quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

"A sociedade é machista", diz Ingrid Guimarães sobre sexo

A atriz é protagonista do filme 'De Pernas Pro Ar 2' Foto: Páprica Fotografia/Divulgação

Alice era frustrada em sua profissão e nunca havia tido um orgasmo com o marido. Depois de muitas situações cômicas e desconcertantes, ela, no entanto, se torna uma profissional bem-sucedida no ramo de sex shops e alcança a satisfação na vida sexual, com o apoio de vibradores e “brinquedinhos”. Esta nova fase da protagonista, vivida por Ingrid Guimarães na comédia De Pernas Pro Ar 2 - a estreia é nesta sexta-feira (28) -, continua quebrando tabus,
assim como na primeira parte do filme.
“A sociedade é muito machista. Esse filme tem a censura de 12 anos, então é puro para se falar sobre isso. Espero que futuramente venham filmes que possam falar de maneira até mais realista. Talvez as crianças não possam assistir, mas é um bom começo”, criticou a atriz, em entrevista ao Terra. Ingrid, que estreou como protagonista no cinema em De Pernas Pro Ar (2010), ainda comentou sobre sua identificação com Alice e sobre o posto de Sarah Jessica Parker brasileira, em referência à atriz que ficou conhecida por seu papel na série norte-americana Sex And The City.
Dirigido por Roberto Santucci - Até que a Sorte nos Separe (2012), Bellini e a Esfinge (2002) - e produzido por Mariza Leão - Meu Nome Não É Johnny (2008) -, De Pernas Pro Ar 2 chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira (28). O elenco ainda conta com Maria Paula, Eriberto Leão, Bruno Garcia, Denise Weinberg, Cristina Pereira, Christine Fernandes, Tatá Werneck, entre outros.
Terra - O que te atraiu no roteiro do De Pernas Pro Arpara se unir ao projeto?
Ingrid Guimarães - Me atraiu falar de uma mulher de hoje, que eu sou um pouco também e que acho que as minhas amigas são, de uma mulher em busca do prazer, sem ser de uma conotação sexual, mas por isso ser uma coisa normal. Me atraiu falar do prazer em um âmbito familiar e também de uma geração de mulheres.

Terra - Onde você buscou inspiração para compor a Alice?
Ingrid - Em mim mesma (risos). Eu me identifico muito com esse personagem. Talvez eu seja mais analisada, pois faço terapia, mas tenho um marido bem parecido com o dela, que me ajuda, que é fofo e tenta me entender, mas que tem hora que diz “meu Deus do céu!”. E talvez a maternidade tenha me salvado um pouco, mas eu me identifico muito (com a protagonista). Eu vi alguns filmes, várias comédias românticas americanas, mas peguei muitas experiências minhas e das minhas amigas.

Terra - Quais filmes usou como referência?
Ingrid - Eu vi muitos filmes dos irmãos Farrelly, que o Santucci adora e me deu para ver. Alguns filmes da Jennifer Aniston, vi até um filme da Sarah Jessica Parker, chamado Não Sei Como ela Consegue, que tem um tema bem parecido, pois ela é uma mulher workaholic. Vi um filme da Kristen Wiig, o Missão Madrinha de Casamento, que foi até indicado ao Oscar como melhor roteiro. Uma pessoa em quem me inspiro muito é a Tina Fey, sou apaixonada por ela. Ela também é autora, assim como eu, e veio do Saturday Night Live.

Terra - Você preferiu se inspirar em comédias protagonizadas por mulheres mais velhas?
Ingrid - Vi comédias românticas de mulheres da minha idade, que não são de menininhas de 20 anos, mas de mulheres de 40, que têm essa temática. São atrizes que, inclusive, eu admiro também por serem autoras e por se colocarem em uma situação de fragilidade. Não são as mocinhas perfeitas, elas são cheias de defeitos. Afinal, eu faço a mocinha, né?

Terra - Você tem sido muito comparada a Sarah Jessica Parker, protagonista de Sex And The City. O que achou disso?
Ingrid - Amei. Muita gente fala que pareço. Lá em Nova York, quando o filme foi apresentado em um festival, os americanos vieram falar comigo. Um deles falou uma coisa que eu adorei, que eu era uma Sarah Jessica Parker mais “hot” (gostosa) (risos). Eu adorei! Para mim é uma honra, porque sou da geração Sex And The City, eu via muito e reunia minhas amigas para assistir, principalmente porque era a primeira vez que se falava de sexo daquela maneira. Eu tenho muitas amigas mulheres, me identificava com aquele universo e porque eu achava o texto muito bom, os diálogos, era muito bem dirigido.

