Há 20 anos, quando o tabu sobre o mercado de artigos eróticos era bem maior do que hoje, Ivani Parreira não hesitou quando o marido resolveu trocar a lanchonete que o casal administrava em Sorocaba (SP) por um sex shop. Hoje, aos 68 anos e divorciada, Ivani conta com a ajuda dos três filhos e de duas netas para comandar a loja, que colhe os frutos de um
mercado cada vez mais aberto a esse tipo de comércio.
Mas ela lembra que, no início, o negócio não era tão prazeroso como agora. Na época esse tipo de comércio não era permitido na cidade. Foi depois de muita insistência que ela e o então marido conseguiram dar entrada na documentação na prefeitura para tirar a licença e inaugurar a primeira loja do ramo na cidade.
"Eu topei na hora, mas confesso que fiquei nervosa, até meio que envergonhada. Além disso, também senti medo de que me julgassem como uma mulher 'da vida' por administrar esse tipo de negócio", relembra a empresária. O receio na época foi ainda maior porque Ivani era evangélica. Ela conta que sofreu muito preconceito de pessoas que não tinham conhecimento sobre o assunto e achavam que a sua loja tinha envolvimento até com prostituição.
Se já não bastassem as dificuldades impostas pelos outros, a empresária ainda teve que aliar a criação dos três filhos, frutos do primeiro casamento, com a administração da loja. Desafio vencido, segundo Ivani, com muita conversa. "Eu soube administrar a situação da melhor maneira possível, na base foi de muita conversa. Meus filhos nunca se sentiram mal por eu ter a loja, achavam até divertido", lembra.
Anos depois de abrir a loja, Ivani deixou de frequentar a igreja evangélica. Mas ela jura – por Deus – que o ramo do comércio não influenciou nessa decisão. "Parei de ir à igreja só por falta de tempo. Mas a pessoa que segue religião pode muito bem inovar na cama com o marido, tanto que atendo na loja muitos evangélicos. A única diferença é que eles compram produtos para usar com seus cônjuges. A loja deve ser vista como uma aliada para os casais inovarem e manterem sempre acesa a aquela chama", diz ela, que fez questão de criar os três filhos na igreja evangélica.
Um deles é Elaine Branco Sondré, de 49 anos, que trabalha no comércio há oito. Ela diz que não enfrentou tanto preconceito como a mãe. "Eu sentia muita curiosidade das pessoas quando contava que trabalhava em um sex shop. Mesmo entre as pessoas da minha religião. Elas queriam saber como funcionava, me perguntavam sobre os produtos que a gente vendia, me pediam até para levar na casa delas alguns produtos", lembra, rindo.
Além de Elaine, os outros dois filhos também trabalham na loja. Um deles, que prefere não ter o nome divulgado, se diverte contando que às vezes atende meninas que têm idade para ser filhas dele e se sentem envergonhadas. "Eu tento descontrair para que as clientes fiquem à vontade para conhecer e escolher os produtos", afirma.
O trabalho no sex shop não parou nos filhos de Ivani. As netas da empresária, filhas de Elaine, eram pequenas na época da inauguração e cresceram frequentando o local com naturalidade. Hoje, Amanda (21) e Aline Sodré (23) trabalham no balcão loja. "Eu sempre fui muito aberta com as minhas filhas", conta Elaine.
Segundo Elaine, Aline sempre foi mais "descolada" com relação ao sexo e é a que mais entende dos produtos vendidos na loja. "Ela é a melhor atendente que temos porque pesquisa muito sobre os produtos e quer sempre se especializar. Quando explica sobre os produtos para os clientes fala com sabedoria e muita seriedade", destaca a mãe. Conincidentemente, Aline se casa nesta sexta-feira (6), quando é comemorado nacionalmente o Dia do Sexo.
'Teste drive'
Os comerciantes contam que o segredo de fazer boas vendas é experimentar os produtos para poder oferecer aos clientes com propriedade. "Aqui não temos vergonha de falar sobre o assunto. Tratamos tudo com muita seriedade", diz.
A comerciante conta que já recebeu pedidos bem estranhos até mesmo para eles, que trabalham há quase 20 anos com artigos eróticos. "Tem um cliente meu que quer um vibrador com diâmetro de mais de 10 cm. Não tenho esse modelo disponível atualmente na loja, mas eu sempre busco atender a vontade dos meus clientes, então já fui atrás de um para ele", conta, sem revelar nome, sexo ou idade de quem fez o inusitado pedido.
Natália de OliveiraDo G1 Sorocaba e Jundia
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