15 de julho, o Palmeiras passou a se concentrar exclusivamente no Brasileirão e dava a impressão de que conseguiria escapar com facilidade da zona de rebaixamento, onde se encontrava com apenas uma vitória em nove jogos. Um empate com o São Paulo, especialmente por ainda estar com um atleta a menos, pareceu ser significativo e dava sinais de que o clube estava no caminho correto.
O otimismo durou pouco tempo. Na 13ª rodada, o Palmeiras ainda patinava no Brasileirão e elegeu a arbitragem como a principal responsável pelo mau momento. Na penúltima rodada do primeiro turno, em confronto direto contra a degola, mais uma derrota que “tirava” seis pontos. O Atlético-GO venceu com pífia atuação da zaga palmeirense. Duas rodadas à frente, o desespero passou a tomar conta do time paulista. A derrota, aliás, passou a ser simbólica para os mais pessimistas: 3 a 0 para a Portuguesa.
O fim da era Scolari
Luiz Felipe Scolari deixou o gramado dizendo que não sabia mais como mexer na sua equipe para uma motivação. Naquela altura, a diferença para sair da zona de rebaixamento era de quatro pontos. A tarefa parecia fácil, mas aí começaram os problemas de vestiário.
À procura de motivação para seu elenco, Felipão passou a usar seu staff para municiar a imprensa de problemas internos e estimular os torcedores para ficar "mais no pé" dos jogaodres. O artifício, corriqueiramente utlizado pelo treinador, funcionou na sua primeira passagem pelo Palmeiras, quando foi supercampeão à frente do time.
A diferença desta vez foi que o grupo elegeu um culpado para os vazamentos: Acaz Fellegger. O assessor de Felipão negou veementemente que mantinha ligações com jornalistas para abastecer, mas derrapou ao usar sua conta na rede social. O jornalista repassou a mensagem no seu Twitter que Maikon Leite e Daniel Carvalho estavam fazendo corpo mole. Os dois jogadores pareciam incomodar Felipão, que não s incomodava em afirmar que queria atletas que entregassem a alma pelo time.
A desconfiança, então, passou a reinar no vestiário e o clima parecia irreversível. Não houve movimento para a derrubada de Felipão, mas ela era iminente com a caça ao dedo-duro. O treinador ainda ameaçou revelar o “cagueta”, mas preferiu calar-se e perdeu a chance de reconquistar a liderança do grupo.
Na 24ª e 25ª rodada, mais dois tropeços para Atlético-MG e Vasco. Mais uma vez, Felipão repetiu que não sabia o que fazer e acabou pedindo para sair de comum acordo. Mesmo assim, a diretoria pagou multa recisória ao ex-comandante.
A aposta foi em Gilson Kleina. O treinador trouxe um ambiente de confiança para o elenco e já viu seus jogadores reagirem positivamente em uma vitória por 3 a 1 em cima do Figueirense fora de casa. A confiança no vestiário aumentou e o Palmeiras novamente dava pistas de que tinha reecontrado o caminho correto.
A paz de Kleina evapora
Em seguida, mais uma vitória diante da Ponte Preta e um novo tropeço para o rival São Paulo, por 3 a 0. Kleina afirmou que errou na escalação do time. Para piorar a situção, depois do baile são-paulino no Morumbi, mais uma derrota que foi muito sentida pelo elenco: 1 a 0 para o Coritiba.
Ali, sinais de desespero começavam a aparecer em jogadores. O lateral esquerdo Juninho, visivelmente nervoso com o ambiente, não conseguia mais trocar passes. João Vítor já não era mais considerado opção por medo de ameaças.
A torcida ainda piorou a situação ao invadir o hotel em Recife, quando o time se concentrava para enfrentar o Náutico. Por volta das 12h de um domingo, dia 14 de outubro, cerca de 25 torcedores organizados invadem o saguão do local e, por sorte, não encontra os jogadores, que já haviam almoçado. Kleina e o gerente de futebol César Sampaio foram recepcionar os mais revoltados.
Torcida perde o controle
A conversa foi tensa com direito até a dedo em riste. Kleina emitiu voz de comando e pediu para que a conversa fosse em um tom amigável após tomar uma dedada no ombro. “Calma aí, parceiro. Aqui não tem moleque”, disse o comandante a um organizado.
O diálogo continuou e os palmeirenses pediram a cabeça de Thiago Heleno, Leandro Amaro, Betinho e Maikon Leite. Segundo eles, os atletas eram baladeiros e não conseguiam parar de ingerir bebidas alcoólicas. Os torcedores da Mancha, aliás, tinham uma suposta lista com dias e horários que cada um havia ido a casas noturnas. Por deficiência técnica, eles ainda queriam a cabeça de Bruno e, em contrapartida, elogiaram a coragem de Kleina em promover João Denoni e, mais tarde, Patrick Vieira.
O clima de cobrança não adiantou e o Palmeiras saiu derrotado para o Náutico em um jogo que chegou a perder três oportunidades claras dentro da área. Em seguida, a vitória fora de casa diante do Bahia deu esperança, que aumentou ainda mais com os três pontos sobre o Cruzeiro. A má fase, no entanto, voltou mais uma vez diante do Internacional, no jogo marcado pela “mano de Barcos”. O jogo chegou até a ser julgado no Tribunal por conta da reclamação de uso de informação externa pela arbitragem, mas de nada adiantou.
Os capítulos finais da queda ainda tiveram o dramático empate com o Botafogo, que, por pouco, não terminou em invasão de torcida e um duro conflito que se iniciaria dentro de campo. Após a derrota para o Fluminense e o empate com o Flamengo, o time passou a depender exclusivamente dos adversários. Com a vitória do Bahia e empate da Portuguesa na rodada, o Palmeiras foi rebaixado para a Série B do Brasileiro mais uma vez.
Danilo Lavieri
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
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