Em março de 2008, durante a assinatura de ordem de início das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na comunidade do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, recebeu de Lula o epíteto de “mãe do PAC”. Apesar de à época não ter a intenção de sentido eleitoral, o aposto foi retrabalhado posteriormente como estratégia de construção da imagem pública de Dilma como futura candidata à presidente, de acordo com a análise da pesquisadora Teresinha Cruz Pires, professora da pós-graduação em Comunicação Social da PUC de Minas Gerais. “Dilma passa de ‘mãe do PAC’ para ‘mãe do povo’”, pontua a professora.
Por meio de levantamento dos vários discursos de Lula publicados no livro Dicionário Lula: Um presidente exposto por suas próprias palavras, de Ali Kamel (2009), a palavra “governar” era constantemente substituída por “cuidar”. Segundo Pires, o uso do termo “cuidar” possibilita a Lula dar centralidade à “mulher-mãe” e dotar a prática de governar de uma dimensão mais afetiva. “Acredita-se que, na campanha, tentou-se colar não só a imagem de Dilma a Lula, mas também, a imagem dela a essa carismática imagem específica de mãe”, explica Teresinha.
Oferecer Dilma como “mãe do povo brasileiro” foi a principal fórmula encontrada na campanha para apresentá-la como portadora de carisma próprio? De acordo com o sociólogo e especialista em marketing político, Antônio Lavareda, Lula tinha um vínculo emocional com o povo brasileiro, algo que carece à Dilma. “É mais fácil transferir prestígio do que vínculos emocionais. Quanto ao prestígio, basta dizer: ‘Olha, a minha candidata foi um personagem importante no meu governo”. Outra coisa é transferir afeto que a população dedica a Lula, sobretudo os mais pobres”.
Com a vitória nas eleições, Dilma tornou-se a primeira mulher presidente do Brasil. Durante seu discurso de posse, ela prometeu “honrar as mulheres, proteger os mais frágeis e governar para todos”. Ao longo de sua campanha, era visível a intenção de dar continuidade ao governo do ex-presidente Lula, com a proposta de ampliação de programas que se tornaram populares, como o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida e o Prouni.
Na semana passada, Dilma também foi a primeira mulher a abrir a reunião da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Em discurso que durou 24 minutos, ela repetiu 13 vezes a palavra “mulheres” e frisou que o século 21 pertencerá a elas. “Junto minha voz às vozes das mulheres que ousaram lutar, que ousaram participar da vida política e da vida profissional e conquistaram o espaço de poder que me permite estar aqui hoje”, afirmou a presidente. Diante desta afirmação política da condição feminina, o Vida & Arte Cultura de hoje discute com pesquisadores e especialistas em marketing político sobre as estratégias do discurso de Dilma Rousseff, na construção de sua imagem como primeira mulher presidente do Brasil e “mãe do povo brasileiro”.
Camila Vieira
camilavieira@opovo.com.br
camilavieira@opovo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário