sábado, 24 de setembro de 2011

Cirurgia fetal é realizada pela primeira vez no ce

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Este é o segundo caso da síndrome de transfusão feto-fetal no Estado. O primeiro foi transferido para SP
A primeira cirurgia fetal do Ceará foi realizada pelo Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), na última quinta-feira. A paciente Andréa Capistrano da Silva, de 33 anos, que está grávida de gêmeos com mais de 27 semanas, passou por uma cirurgia realizada por meio de uma fetoscopia, uma espécie de laparoscopia nos fetos ainda na barriga da mãe, que interrompeu uma ligação sanguínea entre os dois. A operação foi feita pelo obstetra de São Paulo, Fábio Peralta, especialista no assunto, com auxílio do médico obstetra do Serviço de Medicina Fetal do HGCC, Everardo Guanabara.
Os bebês corriam risco de morte porque tinham a síndrome de transfusão feto-fetal, patologia em que os gêmeos ficam ligados por uma anostomose (vaso que se liga na superfície da placenta e vai de um bordo a outro) na qual um passa sangue para o outro. A consequência disso é que um dos bebês já estava anêmico e o segundo apresentava sinais de insuficiência cardíaca. Fora isso, um fica bem menor que o outro, com uma diferença de 20 a 30% de peso. Isso ajuda a detectar a doença na ultrassonografia.

Este é o segundo caso da síndrome no Ceará. Só que o primeiro foi transferido para Campinas onde aconteceu a cirurgia. Os bebês agora ficarão em observação, mas o período crítico (entre 24 e 48 horas após o procedimento) passou. A paciente já recebeu alta. O obstetra Everardo Guanabara explica que agora as duas meninas vão se acomodar à nova situação.

Andréa conta que sentiu um sangramento e marcou uma consulta com o médico que acompanha a gravidez. Ela chegou a ser transferida para outra clínica que, ao detectar a doença, entrou em contato com o serviço do HGCC. "A cirurgia foi um sucesso. Um das bebês já está sem água no coração", afirma. O parto deve ser realizado em novembro.

O obstetra esclarece que o caso de Andréa não dava para esperar porque ela já estava na fase quatro (vai de um a cinco) de progressão da doença. Apenas o nível um não precisa de cirurgia porque o caso pode não evoluir. "Ela teve uma evolução súbita. Se não fizéssemos o procedimento, pelo menos um dos fetos morreria. E se houvesse um sobrevivente, este poderia apresentar sequelas neurológicas, podendo chegar a uma paralisia cerebral".

Para ele, o ideal seria ter um polo de assistência mais próximo do Ceará para não ser preciso deslocar pacientes para São Paulo. Em uma de cada três mães grávidas de gêmeos, os dois bebês vão à óbito. Duas podem ter, pelo menos, um dos fetos vivos ou os dois vivem. A taxa de sobrevivência de pelo menos um dos fetos é de 60%.

A síndrome acontece em 15% das pacientes que tem placenta monocoriônica. O problema é um defeito na formação da circulação placentária e se manifesta ao acaso. Não tem causa hereditária nem externa. Existem três critérios para que a doença aconteça: é uma patologia obstétrica, ocorre apenas em gestação gemelar, quando há apenas uma placenta e acontece em gêmeos.

O Ceará ainda não realiza, por si só, o procedimento porque os profissionais não estão devidamente treinados para tanto, como informa o médico, mas o Hospital César Cals está se preparando para isso. A unidade faz o diagnóstico da doença.

A medicina fetal é uma subespecialidade da obstetrícia que vem se expandido ao longos dos últimos anos. Conforme Everardo Guanabara, trata-se de um olhar mais voltado para o bebê do que para a parte externa da gravidez. "Muitos médicos talvez desconheçam as inovações para o feto, já que estão concentradas no eixo Sul-Sudeste".

Além da cirurgia para a síndrome de transfusão feto-fetal, outros procedimentos intra-útero já são realizados nesse eixo. São as cirurgias para corrigir a obstrução da saída da uretra, de hérnia diafragmática e para consertar defeito no tubo neural.

FIQUE POR DENTRO
O que é a STFF?
A síndrome se dá quando gêmeos que dividem uma única placenta (monocoriônicos) são sempre idênticos e trocam sangue entre si. Na Síndrome de Transfusão Feto-Fetal (STFF), um feto torna-se doador de sangue e o outro receptor. O feto doador cresce menos e produz muito pouco líquido amniótico, enquanto o receptor produz líquido amniótico em excesso, crescendo mais. A falta ou o excesso de sangue podem levar à morte de ambos (ainda dentro do útero) ou ao parto muito prematuro. Sem tratamento, existe apenas 10% de chance dos fetos sobreviverem nos casos graves de STFF, com o tratamento as chances de pelo menos um feto sobreviver podem chegar a 80%. O tratamento são a retirada do líquido amniótico em excesso (amniodrenagem) e a fetoscopia

Risco
Se não tivéssemos feito o procedimento, pelo menos um dos fetos morreria, quando não os dois"
Everardo Guanabara
Médico obstetra do Serviço de Medicina Fetal do Hospital César Cals

LINA MOSCOSOREPÓRTER

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