Zeca Camargo foi a Londres conferir o show e saber o que Madonna tem a dizer sobre as suas novas provocações. “Eu nunca quis fazer um show que fosse apenas uma sequência das minhas músicas. Sempre quis contar uma história”, diz Madonna, logo no início da entrevista.
Realmente, não faltam ideias na nova turnê, chamada MDNA. Mas algumas causam mais polêmica do que outras. Madonna já exibiu um seio em alguns shows, e essa nem foi a maior ousadia. Durante a música “Nobody knows me”, o telão do palco mostra uma imagem da líder de extrema-direita francesa, Marine Le Pen, com um símbolo nazista. O partido dela ameaçou um processo.
Zeca Camargo fala dessa confusão na entrevista, pergunta a ela se foi de propósito, se ela queria provocar. Madonna responde que foi, sim, de propósito, que ela escolheu essa imagem para falar do aumento da intolerância com estrangeiros e imigrantes no mundo. E completa: “são tempos assustadores”.
Zeca pergunta, então, se ela acha que o mundo melhorou ou piorou ao longo da sua carreira. Afinal, são quase 30 anos de sucessos e provocações. Ela responde que acha que melhorou em algumas coisas, como os direitos das mulheres e dos gays. Mas, ao mesmo tempo, aumentam casos de preconceito e violência contra minorias. “Tem uma batalha acontecendo agora entre o bem e o mal”, diz Madonna.
Já que ela sempre quer falar desses temas, Zeca pergunta se ela nunca cansou de tratar dos mesmos assuntos. Desde o início da carreira, ela testa os limites do público, provocando com ideias como comportamento sexual e religião. A cantora diz que, como é fascinada pelo tema, ele sempre vai ser um tema de seu trabalho.
“Fui criada como católica, mas hoje acho que a igreja é uma instituição muito patriarcal, e cheia de hipocrisia”, diz Madonna.
Criar confusão é uma espécie de necessidade para Madonna. As mensagens simples das primeiras canções, que apenas convidavam as pessoas para dançar, lá nos anos 80, logo ficaram mais insinuantes no segundo álbum.
As provocações à igreja apareceriam no final dos anos 80: no meio de cruzes em chamas, ela beijava um santo, no clipe de “Like a prayer”.
E a tolerância das imagens sensuais foram testados alguns anos mais tarde, no clipe de "Justify my love", censurado em várias TVs pelo mundo. E no seu disco seguinte, o nome dizia tudo: "Erotica".
“Eu acho que, se você é um artista, está sempre dissecando e desconstruindo as idéias. Esse é o nosso trabalho”, acredita Madonna.
No caso de Madonna, as polêmicas nunca ficaram só na arte. Sua primeira filha nasceu de uma "produção independente". De um casamento conturbado com o cineasta Guy Ritchie nasceu o segundo, Rocco, que hoje faz uma ponta com a mãe na turnê. E seu terceiro filho foi adotado no Maláui, não também sem certa confusão. De maneira sutil, Madonna fala um pouco de tudo isso nessa turnê.
“É sobre religião, Deus, amor... Tudo - vingança, decepção - é uma viagem, das trevas à luz”, diz a cantora.
Pode até ser, mas não sem passar por um pouco de violência. Muitos fãs estranharam as imagens sangrentas e a quantidade de armas no palco na primeira parte do show.
“Nós vivemos em uma sociedade cheia de imagens violentas. Acho que o que choca o público é me ver com um revólver. Mas a ideia é essa mesma - cada um vê o que quiser no show”, explica Madonna.
A entrevista vai chegando ao fim, e Zeca aproveita para avisar a ela que, se não fizer a pergunta seguinte, os fãs brasileiros irão matá-lo. Bem-humorada, ela diz que não quer ser responsável por um assassinato. “Muito obrigado, Madonna”, agradece Zeca. Mas o que ele e os fãs precisam tanto saber é sobre ela cantar, no show, uma música da Lady Gaga chamada "Born this way".
Muita gente considera que essa música se inspirou em um antigo sucesso de Madonna, "Express yourself". Quando ele pergunta se foi uma piada, uma homenagem ou uma brincadeira, ela diz que deve ter sido um pouco de cada coisa. E completa com uma alfinetada: “Eu gosto muito dessa música, e fiquei feliz de ter ajudado Lady Gaga a compor”.
Depois dessa, Zeca encerra dizendo que ela vai ser muito bem-vinda de volta ao Brasil. Ela diz que está ansiosa para voltar, e que adora tocar no país. Zeca acredita, mas acrescenta que, ansiosos mesmo, estão os fãs brasileiros.
fantastico.globo
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