quinta-feira, 1 de maio de 2014

É Possível Prevenir Doenças Sexuais (DST) APÓS o Sexo Sem Proteção?

Triste no Médico

Prevenções de emergência contra exposição a doenças sexuais têm limitações e devem ser usadas apenas para situações especificas, não rotineiramente. Para se prevenir contra uma gravidez indesejada após o sexo sem proteção, a contracepção de emergência fornece um meio. No entanto, relações desprotegidas também aumentam os riscos de contrair doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).

Existem medidas de emergência para reduzir o risco de doenças sexuais após a exposição?

Sim, dizem os especialistas. No entanto, essas medidas têm limites e são recomendadas apenas para certos grupos de pessoas, como mulheres que foram vitimas de violência sexual. Tratamentos de emergência para doenças venéreas não são recomendadas para uso de rotina.
“O problemas principal [com o tratamento de emergência] é a diversidade de DSTs”, diz o Dr. Robert Johnson, um epidemiologista médico junto a Divisão de Prevenção as DSTs no Centro de Controle de Doenças e Prevenção dos E.U.A. (CDC). “Não existe um único medicamento que pode tratar todas as DSTs. Os agentes virais não podem ser tratados. Desenvolver um esquema é problemático.”
Existem mais de 20 tipos de doenças sexualmente transmissíveis. Enquanto camisinhas de látex, usadas consistentemente e corretamente, podem reduzir os riscos de todas elas, nenhuma droga pode tratar com sucessos qualquer DST.
Combinações de antibióticos podem ser usadas para reduzir os riscos de infecção da mulher por algumas doenças sexuais bacterianas após a violência sexual. Lavar os genitais e medicamentos demonstraram mais eficácia em prevenir DSTs entre homens servindo o exército. Duchas vaginais, usadas por muitas mulheres para limpar a entrada da vagina podem não ajudar a prevenir doenças venéreas e podem até promover infecções nos casos onde a contaminação ocorre.
Por todo o mundo, aproximadamente 250 milhões de novos casos de doenças sexuais ocorrem anualmente. A maioria dos cientistas concorda hoje em dia que a infecção de DSTs aumenta um risco individual de contrair HIV, o vírus que causa AIDS. Existem evidências que DSTs que geram feridas genitais, como herpes, cancro e sífilis, podem aumentar o risco de transmissão de HIV gerando uma área de entrada para o vírus da AIDS. Outras doenças sexualmente transmissíveis que não produzem ulcerações mas produzem inflamação, também podem aumentar a susceptibilidade ao HIV.
Devido ao fato de que camisinhas de látex podem prevenir a transmissão de doenças sexuais bacterianas e virais, e por que os antibióticos podem tratar com sucessos as DSTs bacterianas uma vez que o diagnóstico foi realizado, pesquisas para encontrar uma prevenção de emergência contra DSTs – uma que pudesse ser usada após o sexo sem proteção, mas antes dos sintomas se desenvolverem – é limitada.
No entanto, pesquisas estão em andamento para desenvolver microbicidas que poderiam matar patógenos virais e bacterianos de DSTs. Alguns pesquisadores especulam que esses produtos, feitos para o uso anterior à relação sexual para prevenir infecções, podem também ser usados para prevenção de doenças sexuais após o sexo sem prevenção e de emergência.
“A necessidade de um produto como este é evidenciada pelos dados que surgem em relação a prevalência de sexo não consensual ou coercitivo na vida de mulheres, mesmo dentro do casamento e em uniões consensuais,” escreve Christopher Elias do Conselho Populacional e Lori Heise do Projeto Político de Saúde e Desenvolvimento. “Um método pós-coital pode também ter alguma utilidade para mulheres, especialmente adolescentes, em comunidades onde ‘planejar’ fazer sexo não é aceitável.”
Tratamentos pós-coitais para doenças sexualmente transmissíveis podem também ser úteis para casais que usaram camisinhas como um meio de prevenção, mas que ela tenha saído ou arrebentado, da mesma maneira que um contraceptivo de emergência é usado para prevenir a gravidez quando um casal experimenta este tipo de falha da camisinha.

