O pagodeiro Evandro Gomes Correia Filho deve começar a ser julgado nesta quarta-feira (11) pela morte da ex-mulher e pela tentativa de homicídio do próprio filho em 2008. Ele teve a prisão decretada em novembro daquele ano e, desde então, está foragido da Justiça.
O julgamento está previsto para ter início às 10h no Fórum de Guarulhos, na Grande São Paulo, e será presidido pela juíza Maria Gabriela Riscali Tojeira. O promotor que apresentou
a denúncia contra o pagodeiro é Rodrigo Merli, o mesmo que obteve a condenação do advogado e policial militar reformado Mizael Bispo de Souza pela morte de Mércia Nakashima.
De acordo com a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo, foram arroladas ao menos 20 testemunhas, sendo dez da defesa e outras dez da acusação, para serem ouvidas no júri de Evandro Filho. A expectativa é a de que o julgamento do pagodeiro dure ao menos três dias.
Como está foragido há quase cinco anos e tem a foto estampada na lista dos 21 criminosos mais procurados da Polícia Civil de São Paulo, Evandro, se for ao fórum nesta quarta-feira, terá de ser preso imediatamente. Do contrário, pode ser julgado à revelia.
O advogado de defesa Ademar Gomes disse que Evandro Filho não participará desde o início do julgamento, mas garantiu que ele estará presente no interrogatório pelo juiz, promotoria e a própria defesa. "Ele vai se apresentar no interrogatório. Ele vai contar o que aconteceu no apartamento naquele dia", garantiu Gomes. O G1 não conseguiu entrar em contato com o promotor Rodrigo Merli para comentar o assunto.
Entrevista
Em entrevista por telefone ao G1, em maio deste ano, Evandro garantiu que estaria presente ao primeiro julgamento, que havia sido marcado para dia 8 de maio, mas o júri acabou adiado pelo juiz Paulo Eduardo de Almeida Chaves Marsiglia. “Com certeza, vou me apresentar no dia do júri”, disse Evandro, na véspera do julgamento. Ele alegou não aguentar mais viver na clandestinidade, longe da família, e que, por esse motivo, quer se apresentar para tentar provar sua inocência.
O adiamento ocorreu por causa de provas que tinham acabado de ser adicionadas ao processo, como um parecer psiquiátrico particular apresentado pela defesa que indicaria que a ex-mulher do músico, Andréia Cristina Bezerra Nóbrega, tinha tendências suicidas. Também foram juntados 15 vídeos com quatro horas de duração e mensagens de torpedos de celular recebidas pelo réu. O novo prazo foi concedido para permitir a análise mais detalhada dos novos documentos.
Na mesma entrevista de maio deste ano, Evandro negou ter provocado a morte de Andréia Cristina Bezerra Nóbrega e disse que não tentou tirar a vida do seu filho, então com 6 anos, em 18 de novembro de 2008.
A acusação, por sua vez, afirma que as vítimas pularam do terceiro andar do apartamento onde moravam porque o músico as teria ameaçado com uma faca, chegando inclusive a cortar a mangueira do gás de cozinha com o intuito de explodir o imóvel.
Segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo, o filho do músico deverá ser ouvido como uma das testemunhas da acusação. Durante o depoimento do menino, não será permitida a presença da imprensa e do público.
Suicídio
Evandro, que se mantém escondido e usa disfarces para não ser identificado e detido, alega em sua defesa que Andréia se suicidou. Segundo o pagodeiro, a ex tinha ciúmes dele com sua nova mulher e queria reatar o relacionamento, mas ele recusou, dizendo que havia sido pai novamente.
Sobre seu filho, não soube explicar como o garoto caiu. “Eu tinha mandado ele para o quarto. Quando ouvi o barulho da queda e fui olhar pela janela, ele também estava lá embaixo. Bateu um desespero total. A cabeça girou. Fui buscar socorro.”
