Um protesto pacífico que começou aparentemente sem rumo teve seu auge, na noite desta sexta-feira (26), na frente do palco principal da Jornada Mundial da Juventude, em Copacabana, Zona Sul do Rio. O ato espantou fiéis que assistiam à última atração cristã da noite e chamou a atenção do mundo para temas como os gastos públicos com o próprio
evento, o desejo do fim da polícia militar e a insatisfação com os governos municipal, estadual e federal.
Mais cedo, naquele mesmo palco, o Papa Francisco assistiu à Via Sacra e falou ao público, mas o Pontífice já havia ido embora ao início do protesto. Por volta das 21h30, um show católico acontecia no local, mas foi encerrado pouco depois da chegada dos manifestantes. A organização da JMJ, porém, nega que tenha antecipado o fim da apresentação. A caminhada de quase 10 quilômetros não teve incidentes, diferentemente do ato em São Paulo, em apoio àmanifestação carioca contra o governador Sérgio Cabral.
No Rio, o protesto foi de Copacabana à Lapa e começou quase duas horas depois do previsto. O motivo do atraso, por coincidência, foi um dos focos das primeiras manifestações de junho: o transporte público. Com o metrô restrito a peregrinos e as ruas do bairro fechadas por causa da JMJ, centenas de manifestantes demoraram para se encontrar na estação Cardeal Arcoverde e seguir pela Avenida Atlântica até invadir as areias. Na chegada ao ponto da platéia mais próximo do palco, um fiel chegou a se ajoelhar e rezar com medo dos mascarados.
Empurra-empurra com a Força Nacional
Durante quase todo o percurso, os jovens foram acompanhados por policiais com identificação alfa-numérica. Sem os nomes nas fardas e apenas com letras e números nos coletes, os agentes fizeram revistas e dialogaram com os manifestantes para evitar brigas, de forma bem-educada. Chamado de "policiamento de multidões", o grupo que agiu em protesto na quinta (25) com sucesso, obteve êxito novamente.
No entanto, nas esquinas das avenidas Atlântica com Princesa Isabel, houve tumulto. Agentes e manifestantes concordaram em seguir à beira-mar pela pista sentido Ipanema, para se aproximar do palco. Nervosos, agentes da Força Nacional correram para fechar a via. Houve empurra-empurra e truculência.
Um manifestante seria detido, mas os policiais de farda alfa-numérica dialogaram e impediram a prisão. Ele foi revistado e nada foi encontrado em sua mochila. No total, foram mais de 300 averiguações. Nenhum artefato foi encontrado.
Acalmada a situação, os manifestantes decidiram se aproximar ao máximo do local onde ocorria o show. Já nas areias, pediram a saída de Cabral e, com gritos, "abriram mão" da Copa e da vinda do Papa, em troca de "saúde e educação". Com medo, manifestantes abandonaram a apresentação.
Terminado o ato nas areias, manifestantes decidiram seguir rumo à casa do governador, no Leblon. No entanto, por temerem confronto com o Batalhão de Choque, que fazia uma ronda no local, desistiram já no meio do caminho. Apesar da indecisão, o grupo decidiu seguir para a Lapa. Em Botafogo, os PMs alfa-numéricos entraram em vans e deixaram a monitoração por conta de policiais do 2ºBPM (Botafogo).
Licença para ambulância e silêncio em frente a hospital
Durante a caminhada, além das hostilidades ao governador Sérgio Cabral e ao prefeito do Rio, Eduardo Paes, o grupo perguntava: "Cadê o Amarildo?", em referência ao pedreiro sumido há 2 semanas na Rocinha após prestar depoimento a policiais da UPP. Simbolicamente, a "procura" teve peso com a chegada do grupo em frente ao Cemitério São João Batista, em Botafogo.
Pouco antes, um dos momentos mais marcantes. Já diminuto, o grupo abriu passagem para uma ambulância que seguia pela Rua Figueiredo de Magalhães. Alguns metros à frente, na porta do Hospital Copa D'Or, os manifestantes ficaram em absoluto silêncio em respeito ao local. Quando passaram, voltaram a gritar entusiasmados pedindo a saída do governador. De lá, seguiram para a Lapa, onde o ato dispersou de madrugada após a PM usar spray de pimenta.
Gabriel Barreira e Henrique CoelhoDo G1 Rio
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