segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

'Sensação agridoce', diz blogueira cubana Yoani ao chegar ao Recife

Na chegada ao Brasil, Yoani foi recebida por diversos jornalistas no aeroporto Internacional dos Guararapes, no Recife (Foto: Katherine Coutinho/G1)

Foram seis anos e 20 recusas, mas a blogueira cubana Yoani Sanchéz conseguiu finalmente realizar o sonho de voltar a viajar para fora de seu país. Era quase 1h desta segunda-feira (18) quando Yoani desembarcou no Aeroporto Internacional dos Guararapes, no Recife,
sendo recepcionada pelo amigo e cineasta baiano Dado Galvão.
Além do carinho dos amigos e do assédio de jornalistas, Yoani foi recebida também com um protesto, sendo acusada pelo grupo de manifestantes de "trair o movimento", receber dinheiro americano para ser revolucionária, além de ter uma conta milionária. "Viva a democracia, quero também essa democracia no meu país", respondeu a cubana.
A blogueira, que é uma das principais vozes de oposição ao regime atualmente comandado por Raúl Castro, conseguiu viajar depois que o governo cubano extinguiu a exigência de permissão para a saída da população do país. A mudança entrou em vigor em 14 de janeiro; ela recebeu seu novo passaporte no dia 30 de janeiro.
No aeroporto, grupo protestou acusando a blogueira de receber dinheiro americano para ser revolucionária (Foto: Katherine Coutinho/G1)
No aeroporto, grupo protestou acusando a
blogueira de receber dinheiro americano para ser
revolucionária (Foto: Katherine Coutinho/G1)
"Estou muito feliz, foram cinco anos de luta, de tentar por todos os caminhos. Tenho essa sensação agridoce, estou feliz por mim, mas também tenho amigos que não conseguiram o passaporte. A reforma migratória trouxe alguma flexibilidade, simplificou muitas coisas, mas tenho amigos que tiveram negado o passaporte", contou.
Apesar de todas as negativas, Yoani disse que não desistiu. "Espero agora que outros amigos meus possam conseguir também o passaporte. Quando recebi meu passaporte senti alegria, mas senti também cansaço pela longa luta que foi para chegar até aqui", relembrou.
Segundo ela, os últimos dias foram de correria. "Foram duas semanas que dormi muito pouco, mas com muita energia. Tinha muitas coisas para preparar, o roteiro da viagem para elaborar", afirmou Yoani. A primeira parada tinha de ser o Brasil, ressaltou a blogueira. "Os brasileiros foram os que mais insistiram, apelaram de todas as maneiras. Além disso, muitas pessoas acompanham meu blog e a conta no Twitter. Por todas essas coisas, sentia que o primeiro abraço tinha de ser nos brasileiros. Foi o país que mais se esforçou para me tirar de meu exílio insular", afirmou.
Apesar das mudanças no governo, como a reforma migratória, Yoani disse que a liberdade de expressão ainda não encontrou espaço. "Lamentavelmente, em Cuba, é penalizado pensar diferente. Opinar contra o governo traz consequências nefastas, prisão arbitrária, vigilância. Inclusive fico um pouco preocupada, deixo amigos e família. Sempre fico preocupada, mas espero não receber más notícias. Porém, vemos alguns avanços nos direitos", apontou a blogueira.
Blogueira participa de entrevista logo após chegar de voo que saiu do Panamá (Foto: Katherine Coutinho/G1)
Blogueira participa de entrevista logo após chegar
de voo que saiu do Panamá
(Foto: Katherine Coutinho/G1)
Questionada sobre a possibilidade de ser barrada na volta a Cuba, Yoani foi taxativa: "É melhor que não tentem. É possível, mas não creio, por que seria uma violação legal das leis internacionais". "Quero ficar em Cuba, ajudar os cubanos. Não quero ser uma Yoani Sanchéz migrante em outro país", afirmou.
Sobre as transformações em Cuba, Yoani disse acreditar em avanços parciais. "Existe uma diferença entre a reforma sonhada e a reforma possível. A reforma possível, que é a que o governo de Raul Castro parece estar seguindo, é a de que possamos comprar um carro novo em vez de um usado, comprar alguns produtos que não eram possíveis. Porém, a reforma sonhada, que é a da liberdade de associação, de expressão, não parece que vamos conseguir tão cedo", disse a blogueira.
O cineasta Dado Galvão disse que estava ansioso para comemorar a vinda de Yoani com a blogueira. "Prometi a ela, quando estive em Cuba em dezembro de 2009, que a ajudaria. Vamos celebrar o direito de ir e vir com cinema, solidariedade e perseverança. Já tinhamos feito o convite quatro vezes para lançar o filme e, a cada negativa, cancelávamos a estreia, pois víamos como uma forma de pressionar para trazê-la", afirmou o cineasta.
Reconhecimento
Uma das coisas que chamaram a atenção de Yoani durante a viagem foi ser reconhecida por outras pessoas no avião e no aeroporto do Panamá. "Pessoas de diferentes nacionalidades me reconheciam, sabiam da minha luta, da importância da minha viagem, me diziam palavras de ânimo e de alegria", contou.

Roteiro
Além do Brasil, a blogueira irá também para a República Tcheca, Espanha, México, Estados Unidos e Holanda. Do Recife, Yoani segue em um voo para Salvador, de onde viaja de carro para Feira de Santana. A ativista vai descansar durante o dia e, à noite, participará da exibição do documentário 'Conexão Cuba - Honduras', de Dado Galvão, no qual ela é uma das entrevistadas.

Na terça-feira (19), Yoani concede entrevista coletiva em Feira de Santana e também participa de uma sessão de autógrafos de seu livro "De Cuba com carinho", além de um debate sobre liberdade de expressão e direitos humanos. Na quarta-feira (20), Yoani deve conhecer Salvador e depois deve embarcar rumo a São Paulo.
Katherine CoutinhoDo G1 PE

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