Violência sexual

Para mulheres que são vitimas de violência sexual ou sexo não consensual, o CDC desenvolveu diretrizes para o tratamento emergencial de DSTs. Essas diretrizes recomendam o uso de uma combinação de antibióticos, dada dentro de poucas horas após o sexo sem proteção. Esta combinação é feita para prevenir as infecções costumeiramente diagnosticadas depois de um ataque sexual – tricomoniade, clamídia, gonorreia e bacteriose vaginal.
O CDC recomenda: 125 miligramas de ceftriaxone injetado intramuscularmente em uma dose única, dois gramas de metronidazole por via oral em uma única dose e 100 miligramas de doxycyclina tomada oralmente por duas vezes ao dia por sete dias.
O CDC também recomenda que os profissionais de saúde aconselhem o cliente sobre os sintomas de doenças sexuais e a necessidade de retornar à clínica caso um desses venha a ocorrer. Os profissionais de saúde devem aconselhar o cliente a usar camisinhas até o tratamento com antibióticos estar completo, para prevenir a possibilidade de transmissão de qualquer DST para outro parceiro.
Se possível, os clientes devem receber uma vacina para proteger contra Hepatite B. Se testes laboratoriais para doenças sexualmente transmissíveis estão disponíveis, o cliente deve retornar para mais exames após duas e doze semanas depois da violência sexual.
A chance de contrair uma DST depois de uma relação sexual é menor que o risco de ficar grávida. Menos de uma em cada cinco pessoas são infectadas com uma DST a qualquer momento, enquanto 9 em cada 10 mulheres abaixo da idade de 35 são férteis e podem ficar grávidas. O uso de antibióticos como medida de prevenção é normalmente feita por razões psicológicas tanto quanto biológicas. O cliente, que já passou o trauma físico e emocional do ataque, pode ter uma coisa a menos para se preocupar se tomar os antibióticos.
Existe algum risco de que a mulher possa adquirir infecção por HIV depois de um abuso sexual, mas o CDC diz que o risco é muito baixo. Não existem medidas de emergência que um profissional de saúde possa tomar para reduzir as chances de HIV nesta situação. Profissionais de saúde devem oferecer aconselhamento sobre HIV e testes ao cliente, mas alguns especialistas recomendam que isso seja feito durante um retorno à clínica, não durante a visita inicial quando o cliente está assustado e triste.
Fora o uso para prevenir o desenvolvimento de doenças venéreas entre vítimas de violência sexual, o uso de antibióticos para prevenção emergencial de DSTs pela população em geral é visto pela maioria dos especialistas como um uso desnecessário e caro de recursos médicos escassos. “Tratamento de emergência vai resultar no supertratamento de pessoas que não estão infectadas”, diz o Dr. Jonathan Zenilman, professor associado de medicina na Divisão de Doenças Infecciosas da Universidade Johns Hopkins nos Estados Unidos. Dado que certas DSTs desenvolveram resistência a certos antibióticos, o tratamento antes do diagnóstico não é recomendado.

Experiência militar

O uso de tratamentos emergenciais pós-coito para DSTs têm tido algum sucesso nos militares americanos. Durante a Primeira Guerra Mundial, oficiais militares tentaram reduzir a incidência de doenças sexuais através de campanhas educacionais que enfatizavam a necessidade dos soldados serem “100 por cento eficientes para vencer a guerra”. Os militares eram encorajados a praticar abstinência para evitar doenças sexualmente transmissíveis.
Militares que se envolviam em relações sexuais com prostitutas eram encaminhados de volta à sua base militar e levados para tratamento emergencial dentro de três horas após a relação sexual. O procedimento envolvia diversos passos. Primeiramente, o soldado urinava, depois ele lavava seus genitais com sabão e água, seguido de bicloreto de mercúrio. Um atendente médico inspecionava a área genital do soldado, então injetava Protargol que contém proteína de prata no pênis. O soldado urinava 5 minutos depois. Finalmente, pomada de calomelano era esfregada no pênis, e o pênis era envolvido em papel encerado. O soldado não devia urinar por pelo menos de 4 a 5 horas depois do tratamento.
Para reduzir ainda mais a incidência de doenças venéreas durante a Primeira Guerra Mundial, soldados americanos recebiam um pacote para tratamento de emergência que eles mesmos podiam administrar. Isso foi feito experimentalmente para os que não tinham acesso a uma clínica de saúde. O pacote continha pomada de calomelano, ácido carbólico e cânfora.
Oficiais militares de saúde estimam que esse tratamento pudesse ser 99.6% eficaz em prevenir sífilis, gonorreia e cancro. As estatísticas sobre o sucesso dos esforços militares para reduzir as DSTs não foram publicadas. No entanto, oficiais militares estimam que diversos milhões de homens receberam tratamento emergencial para DSTs.
Já durante a Segunda Guerra Mundial, os militares americanos buscaram reduzir a incidência de doenças sexuais oferecendo programas educacionais, tratamento emergencial e camisinhas para prevenção. Com a descoberta de que antibióticos podiam tratar efetivamente DSTs bacterianas, e o conhecimento de que camisinhas podem prevenir a transmissão de DSTs, o uso de clinicas de emergência diminuiu.
Na década de 1970, um estudo com 500 marinheiros americanos que tiveram relações sexuais com mulheres enquanto estavam aportados no Pacífico ocidental concluiu que a taxa de infecção de doenças sexuais não diminuía significativamente se o homem urinava após 30 minutos depois da relação ou se lavasse seus genitais dentro de uma hora. Outro estudo entre 1000 marinheiros descobriu que 200 mg de miociclina, tomados oralmente algumas horas depois da relação, oferece alguma proteção contra o subsequente desenvolvimento de gonorreia. No entanto, pesquisadores não recomendam o uso indevido de antibióticos devido à possibilidade de desenvolvimento de cepas resistentes a drogas.

