Como calcular uma multidão que se espreme ou se espalha pelas ruas em eventos como o carnaval, réveillon carioca ou até mesmo uma manifestação como a que aconteceu nesta segunda-feira (17) no Rio? Dividindo-se entre imagens de televisão, programas de computador e bom senso, a Coppe, instituto de pesquisa de engenharia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mobiliza uma equipe para estimar o público em eventos de massa.
Histórica, a manifestação da segunda contra as tarifas de ônibus e os gastos da Copa do Mundo, também foi parar na ponta do lápis, com 100 mil presentes, segundo o Coppe, que é um dos maiores de ensino na América Latina. "Não é um chute", adianta Moacyr Duarte, pesquisador sênior do Grupo de Análise de Risco Tecnológico Ambiental da Coppe/UFRJ.
Na passeata contra a condição atual do transporte público, os números oficiais — elaborados pela Polícia Militar — só foram confirmados algumas horas depois da conta feita pela Coppe/UFRJ.
Em entrevista ao G1, o relações públicas da Polícia Militar do Rio de Janeiro, coronel Frederico Caldas, disse que o cálculo da corporação conta quatro pessoas por metro quadrado e que, na primeira análise da PM, havia 10 mil pessoas no protesto. O número , diz ele, foi crescendo ao longo da passeata.
Imagens emparelhadas
Em dois monitores alinhados, especialistas da Coppe emparelham imagens diferentes de um mesmo lugar, no caso a Avenida Rio Branco: uma de satélite e outra filmada por um helicóptero. Na primeira, calcula a dimensão da área. Na outra, desenha o que chamam de "manchas" humanas, de acordo com a quantidade de pessoas. Por fim, compara as duas para saber o quanto desta área foi ocupada.
Em multidões comprimidas, contam cinco pessoas por metro quadrado. Quatro, se as pessoas se movimentam. Três, se o grupo está caminhando. "Desenhamos as manchas conforme a densidade demográfica de cada lugar ocupado e somamos. A passeata de segunda-feira teve entre 80 mil e 100 mil pessoas", explica o pesquisador.
No entanto, segundo o relações públicas da Polícia Militar, coconel Frederico Caldas, a PM acreditava que o protesto seria pacífico até o final. Ainda de acordo com Caldas, o cálculo é gradativo porque nem sempre as pessoas chegam no mesmo momento e, às 17h, não havia 100 mil pessoas no local.
"Elas estavam muito concentradas ali na Candelária, que não tem espaço físico para reunir 100 mil pessoas. Na medida em que o tempo foi passando, que as pessoas foram saindo do trabalho, ou seja, somente ao longo da passeata é que esse número foi crescendo. Nossa primeira análise foi de 10 mil pessoas, depois 50 mil e, só no fim, 100 mil. E quem avalia isso normalmente é o comandante da operação e ele estava envolvido com uma série de questões, então cabe a ele fazer essa avaliação", explicou Caldas.
Violência inesperada
Segundo a Polícia Militar, o vandalismo praticado por um pequeno grupo no final da manifestação pacífica não era esperado. "Toda a trajetória daquelas pessoas estava muito tranquila e eles mesmo gritavam o tempo todo 'sem violência'. Mesmo no protesto de quinta-feira, só houve um problema no final, quando os manifestantes tentaram fechar a Presidente Vargas, mas era um grupo de 40, 50. Desse momento participaram cerca de três mil pessoas. Então a gente não tinha dentro do histórico do Rio de Janeiro, se olhar para os últimos anos, os últimos tempos, uma manifestação que as pessoas tenham agido com tanta violência, com tanto absurdo como a que a gente viu na Assembleia Legislativa", concluiu.
'Nunca vi a PM expor uma metodologia'
Às 17h54, o 5ºBPM confirmou 6 mil pessoas. Às 18h40, subiu para 10 mil. Faltando 10 minutos para as 19h, a PM ainda não confirmava o número adiantado por um policial, de 15 mil. Enquanto isso, manifestantes calculavam, por alto, mais de 50 mil presentes. Até que, às 19h29, a Coppe/UFRJ garantiu: 100 mil. Número ratificado, bem mais tarde, pela PM.
A disparidade entre os cálculos — cada vez maior entre o número apresentado por organizadores dos atos e a PM — é questionada também por Moacyr Duarte em outras situações. No carnaval deste ano, o Cordão do Bola Preta teria arrastado 1,8 milhão de pessoas à mesma Avenida Rio Branco, segundo dados oficiais. Na versão da Coppe/UFRJ, o cálculo desta vez foi, pelo contrário, superestimado.
"Nunca vi a PM expor uma metodologia. A quantidade que dizem que o Bola Preta tem não é nem perto do que realmente tem. Fizemos a conta e deu aproximadamente 450 a 500 mil pessoas", argumentou.
Gabriel BarreiraDo G1 Rio
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