O derretimento do gelo no Ártico pode acabar com quase 70% das áreas usadas por focas aneladas (Pusa hispida) para reprodução, aponta um estudo da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, divulgado nesta segunda-feira (17).
O animal, que cava túneis na região congelada do Ártico para abrigar seus filhotes, já está
sendo avaliado por ONGs e associações que produzem listas de espécies ameaçadas, dizem os cientistas. A profundidade do gelo precisa ser de no mínimo 20 centímetros para que a foca consiga abrir caminho para cavar seu abrigo.Os pesquisadores afirmam que as regiões do Ártico que acumulam ao menos 20 centímetros de gelo em profundidade serão reduzidas em mais de dois terços até o fim deste século, em 2100, se o ritmo do degelo continuar.
A neve no Ártico atinge espessura crescente do início do ano até maio, segundo dados da instituição. No levantamento entre 1981 e 2000, em média o gelo já havia chegado a 15 centímetros de profundidade em dezembro. O pico ocorreu nos meses de fevereiro, março, abril e maio. Neste último, a profundidade chegou a 30 centímetros.
Pela projeção realizada pelos cientistas da Universidade de Washington, entre 2081 e 2100 a profundidade média de gelo será de 15 a 20 centímetros, com pico bem mais reduzido em termos de tempo. Só entre março e abril a espessura deve chegar a 15 centímetros, meses de pico do acúmulo de neve, com forte declínio a partir de maio.
A existência do gelo é uma condição fundamental para a sobrevivência da foca, apontou a professora Cecília Bitz, da Universidade de Washingon, especialista em ciência atmosférica e co-autora da pesquisa, publicada no periódico científico "Geophysical Research Letters".
Antecipação
A antecipação na época de derretimento prevista pelos cientistas também vai afetar o ciclo reprodutivo das focas, segundo os pesquisadores. Eles afirmam que, caso o aquecimento global siga no mesmo ritmo e houver a antecipação do período de degelo, as focas jovens não serão capazes de sair dos túneis em que ficam abrigadas e morrerão antes de atingir a maturidade.
O estudo vai além da questão da proteção ambiental das focas da espécie Pusa hispida, apontam os cientistas. "Há um grande impacto termodinâmico na diminuição da profundidade do gelo", afirma Cecília em entrevista ao site da Universidade de Washington.
No dia 26 de agosto, a agência espacial americana (Nasa) registrou recorde no derretimento da camada de gelo que cobre o Oceano Ártico. Trata-se do maior degelo anunciado desde o início do monitoramento via satélite da região, iniciado em 1979.
A última vez em que um derretimento tão grande ocorreu foi em 18 de setembro de 2007, e ainda assim havia mais massa polar do que a registrada pela Nasa no fim de agosto. A camada de gelo chegou a 4,1 milhões de km², 70 mil km² a menos do que a medição em 2007, quando a extensão do gelo no Ártico era de 4,17 milhões de quilômetros quadrados.
A persistente perda de cobertura de gelo é preocupante e ocorreu mais cedo do que o previsto, apontam cientistas da agência. A previsão de pico de derretimento é o mês de setembro, aponta a Nasa.
Do Globo Natureza, em São Paulo
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