quinta-feira, 31 de maio de 2012

'Bento XVI não é o alvo', afirma especialista no Vaticano



Gianluigi Nuzzi, jornalista de 42 anos, tem plena consciência de que seu livro, "Sua Santità - Le carte segrete di Benedetto XVI" (Sua Santidade, os papéis secretos de Bento XVI), lançado no sábado nas livrarias italianas, foi a gota d'água que levou à prisão do mordomo do Papa, Paolo Gabriele. Nuzzi conhece muito bem os misteriosos corredores do Vaticano. Seu livro "Vaticano S.A.",
publicado em 2009, foi best- seller na Itália. A primeira tiragem do novo livro já se esgotou.
O GLOBO: Você acha que o caso da prisão do mordomo enfraquece o Papa?
GIANLUIGI NUZZI: Eu acho que não, mesmo porque eu acredito que o conhecimento dos fatos faz bem, não faz mal. Além disso, não há nada contra Bento XVI nos documentos que foram publicados no meu livro e na mídia italiana: são documentos que demonstram simplesmente que o Papa conhece os problemas que agitam a vida da Santa Sé nos últimos meses, porque passaram por sua mesa de trabalho. Mas num mundo de brigas, intrigas, vinganças e personagens duvidosos, o papel de Bento XVI está muito claro: é um pastor que tenta defender a unidade do rebanho.
O GLOBO: Os escândalos são muitos: o sexual que envolve os Legionários de Cristo, o do mafioso enterrado numa igreja romana em troca de dinheiro, a demissão do presidente do Banco do Vaticano, grampos, e agora a prisão de uma das 24 pessoas autorizadas a frequentar os aposentos papais... O que está acontecendo ao redor do Papa?
NUZZI: O que está acontecendo no Vaticano não é só uma "guerra" entre grupos de cardeais, mas é uma questão de sistema. O caso nasce depois da morte de João Paulo II: um grupo de pessoas dentro da Santa Sé começou a viver com dificuldade e sofrimento a série de escândalos e mistérios que se registraram. Mas não podemos esquecer que estamos diante de uma monarquia absolutista, onde a informação se gere com grande atenção. Mesmo o caso que está acontecendo agora é absolutamente secreto. Na Itália, ninguém poderia ficar preso por mais de 72 horas sem uma acusação formal e pública. Mas a sensação é que o alvo não é o Papa. A sensação que tenho é que alguns colaboradores do Papa são incompetentes. Até agora, quem foi mais prejudicado pelas revelações do chamado "corvo do Vaticano" foi o secretário de Estado, Tarcisio Bertone. É possível que ele seja o chefe de um dos grupos que protagoniza esta luta, mas é difícil dizer quem está do outro lado da trincheira.
O GLOBO: É evidente que a culpa, neste caso, não é só do mordomo: certamente há alguma eminência por trás do vazamento de documentos. Quem são essas eminências?
NUZZI: Difícil saber quem manobra quem, neste caso. Eu disse que o principal alvo das revelações dos documentos vazados é o cardeal Bertone, mas Bertone já brigou com vários setores da Igreja, dos jesuítas aos diplomatas da Santa Sé, e é impossível saber quem tomou as decisões estratégicas neste caso. O único fato certo é que ninguém ataca o Papa.
O GLOBO: No seu livro "Sua Santità", você revela vários documentos secretos. Quem foi prejudicado por estas revelações?
NUZZI: No meu livro há documentos de origem diferente: da secretaria de Estado, do IOR [o banco do Vaticano], e de muitos outros departamentos. Eu sei que, pelo menos desde 2006, muita gente copia e passa documentos à mídia. E quero lembrar o caso do monsenhor Vigano (ex-secretário-geral do Vaticano), revelado no meu programa "Os intocáveis". Apesar de estar envolvido em algumas denúncias por corrupção, ele foi transferido para a nunciatura apostólica de Washington. Num país normal, quem está envolvido em casos de corrupção dificilmente ganha uma promoção. Mas as regras nesta monarquia absolutista não são iguais às nossas.
O GLOBO: Ontem, o chefe da secretaria de imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi, desmentiu todas as hipóteses de renúncia de Bento XVI. Mas no Vaticano, muitas vezes, os desmentidos confirmam boatos... Você acha que o Papa pode renunciar?
Agência O Globo


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