Com 260 mil exemplares vendidos em apenas 40 dias no Brasil, o livro “Cinquenta tons de cinza”, da escritora inglesa E. L. James, fez donos de butiques eróticas e sex shops mudarem vitrines e criarem sessões especiais. Nesta quinta-feira (6), dia do sexo, os proprietários afirmam ser gratos ao sucesso da obra. Eles dizem que leitoras inspiradas pela relação
fetichista do casal de personagens do livro deixaram de lado seus preconceitos e levaram a um aumento de até 50% na comercialização de algemas, chicotes, vendas e coleiras.O livro, que está prestes a alcançar a faixa dos 40 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, narra a relação entre a ingênua e inexperiente Anastasia Steele e o empresário milionário Christian Grey, um homem inteligente, mas dominador. A história é baseada em uma versão online da saga “Crepúsculo” para adultos, misturando amor idealizado com cenas de sexo temperadas por sadomasoquismo.
Apenas um mês após seu lançamento no Brasil, a descoberta de “Cinquenta Tons de Cinza” fez paulistanas chegarem às butiques eróticas pedindo itens específicos citados no livro. “Uma cliente entrou falando que leu o livro e que queria um chicote de montaria. Falei que tinha, mas não era trançado e nem marrom, como está na história. Ela quis mesmo assim”, comentou Fabiana Pragier, dona da Alizée, butique localizada na Alameda Lorena, nos Jardins, região nobre deSão Paulo- e cuja vitrine está decorada com o livro.
Na Constantine, na Rua Gaivota, em Moema, na Zona Sul de São Paulo, as mulheres também têm pedidos bem diretos. “Elas falam ‘eu quero uma coleira porque eu li o livro e estou com vontade de fazer a cena que está em um capítulo’”, contou Paula Ferreira, funcionária da loja.
A butique registrou um aumento de vendas de aproximadamente 20% por causa do livro, segundo a funcionária. “Para nós, já era normal vender produtos de fetiche, mas com a leitura de 'Cinquenta Tons de Cinza', as mulheres estão se empolgando mais. Muitas também não conheciam esse universo e estão soltando esse outro lado que existe dentro delas”, comentou.
Kits e máscaras venezianas
Na Alizée, cujo aumento na comercialização dos produtos de fetiche foi de 50% desde o lançamento da publicação segundo os proprietários, o sucesso de vendas se concentra em uma linha de kits criada por uma marca americana em homenagem ao próprio livro.
Todas as embalagens são em tons de cinza, e um dos produtos preferidos pelas clientes é um conjunto de introdução ao sadomasoquismo, que conta com um par de algemas, um chicote e uma venda. Para os mais empolgados, é possível adquirir um lençol de velcro em que é possível acoplar algemas.
Um chicote e um kit com algemas e venda foram as escolhas de uma estudante de 19 anos, que preferiu não ser identificada, e cuja curiosidade pelos itens de fetiche foram despertados pela leitura de “Cinquenta Tons de Cinza”. Ela começou a ler o livro depois de recomendações de amigas, que também lhe indicaram os produtos em homenagem à história na Alizée. “Eu comprei [os itens eróticos] para experimentar e pesquisei na internet o jeito de usar. Acho que o livro quebra um tabu, pois ninguém falava sobre sadomasoquismo. E o jeito como é descrito não fala como uma coisa tão pesada”, comentou.
O livro também é comercializado na butique, e vende tão bem quanto os outros itens. “Até o carteiro e o segurança da rua vieram comprar. O carteiro veio, olhou e perguntou quanto custava. Depois voltou e comprou”, disse Leon Vrinssen, co-proprietário da Alizéé.
Já na butique Revelateurs, é possível adquirir até uma máscara veneziana, que estampa a capa do segundo livro da trilogia erótica, a ser lançado no Brasil no dia 15 de setembro. Segundo a proprietária Ana Paula Delarcina, além dos itens citados no livro – como algemas, cordas, chicotes e vendas -, as clientes também procuram espartilhos, meias e luvas 7/8 para compor um visual completo.
Fetiche sem dor
Segundo Ana Paula, a leitura de “Cinquenta Tons de Cinza” está quebrando o preconceito das mulheres em relação aos produtos eróticos fetichistas. “A pessoa tirou da cabeça que o sadomasoquismo só machuca. É uma brincadeira que pode ser saudável, por isso elas procuram acessórios que são mais delicados, para não machucar”, disse.
“Antes, você dava uma algema para uma pessoa e ela falava ‘ai, não!’. Agora virou um objeto de olhar e falar ‘ai, que delícia, vou fazer uma brincadeira boa’”.
Leon Vrinssen concorda com a quebra do tabu em torno do sadomasoquismo e afirma não se lembrar de nenhum livro, filme ou novela que tenha causado um boom tão grande no mercado erótico.
“O livro mudou a forma como as pessoas pensam a sexualidade, os relacionamentos. ‘Sado’ é um termo pesado, obscuro. As pessoas tinham medo de quem fazia e ninguém nunca falava sobre o assunto. Agora abriu o mercado, está todo mundo falando. Uma mulher de 80 anos ou uma menina de 18 podem ler a história e comentar, então não tem limite”, disse.
Enquanto a febre está em seu auge, os donos das butiques aguardam tão ansiosamente quanto os leitores a chegada do segundo livro, que deve levar ao mercado uma série de novas demandas.
Do G1 SP
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