domingo, 2 de dezembro de 2012

Parceria entre produtores e indústria viabiliza a criação de rãs em SC


A integração entre produtores e a indústria está viabilizando a criação de rãs em cativeiro por pequenos produtores de Santa Catarina. No município de Antônio Carlos, a 35 quilômetros de Florianópolis, onde predomina o sistema de produção integrada na criação de aves e de porcos, os galpões estão ganhando o novo animal.
A criação de rãs chegou à região há dois anos. A ideia partiu do engenheiro de alimentos
Flávio Lawless, que durante dez anos trabalhou como funcionário de uma grande empresa na produção integrada de frangos. Ele investiu cerca de R$ 2,5 milhões na construção de um frigorífico, que hoje produz seis toneladas de carne de rã por mês.
No processo de produção integrada, os criadores cuidam da etapa de transformação, quando o girinos crescem e se transformam em imagos (pequenas rãs) e também da fase de engorda, até a rã ficar pronta para o abate. Já a integradora é responsável pelas fases iniciais de reprodução e de eclosão dos embriões e as finais, do abate e da comercialização. A empresa assume também uma das fases mais delicadas da criação de rãs: a produção dos filhotes.
Para manter a produção, Flávio criou um banco com 300 reprodutores, selecionados em sete estados diferentes, um cuidado para evitar o problema de consanguinidade genética provocado pelo cruzamento de parentes.
As fêmeas e os machos permanecem em tanques o tempo necessário até ocorrer o acasalamento. "Quando a gente vê, por exemplo, esse abraço, que a gente chama de abraço nupcial ou amplexo, ele então força a passagem desses ovócitos pela cloaca. À medida que ele vai sentindo que ela elimina esses ovócitos, ele então ejacula por cima. A partir dali então, dependendo da temperatura, pode ocorrer em 48 horas, por exemplo, a eclosão. Aí a gente passa a chamar essa primeira larva da rã de girino”, explica o veterinário André Muniz Afonso.
Os girinos são os responsáveis pela primeira etapa de integração da empresa de Flávio com os criadores da região. Com apenas 15 dias de vida, eles são levados para os sítios a poucos quilômetros dali para o processo chamado de transformação.
O criador Anísio Bauer tem uma propriedade de 16 hectares e, até há pouco tempo, o único negócio que tinha era os frangos, que engordava nos dois galpões do sítio. Ele investiu R$ 95 mil na construção dos galpões para os girinos, que ficam entre três a quatro meses, dependendo da temperatura da água, comendo uma ração rica em gordura até se transformar em imagos.
“Fica elas por elas. Na granja tem que mexer cama, dar espaço, uma limpadinha. Aqui também tem que renovar a água, alguns tanques tem que trocar a água todo dia e tratar de seis a sete vezes por dia. Então tem que estar aqui e lá, direto”, diz Anísio.
Com três meses de idade, os filhotinhos já estão com três a quatro centímetros de tamanho. Nessa fase, eles são transportados para as granjas de engorda, onde vão aprender a comer ração granulada.
No sítio de Luciano Kretzer, um ex-caminhoneiro que decidiu abandonar a boleia para cuidar do ranário, está cheio de animais para engordar. Colocadas em baias, as rãs ficam entre 90 e 120 dias, até completar o ciclo da engorda. “O que dá mais trabalho no manejo com as rãs é selecionar e classificar o tamanho de uma baia para a outra, para não haver canibalismo”, explica o criador.
Luciano gostou tanto de mudar de ramo que já está aumentando o número de baias e vai dobrar o número de rãs alojadas por cada ciclo de engorda, passando de 11 mil para 22 mil.
É pelo ritmo intenso das esteiras do processamento da carne de rã que é possível ver que o sistema de produção integrado entre frigorífico e produtores está dando bons resultados em Santa Catarina. As rãs engordadas nas pequenas propriedades da região viram um produto cada vez mais procurado por mercados consumidores do sul e do sudeste do país e agora também do Chile, para onde vai mais da metade das seis toneladas de carne de rã produzidas todo mês.
Segundo o veterinário Pedro Paulo Osório, da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), que dá apoio técnico ao projeto, os cuidados em todas as etapas de produção foram fundamentais para a conquista desse mercado: “Os animais são rastreados por um processo de girinagem, depois a gente passa para os produtores, cada produtor tem um código, e vamos acompanhando até chegar no consumidor final com 100% de rastreabilidade”.
E se depender dos resultados obtidos nos dois primeiros anos de experiência desse modelo de produção, a tendência é o negócio saltar cada vez mais alto.
“Nós viemos da uma cadeia produtiva avícola, a experiência profissional nossa é da avicultura. Na ranicultura há um espaço para profissionalizar a ranicultura. Como o agricultor aqui da nossa região já tem a cultura da integração, isso torna o nosso esforço mais fácil”, garante Flávio Lawless.
Na produção integrada, os criadores arcam com o custo da construção dos ranários e com a mão de obra do sítio. Já a indústria é responsável pela compra das matrizes, fornecimento dos girinos e das rações, e assistência técnica aos criadores.
Do Globo Rural

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