Quando morreu, Andréia tinha 31 anos. Ela e o filho do casal, então com 6 anos, caíram da janela do imóvel onde moravam. Na queda, a ex caiu na calçada e faleceu na hora. A criança teve fraturas, mas sobreviveu ao cair no parapeito do prédio.
Imagens de câmeras de segurança gravaram o momento em que a mulher entra com o filho no edifício. Em seguida, vem Evandro. Depois, outras cenas mostram a queda da ex e o socorro dos bombeiros à criança. Elas também registraram o instante em que o pagodeiro deixa lentamente o local, sem prestar socorro às vítimas.
“As imagens foram trocadas”, alegou Evandro, que foi apontado pela polícia como o principal suspeito pela morte da ex e pela tentativa de assassinato da criança.
Omissão de socorro
Sobre a omissão de socorro, por não ter ajudado a ex e o filho quando saiu do prédio e os viu na calçada, o pagodeiro alegou que ficou com medo de ter sido linchado pelas outras pessoas na rua. “Fui direto ao estacionamento, onde achei que havia deixado o carro. Na minha cabeça, ele [o carro] estava no estacionamento e não o encontrei. Minhas pernas ficaram sem forças. Daí, pedi ajuda ao rapaz do estacionamento e liguei para um amigo bombeiro. Mas o desespero falou mais alto no coração”, afirmou.
O artista afirma que havia encontrado Andréia num shopping e foi com a ex ao apartamento para visitar o filho. Mas, segundo a acusação, era o artista que tinha ciúmes de Andréia. De acordo com o Ministério Público, o pagodeiro cortou a mangueira de gás e ameaçou a ex e o menino com uma faca quando entrou no prédio.
Logo após o crime, Josilene Nóbrega, irmã de Andréia, relatou à imprensa agressões de Evandro a Andréia. Em 2007, a ex do pagodeiro chegou a registrar boletim de ocorrência denunciando ameaças do músico desde a separação do casal. Informou que o pagodeiro iria “dar uns tiros” na cara dela.
Evandro afirmou que só não havia se apresentado à Polícia Civil à época porque soube que seria preso. Também contou que só não se entregou ainda porque precisava cuidar da sua mãe, que morreu de câncer no ano passado. Disse ainda que propôs à Justiça, por meio de seu advogado, o uso de uma tornozeleira eletrônica, para continuar trabalhando. “Mas recusaram todos os pedidos”, disse.
Em 29 de setembro de 2010, durante as eleições presidências e governamentais, ele deu entrevista coletiva disfarçado com peruca, cavanhaque postiço e óculos escuros. Naquela ocasião, o pagodeiro não podia ser preso porque a lei eleitoral impede prisões de quem não tem sentença condenatória definitiva antes de pleitos.
Evandro disse que se refugiou no Nordeste para não ser preso. Nesse período, contou ter sobrevivido graças às vendas de um CD com músicas evangélicas. “Gravei um CD com pagodes, mas nem sei como estão as vendas”, afirmou ele, que espera ser absolvido para retormar sua carreira musical. “Estou precisando trabalhar. Um homem parado vira lixo, não é ninguém.”
Antes de ser preso, Evandro havia tentado seguir trabalhando como cantor, gravou CD e se apresentou em programas de auditórios.
Testemunha
Questionado sobre a possibilidade de seu filho, atualmente com 11 anos, ser ouvido no júri, Evandro se disse “tranquilo”. Em 2008, a pedido da polícia, o garoto desenhou o pai com uma faca na mão e ele e a mãe pulando a janela. Atualmente, o menino está sob a guarda da avó materna, em Minas Gerais.
“Desde que a mãe se suicidou, ele [o menino] está com a avó e as tias. Então, com certeza ele está sendo influenciado por elas. A Andréia sempre o usou para me ferir. Mas mesmo assim eu estou tranquilo. O meu filho é maravilhoso”, disse, em maio passado. Caso seja inocentado, ele afirmou que tentará obter a guarda do garoto.
Marcelo MoraDo G1 São Paulo
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