O exército de seguidores do Kiss passou trabalho para acompanhar o primeiro show da turnê brasileira do grupo norte-americano, realizado na noite desta quarta-feira (14), em Porto Alegre. Após duas horas de atraso e filas gigantescas do lado de fora do ginásio do Gigantinho, o mais famoso quarteto maquiado do hard rock mundial abusou dos efeitos pirotécnicos para ajudar o público de 10 mil pessoas a esquecer as dificuldades da
superprodução. Mas, depois de muitas explosões, papel picado e hits das mais de três décadas da banda, o público saiu incendiado.
Os problemas começaram do lado de fora do Gigantinho. Uma única porta foi aberta para o pátio do ginásio, e a decisão da produção resultou numa fila com centenas de metros até a escuridão do Parque Marinha do Brasil, que fica ao lado do terreno do Sport Club Internacional. Às 21h, nos primeiros acordes da banda de abertura, Rosa Tattooada, outros portões foram abertos e houve correria para entrar no ginásio.
Mas o tumulto foi em vão. Embora o Rosa Tattooada tenha empolgado, o público queria mesmo era ver o Kiss, o que só iria acontecer por volta das 23h25, quando a estrutura do palco finalmente ficou pronta. A produção alegou atraso de quatro caminhões que continham pedaços do palco do Kiss. Vindas de Assunção, no Paraguai, última parada da banda antes de Porto Alegre, as carretas tiveram problemas na aduana brasileira. O público ficou impaciente durante a espera e chegou a vaiar a produção quando um locutor pediu mais 30 minutos de paciência aos presentes.
O Kiss, no entanto, fez a espera valer a pena. Para esta turnê, Paul Stanley, Gene Simmons (os dois integrantes remanescentes da formação original, além de gerentes do império comercial que gira em torno do Kiss), Tommy Thayer e Eric Singer trouxeram um palco recheado de atrações pirotécnicas e telões, sem esquecer clássicos logísticos da banda, como o elevador da bateria. No repertório de 16 músicas (mais duas pausas para solos dos instrumentistas), o quarteto maquiado investiu em sucessos e algumas músicas do novo álbum, “Monster”, lançado no início de outubro.
No universo do Kiss, o rock está a serviço da diversão e, desde a primeira música, o clássico “Detroit Rock City”, os músicos abusam das caretas, das corridas pelo palco e da empolgação para levar o público ao delírio. Logo no início, a correria para aprontar o palco cobrou o seu preço: os vocais de Stanley estavam baixos e o microfone de Simmons tinha um mau contato que prejudicou a segunda canção, “Shout It Loud”. Mas as explosões, chamas e efeitos visuais no telão distraíram a plateia - uma mistura harmônica de adolescentes e roqueiros de meia idade, num sinal de renovação do público do Kiss. Paul Stanley conversa com os fãs a cada intervalo de música, gritando o nome de Porto Alegre e “Obrigado!” (em português mesmo) sempre que pode.
No Gigantinho, conhecido pela acústica ineficiente, o barulho das explosões chegava a assustar os presentes, e a banda toda soava muito alta, o que talvez faça parte da cultura de intensidade máxima promovida pelo Kiss. Quando labaredas surgiam na lateral do palco, as chamas esquentavam o ambiente, e o calor atingia até quem estava no fundo do ginásio. Na primeira parte do show, o quarteto apostou em canções da década de 70 e apenas três do novo disco. Destaque para “Otta This World”, a nona faixa do disco, que tem o tempero pop do hard rock dos anos 70 e 80, e para o clássico “I Love It Loud”, cantado pela plateia com toda a energia que o refrão merece.
A banda faz uma espécie de intervalo após a oitava canção, quando o guitarrista Tommy Thayer e o baterista Eric Singer fazem um longo dueto instrumental. A dupla é competente e faz os fãs esquecerem dos membros originais da banda, o guitarrista Ace Frehley e o baterista Peter Criss. O baixista Gene Simmons aproveita a parada para executar sua tradicional cusparada de sangue e levar o ginásio à loucura. Antes do bis, Stanley ainda se desculpa por não falar português e declara amor aos brasileiros. “Eu gostaria de falar a sua língua, mas vocês precisam saber que o nosso coração é de vocês”, diz, em inglês.
Após 1h15, o show se encerra com “Black Diamond”, introduzida por Stanley com direito a um trecho de “Stairway To Heaven” (o próprio guitarrista acaba com a brincadeira lembrando que a plateia está lá para ouvir músicas do Kiss) e finalizada com a bateria de Singer elevada a cinco metros do palco. A banda faz uma pequena pausa para voltar para o bis apoteótico. A sequência de “Lick It Up” e “I Was Made for Lovin' You” colocou o Gigantinho para pular. Mas, mesmo com quase 40 anos de formação e inúmeros hits capazes de sacudir o público, o Kiss tem uma única música capaz de fazer a plateia esquecer qualquer atraso: o hino “Rock and Roll All Nite”. E a produção não deixou por menos. No início do famoso riff, uma chuva de papel picado explode no ginásio, e os fãs ganham uma imagem para guardar para sempre na memória. Com 1h40 de show, o Kiss deixa o palco após Stanley quebrar uma guitarra e acionar uma última sequência de explosões e efeitos pirotécnicos.
Os paulistas recebem o Kiss no dia 17, no Anhembi, e cariocas conferem a Monster Tour no dia seguinte, na HSBC Arena.
Setlist
“Detroit Rock City”
“Shout It Out Loud”
“Calling Dr. Love”
“Hell or Hallelujah”
“Wall of Sound”
“Hotter Than Hell”
“I Love It Loud”
“Outta This World”
(Solo de guitarra e bateria)
(Solo de baixo)
“God of Thunder”
“Psycho Circus”
“War Machine”
“Love Gun”
“Black Diamond”
Bis
“Lick It Up”
“I Was Made for Lovin' You”
“Rock and Roll All Nite”
Alexandre de Santi
Do UOL, em Porto Alegre
Do UOL, em Porto Alegre
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