Zagueiro técnico, que atuava de cabeça erguida e raramente falhava. Assim surgiu nas categorias de base do Guarani, no começo da década de 80, o zagueiro Julio Cesar. Em pouco tempo de clube, ele virou um dos destaques do futebol brasileiro e esperança para futuras Copas do Mundo.
Eis que em 1986 o zagueiro teve a primeira chance de ser campeão mundial com a seleção. Convocado por Telê Santana, foi escolhido pela Fifa o melhor defensor da competição na qual o Brasil foi eliminado nas quartas de final, para a França, quando Julio Cesar foi um dos batedores que desperdiçaram a cobrança no desempate por pênaltis.
Preterido do Mundial de 90 pelo técnico Sebastião Lazaroni, que optou por Mozer, Mauro Galvão, Ricardo Gomes e Ricardo Rocha, Julio Cesar passou a ser um dos destaques da Juventus, da Itália, e sonhava ter nova chance de jogar um Mundial. Era um dos mais cotados para disputar a Copa de 1994, mas acabou escolhendo ficar fora depois de uma polêmica no próprio ambiente de seleção brasileira.
Ele teve sua primeira chance com o técnico Carlos Alberto Parreira em 1993, na disputa da US Cup, torneio realizado nos Estados Unidos com a seleção local, Alemanha e Inglaterra.
Naquela época, o jogador vivia grande fase na Juventus e era considerado um dos maiores defensores do mundo. Mas um incidente durante o torneio fez com que enterrasse o sonho de ser tetracampeão mundial no ano seguinte.
Julio Cesar teve seus pertences furtados no hotel onde a seleção estava concentrada para uma das partidas. Objetos valiosos se foram, como correntes e relógio, além de dinheiro em espécie. Ele se irritou pelo fato da CBF não se responsabilizar e se negar a ressarci-lo pelo ocorrido. Nesse contexto, decidiu não jogar mais pela camisa amarela.
Ele diz que até hoje não se arrepende. "Não joguei mais por causa disso mesmo. Tive um prejuízo muito grande com aquilo e não fui reparado. Vi que não tinha mais porque permanecer depois daquilo. Mas eu queria ter participado mais da seleção brasileira. Só que me roubaram, foi um valor significativo. Já se passaram muitos anos e não gosto de ficar lembrando", afirmou, sem querer dizer o valor que foi roubado.
"Enfim, só lamento porque depois disso deixei de ser campeão mundial. Mas não me arrependo, fiz tudo muito consciente na época. E bola pra frente", afirmou.
Julio César jogou também no Borussia Dortmund, da Alemanha, Brest e Montpellier, da França, Werder Bremen, da Alemanha, Panathinaikos, da Grécia e Botafogo. Atualmente é dirigente do Rio Branco e está interinamente na função de treinador. "É só para ajudar o time, não pretendo continuar."
- Julio Cesar abraça Juergen Kohler em vitória do Dortmund no Alemão de 1996
Consultor do Dortmund
Julio Cesar é um dos principais jogadores da história do Borussia Dortmund, clube que disputa no próximo sábado a final da Liga dos Campeões da Europa contra o Bayern de Munique, em Londres. Atuou por cinco anos no Dortmund em duas passagens. Lá, foi bicampeão alemão e conseguiu ainda os maiores títulos do clube até hoje: a Liga dos Campeões de 1997 e o Mundial Interclubes do mesmo ano, após vitória sobre o Cruzeiro.
Ganhou até um jogo de despedida organizado pelo clube, que cedeu o estádio Westphalia em 2005 para a festa do então zagueiro. Hoje diz que conversa com muita frequência com dirigentes e ex-jogadores do clube, que sempre querem saber como está.
"Minha relação é ótima. Não falo diariamente, mas umas três vezes por mês pelo menos eu converso com eles. O diretor de futebol, Michael Zorc, jogou comigo e foi capitão do nosso time na época dos títulos. Estamos sempre mantendo contato."
A confiança em Julio é tamanha que ele praticamente "avalizou" a contratação de um dos brasileiros que hoje estão no elenco do clube alemão, o também zagueiro Felipe Santana, autor do gol nos minutos finais contra o Málaga que classificou a equipe para as semifinais da Liga.
"Sempre me ligam querendo saber sobre os jogadores aqui do Brasil. Tanto é que antes de contratarem o Felipe Santana, eles me ligaram pra perguntar o que eu achava, se acompanhava o futebol dele. Sempre passo as informação do que tenho conhecimento. Nosso relacionamento é muito bom nesse sentido", falou.
O ex-defensor e hoje dirigente compara o tratamento que recebe dos dois clubes em que mais atuou na carreira para exaltar como é a visão do europeu em relação aos seus ídolos.
"Na Alemanha eles valorizam muito mais o ex-atleta, o cara que teve relevância e boa passagem no clube. No Brasil o pessoal não tem isso não. O brasileiro só tem memória para coisa ruim. No meu aniversário, no dia 8 de março, o pessoal do Dortmund me mandou e-mail parabenizando. O Guarani nunca nem me ligou", afirmou.
José Ricardo Leite
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
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