Ducha vaginal

Devido ao fato que muitas mulheres praticam a ducha vaginal rotineira por motivos de higiene, existe uma especulação que a ducha após o sexo sem proteção possa reduzir a incidência de doenças venéreas. No entanto, estudos demonstraram que fazer a ducha pode não oferecer nenhum tipo de proteção contra DSTs. Na verdade, isso pode promover alguns tipos de infecções do trato reprodutivo.
Enquanto a ducha vaginal pode diminuir os riscos de gonorreia, ela pode aumentar os ricos de doenças inflamatórias da pélvis e gravidez ectópica.Um estudo feito com mais de 600 mulheres nos Estados Unidos descobriu que aquelas que usavam a ducha tinham mais fatores de risco para DSTs, incluindo parceiros sexuais múltiplos e primeira relação sexual em uma idade menor. No entanto, outros dizem que é difícil de determinar se a ducha aumenta a chance de infecção da mulher ou se a ducha simplesmente é uma prática comum de mulheres em situação de risco para DSTs por outras razões.
Normalmente, o pH da vagina é baixo (ácido), mas os níveis de pH mudam durante a relação sexual com ejaculação, menstruação, deficiência de estrogênio, menopausa e vaginite bacteriana. Pesquisadores acreditam que os níveis de pH na vagina podem ter um papel importante na transmissão de doenças sexuais.
Diversos pequenos estudos examinaram as mudanças nos microorganismos vaginais depois da ducha. Um estudo com 20 mulheres nos Estados Unidos descobriu que pequenas quantidades de preparado para ducha contendo antisséptico, gluconato clorexidina, não alteravam significativamente a flora vaginal depois de 30 dias de uso. Um pequeno estudo na Universidade de Sassari na Itália avaliou sete preparações para ducha, visando determinar seus efeitos in vitro em lactobacilos, uma bactéria encontrada normalmente na vagina. Lactobacilos produzem peróxido de hidrogênio, que inibe o crescimento de alguns patógenos e possivelmente patógenos de DSTs.
Pesquisadores concluíram que o uso frequente destas duchas poderia mudar a composição da flora vaginal normal.
Um estudo com 10 mulheres nos Estados Unidos, que comparou dois tipos de preparações para ducha, descobriu que aquelas que continham ácido acético (o ácido do vinagre) gerou mudanças em curto prazo na flora vaginal, enquanto soluções contendo povidona iodada (Betadina) causaram mudanças significantes na flora vaginal, que poderiam aumentar os riscos de infeção e possivelmente o risco de doenças inflamatórias da pélvis.
O uso de refrigerantes como uma ducha pós-coital é frequentemente sugerido como um remédio popular para prevenir a gravidez após o sexo sem proteção, mas isso não é eficaz já que o esperma entra no cérvix dentro de segundos após a ejaculação. Um estudo com sete homens na Nigéria examinou os efeitos de quatro tipos diferentes de refrigerantes sobre a motilidade in vitro do esperma. O estudo demonstrou que uma marca da bebida, Krest bitter lemon, imobilizava o esperma dentro de um minuto. No entanto, o estudo não explorou o efeito microbicida. Um estudo conduzido nos Estados Unidos investigou os efeitos espermicidas da Coca-Cola e descobriu que as diferentes formulações do refrigerante reduziam a motilidade dos espermas. Um estudo separado, sobre bebidas de cola descobriu pouco efeito sobre a motilidade dos espermas. Pesquisadores sugerem que a introdução destes líquidos na vagina pode causar infecção.
Alguns pesquisadores sugerem que a ducha microbicida pós-coital pode ser mais culturalmente aceita que camisinhas, o que torna necessária a negociação entre parceiros. Uma ducha pós-coital de chá ou cerveja, que tem um pH baixo, ou leite azedo, que contém lactobacilos que resultam em níveis baixos de pH, podem oferecer proteção contra DSTs, incluindo AIDS, sugerem os pesquisadores.

Sabão e água

Lavagem genital foi sugerida como um meio de prevenir a transmissão de doenças sexuais em homens. Estudos feitos com militares na Primeira Guerra Mundial e Segunda Guerra Mundial descobriram que lavar com água e sabão logo após a exposição ajudava a prevenir o cancro.
Na Africa Sub Saariana, lavagem genital tem sido teoricamente aconselhada como maneira de reduzir as DSTs e a incidência de HIV. A falta de circuncisão em homens pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de  cancro, uma causa comum de úlceras genitais na África. Doenças de úlceras genitais aparecem como um fator de risco para contrair HIV. Profissionais de Saúde aconselham a educação sobre lavagem pré-coital e pós-coital, com instruções sobre como limpar a área embaixo do prepúcio do pênis. O que pode ser uma maneira de reduzir a incidência de DSTs na África central, leste e sul da África, onde a circuncisão masculina é menos comum e doenças de úlceras genitais são mais comuns do que no oeste da África.
Entretanto, um estudo em Singapura, que questionou 100 prostitutas sobre os métodos que usavam para prevenir doenças sexualmente transmissíveis, descobriu que lavagem pós-coital com soluções antissépticas não teve o efeito de prevenção neste grupo de mulheres.
Referência: Relatório da Organização das Nações Unidas (ONU)

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