quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Santa Catarina tem segunda noite de ataques; violência desafia autoridades da segurança

Homens do Corpo de Bombeiros tentam apagar fogo em ônibus que trafegava no bairro dos Ingleses, no norte de Florianópolis (SC)

Em 48 horas, criminosos ainda não identificados conduziram 24 ataques contra policiais e ônibus em cinco cidades de Santa Catarina.A onda de violência sem precedentes começou na segunda (12) em Florianópolis.
Na noite de terça e na madrugada de hoje, apenas sete horas depois que o governo anunciou
a criação de uma força-tarefa para prevenir os ataques, os criminosos responderam dobrando de oito (na segunda-feira) para 16 o número de atentados.
Foi uma demonstração de força da bandidagem. Os 16 ataques ocorreram nas cidades de Itajaí (5), Criciúma (4), Florianópolis (4), Navegantes (2) e Blumenau (1). Não houve feridos.
O ataque de maior visibilidade foi o de um ônibus no Norte de Florianópolis, às 21h40 de terça. Dois homens encapuzados invadiram o  veículo, ameaçando motorista e cobrador com armas. Em seguida, ordenaram que os passageiros descessem e atearam fogo usando uma garrafa pet com gasolina.
Delegacias, postos da PM e um presídio foram alvos de disparos. A polícia trocou tiros com desconhecidos em Criciúma e Florianópolis, mas ninguém foi preso nestas ocorrências. Em Criciúma (140 km ao sul da capital) motoqueiros dispararam contra a guarita do presídio. Em Florianópolis, tiros foram disparados contra a delegacia do bairro Saco dos Limões.
A PM prendeu 21 pessoas, a maioria menores, mas nenhuma em flagrante. As autoridades ainda não sabem quem coordena os ataques. Uma das teorias é que bandidos de Santa Catarina, de grupos diferentes, viram ações semelhantes no Fantástico de domingo e sairam às ruas na segunda-feira para imitar bandidos de São Paulo.
Nos bastidores, policiais civis e militares acreditam que a maioria dos ataques é coordenada pela facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense, o PGC. de dentro do presídio de segurança máxima de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis.
Lá estão presos líderes do tráfico, quadrilheiros de sequestros e assaltos a banco, cujas regalias foram cortadas por um diretor durão, Carlos Alves. O assassinato da mulher dele, Deise Alves, em 26 de outubro, teria sido a primeira represália. Depois da morte dela, Alves tirou uns dias de licença. O principal suspeito de ordenar a morte de Deise Alves foi o detento conhecido por Derú.
Na mesma noite do crime a polícia divulgou um alerta a todos seus agentes para protegerem suas famílias. Mas, nos dias seguintes ao crime, as autoridades da segurança pública o trataram como um caso isolado. O governo não quer admitir a existência de facções nos presídios catarinenses - entre as preocupações está o início da temporada turística no estado, que tem na imagem de verão seguro um de seus atrativos.
Enquanto isto, o setor de inteligência da PM informou ao comando da iminência de novos crimes. O alerta só foi divulgado oficialmente  depois dos atentados de segunda (12). No presídio, o diretor Carlos Alves reassumiu o cargo no início de novembro. A volta dele ao comando revoltou ainda mais os detentos. Na semana passada, houve um princípio de rebelião, contido com violência pelos agentes penitenciários.
Na repressão, alguns presos denunciaram à Justiça que estariam sofrendo torturas. A Corregedoria do Tribunal de Justiça ordenou ontem uma inspeção pelo juiz da Vara de Execuções Penais de São José, cujos resultados foram inconclusivos.
Na segunda-feira (12) os criminosos fizeram chegar à imprensa um video no qual agentes do Departamento de Administração Prisional (Deap) invadem uma cela da penitenciária aos gritos, buscando informações sobre "o matador da mulher" - comprovando que as investigações sobre a morte de Deise ainda continuam focadas dentro do presídio.
O governo não quer tirar Carlos Alves do cargo para não ceder à bandidagem. Ele é considerado duro, mas equilibrado. Entre suas medidas de disciplina está o uso de uniforme pelos condenados.
Segundo investigação do CNJ, oito mortes de detentos no primeiro semestre do ano passado na penitenciária de São Pedro teriam sido ordenadas para forçar a saída de Alves.
Renan Antunes de Oliveira
Do UOL, em Florianópolis



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