Confrontos entre apoiadores do presidente do Egito, o islamita Mohamed Morsi, e forças de segurança deixaram 16 mortos e 200 feridos entre terça (2) e quarta-feira (3), segundo as agências Reuters e a AFP, que citam a TV local e o Ministério da Saúde.
Os confrontos se acirraram após um pronunciamento do presidente reiterando sua
legitimidade porque foi eleito democraticamente.
O Exército do Egito declarou que está pronto para "sacrificar o sangue" pelo Egito e pelo seu povo "para defendê-los contra qualquer terrorista". A declaração foi publicada na página do Conselho Supremo das Forças Armadas (SCAF) no Facebook, segundo a agência de notícias Reuters, três horas após o presidente Morsi aparecer na TV estatal defendendo seu governo.
Milhares de muçulmanos se reuniram na praça em frente à Universidade do Egito para pedir a revogaçãodo ultimato - que termina nesta quarta-feira às 11h30 de Brasília - dado pelas forças armadas do país para que Morsi deixe o poder.
Nos últimos dias, protestos levaram milhões de pessoas às ruas contra o presidente, eleito após a revolução que derrubou o ex-ditador Hosni Mubarak em 2011.
Após o discurso de Morsi, um porta-voz do grupo opositor Frente da Salvação Nacional disse que a fala do presidente é vista como uma "declaraçao de guerra civil", já que ele ignorou as demandas da oposição, que pedia sua renúncia.
Na TV, Morsi disse que as eleições que o elegeram foram livres e representativas. "Não deixem eles roubarem a revolução de vocês", falou ele em um claro recado aos seus apoiadores.
Mais cedo, Morsi havia pedido que as forças armadas retirem o "ultimato", dado na véspera, para que ele divida o poder com a oposição, e disse que não vai receber ordens. Em seu discurso, ele disse que está tentando fazer com que o Exército volte a realizar suas tarefas normais e que seu primeiro ano de governo foi difícil, pois enfrentou desafios de reminiscências corruptas do "antigo regime". A "legitimidade" é "a única garantia contra o derramamento de sangue", acrescentou.
"O presidente Mohamed Morsi garante sua fidelidade à legitimidade constitucional e rejeita qualquer tentativa de desviar dela, e pede às forças armadas que retirem seu alerta, e se recusa a receber ordens internamente ou externamente", disse o Twitter oficial da presidência.
Uma fonte militar disse à agência de notícias Reuters que as forças armadas iriam responder.
As mortes desta terça ocorreram no distrito de Giza e também deixaram dezenas de feridos, alguns em estado grave, em meio à crise política que paralisa o país e que levou multidões às ruas das principais cidades. Tumultos também eclodiram em outros bairros da periferia do Cairo e na província de Beheira.
O presidente Morsi, islamita e primeiro líder eleito livremente no Egito após a queda do ditador Hosni Mubarak, tem sido alvo de protestos, com dezenas de milhares de pessoas pressionando por sua saída.
Na segunda-feira, o exército deu um prazo de 48 horas para que o Morsi e a oposição liberal chegassem a um consenso político.
Os militares negaram que tenham a intenção de dar um golpe de Estado.
A oposição egípcia anunciou a designação de Mohammed El Baradei, ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), como seu representante, visando a uma transição política.
O ultimato foi elogiado pela oposição, que acusa o presidente de querer instaurar um regime autoritário em favor da Irmandade Muçulmana, movimento islamita ao qual pertence.
Já os partidários do chefe de Estado insistem na legitimidade do primeiro presidente eleito democraticamente no país.
O clima era de tensão desde o início do dia. O manifestante Mostafa Gharib manifestou à France Presse o seu temor de que os islamitas "lutem até o fim antes de cair".
Para Mona Elghazawy, a batalha agora é contra os islâmicos.
Um grande esquema de segurança da polícia foi montado no Cairo, enquanto helicópteros do Exército sobrevoavam a cidade.
Um dos líderes da Irmandade Muçulmana chegou a pedir aos egípcios que estejam dispostos a sacrificar suas vidas e que evitem um golpe de Estado.
"Buscar o martírio para evitar este golpe é o que podemos oferecer aos mártires anteriores da Revolução", afirmou Mohamed al-Beltagui, em referência aos quase 800 mortos durante a rebelião de 2011, que levou à queda de Mubarak.
Dezenas de milhares de partidários do presidente se reuniram no bairro de Nasr City e em frente à Universidade do Cairo, na outra margem do Nilo.
"A posição do Exército é preocupante e perturbadora. Se eles tomarem o país, vamos fazer uma revolução islâmica", advertiu Mohamed Abdel Salem, um manifestante pró-Morsi.
"Acorde Sissi, Mursi é o meu presidente", cantava a multidão ao ministro da Defesa.
Alia Youssef, engenheira de 24 anos, disse estar "pronta para morrer em defesa da legitimidade (do presidente) e para dizer 'não' a um golpe militar".
Em um comunicado, a Presidência afirmou que o "Egito não permitirá um recuo, sejam quais forem as circunstâncias".
Esta resposta obrigou o Exército a desmentir qualquer plano de golpe de Estado e a esclarecer que o ultimato, lido por seu chefe, o general Abdel Fatah al-Sissi, pretendia "levar todos os setores políticos a encontrar uma saída rápida para a crise atual".
Do G1, em São Paulo
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