
Em 48 horas, criminosos ainda não identificados conduziram 24 ataques contra policiais e ônibus em cinco cidades de Santa Catarina.A onda de violência sem precedentes começou na segunda (12) em Florianópolis.
Na noite de terça e na madrugada de hoje, apenas sete horas depois que o governo anunciou
a criação de uma força-tarefa para prevenir os ataques, os criminosos responderam dobrando de oito (na segunda-feira) para 16 o número de atentados.
Foi uma demonstração de força da bandidagem. Os 16 ataques ocorreram nas cidades de Itajaí (5), Criciúma (4), Florianópolis (4), Navegantes (2) e Blumenau (1). Não houve feridos.
O ataque de maior visibilidade foi o de um ônibus no Norte de Florianópolis, às 21h40 de terça. Dois homens encapuzados invadiram o veículo, ameaçando motorista e cobrador com armas. Em seguida, ordenaram que os passageiros descessem e atearam fogo usando uma garrafa pet com gasolina.
Delegacias, postos da PM e um presídio foram alvos de disparos. A polícia trocou tiros com desconhecidos em Criciúma e Florianópolis, mas ninguém foi preso nestas ocorrências. Em Criciúma (140 km ao sul da capital) motoqueiros dispararam contra a guarita do presídio. Em Florianópolis, tiros foram disparados contra a delegacia do bairro Saco dos Limões.
A PM prendeu 21 pessoas, a maioria menores, mas nenhuma em flagrante. As autoridades ainda não sabem quem coordena os ataques. Uma das teorias é que bandidos de Santa Catarina, de grupos diferentes, viram ações semelhantes no Fantástico de domingo e sairam às ruas na segunda-feira para imitar bandidos de São Paulo.
Nos bastidores, policiais civis e militares acreditam que a maioria dos ataques é coordenada pela facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense, o PGC. de dentro do presídio de segurança máxima de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis.
Lá estão presos líderes do tráfico, quadrilheiros de sequestros e assaltos a banco, cujas regalias foram cortadas por um diretor durão, Carlos Alves. O assassinato da mulher dele, Deise Alves, em 26 de outubro, teria sido a primeira represália. Depois da morte dela, Alves tirou uns dias de licença. O principal suspeito de ordenar a morte de Deise Alves foi o detento conhecido por Derú.
Na mesma noite do crime a polícia divulgou um alerta a todos seus agentes para protegerem suas famílias. Mas, nos dias seguintes ao crime, as autoridades da segurança pública o trataram como um caso isolado. O governo não quer admitir a existência de facções nos presídios catarinenses - entre as preocupações está o início da temporada turística no estado, que tem na imagem de verão seguro um de seus atrativos.
Enquanto isto, o setor de inteligência da PM informou ao comando da iminência de novos crimes. O alerta só foi divulgado oficialmente depois dos atentados de segunda (12). No presídio, o diretor Carlos Alves reassumiu o cargo no início de novembro. A volta dele ao comando revoltou ainda mais os detentos. Na semana passada, houve um princípio de rebelião, contido com violência pelos agentes penitenciários.
Na repressão, alguns presos denunciaram à Justiça que estariam sofrendo torturas. A Corregedoria do Tribunal de Justiça ordenou ontem uma inspeção pelo juiz da Vara de Execuções Penais de São José, cujos resultados foram inconclusivos.
Na segunda-feira (12) os criminosos fizeram chegar à imprensa um video no qual agentes do Departamento de Administração Prisional (Deap) invadem uma cela da penitenciária aos gritos, buscando informações sobre "o matador da mulher" - comprovando que as investigações sobre a morte de Deise ainda continuam focadas dentro do presídio.
O governo não quer tirar Carlos Alves do cargo para não ceder à bandidagem. Ele é considerado duro, mas equilibrado. Entre suas medidas de disciplina está o uso de uniforme pelos condenados.
Segundo investigação do CNJ, oito mortes de detentos no primeiro semestre do ano passado na penitenciária de São Pedro teriam sido ordenadas para forçar a saída de Alves.
Renan Antunes de Oliveira
Do UOL, em Florianópolis
Do UOL, em Florianópolis
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