Terra - Você chegou a conhecer a Sarah Jessica Parker?
Ingrid - Uma vez eu estava em Nova York e ela estava dando autógrafos em um perfume. Eu entrei na fila e comprei um perfume horroroso dela, porque queria falar com ela. Aí fui lá e falei: “Sarah Jessica, eu sou Ingrid, sou uma atriz e faço um sitcom no Brasil. Eu adoro você”. Ela respondeu: “eu tenho uma babá brasileira, tenho a maior vontade de conhecer o Brasil”. A assessora (de Sarah Jessica) até chegou a me dar o email dela e enviei uma mensagem, dizendo que eu tinha um DVD para mandar, mas depois não rolou mais. As pessoas falam e é uma honra, porque eu acho que a minha geração se identificou muito, sem contar que ela é uma mulher charmosa.

Terra - Como você vê a abordagem aberta sobre o sexo no universo feminino, presente tanto no primeiro filme quanto na sequência?
Ingrid - Eu acho que tira o estereótipo de que a mulher que vai falar sobre sexo tem que ser cachorra, de que a mulher feia não pode ser sexy, de que a engraçada não pode ser sensual. A comédia feminina era cheia de estereótipos: ou era gostosa ou era feia. Então, acho que o Sex And The City e a figura da Sarah Jessica Parker vieram para falar sobre sexo e beleza de uma maneira legal, como os homens também falam. Essas comédias que têm feito sucesso são todas protagonizadas por homens e falam sobre sexo na mesa de bar, tipo “peguei”, “comi”. A gente, se falar assim, vira uma filme baixo, então fico feliz em poder representar a mulher falando de sexo, que goza e vai à procura do seu prazer. A mulher que fala de vibrador e que ao mesmo tempo é mãe, é bem vestida, tem família, é sensual, tem um marido, toma tarja preta e é cheia de defeitos. Fico feliz em poder representar isso, pois acho que quebrou um monte de tabus. Várias mulheres vieram falar comigo na rua, dizendo que usa (vibrador), ou que comprou, ou que a mãe comprou, ou que a filha pediu. Acho que foi ótimo, porque já estava mais do que na hora de termos os mesmos direitos de falar sobre sexo, de querer coisas para comprar e se deliciar como os homens, sem que isso seja uma coisa depravada.

Terra - Você é uma artista que teve a formação na TV. Como é adaptar o estilo para o cinema a essa altura da carreira?
Ingrid - Eu acho que o que a gente pensa ou pede muito, de uma certa maneira acabamos atraindo. Eu queria fazer cinema há muito tempo, mas o cinema é um grupo muito fechado. Eles são quase uma família que chama os primos, os amigos, as mesmas pessoas. Acho que a ousadia maior foi da Mariza Leão (produtora), do Paulo Cursino (roteirista) e do Marcelo Saback (roteirista), que são meus amigos e já escreveram para mim, dirigiram o Cócegas (peça), e me chamaram para fazer a protagonista de assunto que me interesso muito, que é a mulher de hoje. Foi muita sorte, sou muito grata a essas pessoas e, a partir daí, se abriu um mundo de cinema para mim. Agora, também quero começar a escrever para o cinema, além de terem aparecido vários convites, tanto para filme de comédia quanto de outros gêneros.

Terra - Já tem novos projetos no cinema?
Ingrid - No ano que vem vou fazer dois filmes, que não são de comédia, mas que têm humor. Um deles é com o José Eduardo Belmonte e é diferente de tudo que eu já fiz. Acho que estou me abrindo para o cinema e estou apaixonada por isso. Tudo que eu faço no teatro e na televisão, que é produzir e escrever, agora estou querendo fazer no cinema.

Terra - E fora do cinema?
Ingrid - Estou fazendo uma peça chamada Razões Para Ser Bonita, do Neil LaBute, que está em cartaz no Rio. O tema também é a beleza e que acho que, no fundo, é o mesmo assunto (do De Pernas Pro Ar), sobre como a mulher de hoje está escravizada. Estou fazendo Mulheres Possíveis, que é um programa no GNT e que também fala da mulher como real e possível. E vou fazer uma novela das 7, agora em fevereiro, chamada Sangue Bom, da Maria Adelaide Amaral. Ou seja, eu sou a Alice. E ainda tenho uma filha de 3 anos e um marido.

Terra




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