Dentre as mais de 60 tatuagens que a cabeleireira baiana Ivete Andrade tem espalhadas pelo corpo, duas são muito especiais. Uma é uma pin-up, símbolo do feminismo na cultura pop, tatuada na coxa da cabeleireira. A outra é a junção entre o pente e a tesoura, material utilizado pela profissional no dia-a-dia.
A pin-up está estilizada, cortando a franja do próprio cabelo e o pente e a escova também fazem relação à profissão. Ela conta que desde sempre sentiu que queria ser cabeleireira e levar isso para o corpo é uma forma de homenagear não só a ela mesma, mas todos os profissionais do ramo. “A paixão pela profissão começou desde cedo. Nunca quis ser outra coisa e resolvi marcar isso no meu corpo”, conta.
Para o tatuador Beto Guimarães, responsável pela tatuagem da pin-up de Ivete, muitos clientes chegam ao estúdio onde ele trabalha, no Itaigara, bairro de classe média alta em Salvador, querendo fazer uma homenagem ao trabalho.
Para comemorar o dia 1º de Maio, data em que é celebrado o dia do trabalhador, o G1 mostra diversos trabalhadores que resolveram homenagear a profissão tatuando símbolos referentes ao trabalho.
"Isso acontece no dia-a-dia. Sempre tem uma pessoa que vem aqui para tatuar um símbolo relacionado ao trabalho. Já tatuei um coração real em um cardiologista, uma outra pin-up filmando em um cineasta, a máscara de teatro em ator, uma boneca estilizada em uma estilista, além de símbolos de cozinha em diversos chefs", revela. Ele conta ainda que o fato da pessoa escolher tatuar um símbolo da profissão tem muita relação com a afirmação da posição profissional. "Essas pessoas amam o que fazem", avalia.
Para o tatuador, João Paulo, mais conhecido como JP, a história não é diferente. Ele, que é proprietário de um dos estúdios mais badalados de Salvador e com agenda fechada com três meses de antecedência, conta que o perfil de clientes que pedem esse tipo de tatuagem é distinto.
"Isso não é relacionado somente em profissões mais liberais, relacionadas com arte como é o caso de cineastas, atores, músico e outros", diz. Por suas mãos já passaram fisioterapeutas, ortopedistas, farmacêuticos, advogados, policiais, juízes, chefs de cozinha, além claro de cineastas, músicos, atores e escritores.
O próprio JP, que é formado em arquitetura, mas largou a profissão para se tornar tatuador, resolveu homenagear a profissão há alguns anos, quando confiou o braço direito ao amigo Diego Rangel, que criou uma máquina de tatuar no estilo new school. A "brincadeira", como ele refere, levou quase cinco horas para ser feita e é um dos orgulhos do artista. "Qualquer pessoa só tatua o que ama de verdade e a arquitetura fez parte da minha formação e foi o caminho que me trouxe aqui. Para tatuar, escolhi da máquina de tatuar, o maior símbolo da profissão", diz.
Dentre os principais trabalhos de JP, no universo de tatuagens relacionadas à profissão, o artista pontua a tatuagem do escritor e psicanalista Paulo Phirmo. Ele conta que a primeira tatuagem de Phirmo foi uma estante com diversos livros, entre eles, o título que ele escreveu. O trabalho durou entre 14 e 16 sessões, com aproximadamente três horas cada. O único livro em destaque na estante tatuada é o próprio livro, "1º Ato".
Após essa primeira tatuagem, que vai do ombro ao punho, Paulo Phirmo fez outras 15 tatuagens, e resolveu marcar no corpo também os símbolos da formação em psicologia. "Eu tenho o símbolo da psicologia e a representação gráfica de um esquema psicológico", diz. Para completar, Phirmo revela: "Para mim tatuar é isso, é lembrar do que eu gosto, além de mostrar para as pessoas quem sou eu, o que eu gosto, qual minha atividade pessoal e social".
Ingrid Maria MachadoDo G1 BA
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