A polícia da África do Sul encontrou testosterona e agulhas no quarto do atleta paralímpico Oscar Pistorius, disse nesta quarta-feira (20) um detetive que testemunhou em audiência em Pretória, sobre o caso do assassinato da namorada do corredor, a modelo Reeva Steenkamp, ocorrido na quinta-feira (14).
Nesta quarta, a Justiça deve decidir se o atleta poderá ou não esperar pelo julgamento em
liberdade, mediante o pagamento de uma fiança.
Pistorius e a namorada discutiram violentamente entre duas e três da manhã, antes que o esportista a matasse com tiros, afirmou uma testemunha citada nesta quarta-feira pelo promotor Gerrie Nel.
O depoimento contradiz as afirmações de Pistorius, que alega que ele e a namorada haviam passado uma noite tranquila e deitado às dez da noite.
Pistorius, acusado pelo assassinato de Reeva Steenkamp, também foi indiciado por posse ilegal de munições, informou a polícia sul-africana.
"Encontramos uma caixa de cartuchos calibre 38 especial", disse o detetive Hilton Botha.
O policial explicou que Pistorius não tinha permissão para este tipo de munição.
Segundo o advogado de defesa, Barry Roux, Pistorius afirma ter matado a namorada por engano, ao confundi-la com um ladrão que teria invadido a casa.
Na segunda, Pistorius disse que atirou na namorada por acidente, enquanto a promotoria sustenta a tese de que os tiros foram intencionais e que o caso trata de um crime premeditado. Um juiz adiou para esta quarta a audiência.
Nesta terça, Pistorius deu sua versão para o crime. Ele disse que não tinha a intenção de matar sua namorada, em declaração lida por seu advogado diante da corte.
O corredor paralímpico afirmou que estava profundamente apaixonado pela modelo Reeva Steenkamp, morta a tiros na casa do atleta em Pretória.
"Reeva havia telefonado e propôs que jantássemos tranquilamente. Às 22h do dia 13, estávamos em nosso quarto, ela fazia ioga e eu estava na cama assistindo à televisão. Estávamos muito apaixonados. Não podíamos ser mais felizes."
"Ela tinha me dado um presente, mas disse que eu só poderia abri-lo no dia seguinte", dia de São Valentim (dia dos namorados em vários países), leu o advogado, o que provocou uma nova crise de choro de seu cliente. "Acalme-se. Deve ficar concentrado no que está acontecendo", disse o juiz a Pistorius.
Após uma breve suspensão da audiência, para que o atleta se acalmasse, o advogado continuou com a leitura.
"Já fui vítima da violência. Por este motivo, guardo uma arma de fogo de 9 mm debaixo da minha cama. Não há trancas na janela do banheiro. Alguém entrou na casa."
"A noite era muito escura. Senti muito medo por acreditar que havia alguém no banheiro. Como estava sem minhas próteses, me senti vulnerável. Atirei contra a porta do banheiro e gritei", disse o advogado, falando em nome de Pistorius. Ele disse que atirou com a arma contra a porta do banheiro, por acreditar que um intruso tivesse entrado pela janela. Depois, usou um bastão de críquete para quebrar a porta.
O atleta afirmou que está "mortificado" com a morte da namorada.
'Assassinato premeditado'
A promotoria da África do Sul considera que Pistorius cometeu "assassinato premeditado" ao atirar numa "mulher inocente". "A vítima foi atingida três vezes quando estava no banheiro", afirmou o promotor Gerrie Nel, antes da leitura da declaração de Pistorius. "A porta do banheiro foi derrubada pelo lado de fora. Acreditamos que a porta estava trancada com chave", disse Nel.
O crime de homicídio premeditado pode ser punido com a prisão perpétua na África do Sul.
Defesa
O advogado do atleta respondeu que a morte da jovem "não foi um assassinato". "Não há nenhum elemento que indique a mínima premeditação. Tudo o que sabemos é que se trancou no banheiro. Ela foi morta no banheiro (...) ele acreditou que era um invasor", disse o advogado Barry Roux.
Pistorius chorou descontroladamente na corte enquanto Nel relatava os detalhes do crime que chocou a África do Sul e milhões de pessoas ao redor do mundo, que viram o atleta biamputado se tornar um herói nas pistas de atletismo e um símbolo da luta contra as adversidades.
O sul-africano biamputado que se tornou um dos maiores nomes do atletismo mundial foi levado ao complexo num carro da polícia. Durante o trajeto, ele cobriu a cabeça.
Mulher segura foto de Reeva Steenkamp, namorada de Oscar Pistorius, durante o velório dela em Port Elizabeth, na África do Sul, nesta terça-feira (19) (Foto: AP)
Reeva Steenkamp foi encontrada morta em sua casa, em Pretória, na madrugada de quinta-feira (14). A família da modelo disse em entrevista ao jornal sul-africano “Times Live” que tudo o que quer são respostas.
O funeral de Steenkamp também aconteceu nesta terça na cidade de Port Elizabeth, onde houve protestos contra Pistorius.
“Ela ainda tinha muito para dar e tudo isso foi embora agora. Em um piscar de olhos ou uma respiração, a pessoa mais bela que já viveu não está mais aqui”, afirmou June Steenkamp, mãe da modelo de 29 anos. “Tudo o que temos agora é essa horrível morte para lidar. Tudo o que queremos são respostas. Respostas para por que isso teve que acontecer, por que nossa linda filha teve que morrer assim.”
A entrevista dada por telefone ao jornal foi a primeira declaração da mãe de Reeva após o crime.
“Ela tinha muito orgulho de ser sul-africana. Ela amava esse país e todas as suas pessoas. Era o único lugar que ela podia chamar de casa”, disse June.
O pai da modelo, Barry, disse ao jornal inglês “Daily Mail” que estava se esforçando para “achar alguma razão para isso ter acontecido”.
Violênia contra a mulher
A queda de Pistorius, o primeiro biamputado a correr nas Olimpíadas, chocou a África do Sul, onde muitos o viam como um raro exemplo de herói que transcendeu as divisões raciais que persistem na "Nação Arco-Íris" de Nelson Mandela.
Mas o assassinato de Steenkamp mais uma vez colocou um holofote sobre os níveis assustadoramente altos da África do Sul de violência contra as mulheres. O país ainda se recupera do assassinato este mês de Anene Booysen, de 17 anos, que foi estuprada, mutilada e deixada para morrer em um canteiro de obras.
A Liga das Mulheres do Congresso Nacional Africano pediu aos tribunais para negar fiança para Pistorius para mostrar que o governo está falando sério sobre o fim da violência baseada no gênero.
Sua família disse no sábado que Pistorius estava entorpecido com a dor e choque, e um pastor que o visitou no domingo (17) disse que ele ainda estava perturbado.
Do G1, em São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário