sábado, 5 de janeiro de 2013

MORADORES DENUNCIAM COBRANÇA DE ÁGUA DE PROGRAMA DO EXÉRCITO

Benedito José de Souza disse que pagou R$ 10 ao Exército para receber água

Em meio à tanta dificuldade, para não dizer miséria, ainda há quem queira se aproveitar de quem não tem nada ou quase nada. Em Bodocó, no Sertão do Araripe, distante 649 km do Recife, há reservatórios de polietileno funcionando, mas sem a água da chuva para armazenar, os moradores precisam esperar os caminhões-pipa, tanto da Operação Seca, do Estado; quanto da Operação Pipa, do Exército. E é aqui que entram em cena os aproveitadores.
Benedito José de Souza tem 55 anos. Ele foi beneficiado com uma cisterna de plástico no início de novembro. Sem água vinda do céu, esperou que viesse pela estrada. E veio, mas ao custo de R$ 10. "O caminhão tinha o símbolo do Exército, e o motorista disse que a água era de poço e, por isso, tinha que pagar dez reais".
Pode parecer pouco para quem vive na cidade grande e sofre apenas com os estouros de tubulação da Compesa, mas para quem é praticamente obrigado a vender o gado 90% mais barato do que comprou, a situação é dramática. Benedito conta a história de conhecidos que levaram gado a R$ 2 mil por cabeça. Na hora de vender, o novo dono não pagou mais do que R$ 200. Detalhe: desde que o bezerro viesse junto. Melhor do que perder carne e couro.
"Todo dia a gente tenta levantar os gados. Tem gente que comprou por R$ 2 mil a cabeça e está vendendo a R$ 200 casado. O bezerro vai junto. É prejuízo, não tem alternativa. É melhor ganhar o couro do boi do que perder o boi todo", diz, dando ideia do que valem os dez por cento restantes.
Na mesma cidade, Francisco Ferreira Jacó, de 75 anos, passou por igual situação. Para ele, ainda foi pior: nem tinha a quantia. Precisou recorrer a um vizinho e, na hora de receber, a água não dava para beber. Segundo ele, era de açude. "Era água salobra, que não dava para beber", contou.
Um pouco antes de Bodocó, em Sertânia, a 316 km do Recife, Sertão do Moxotó, outro pequeno agricultor fez nova denúncia. Desta vez, o alvo foi a Prefeitura. O trabalhador, de 70 anos, que preferiu não se identificar, garante que quem não votou na então prefeita e candidata derrotada à reeleição, Cleide Ferreira (PSB), não recebeu a cisterna.
"Aqui é sempre assim: quem vota contra é perseguido. Essas coisas vêm sempre para quem vota neles. Não vieram aqui, não ofereceram nada", disse.
RESPOSTAS - O Exército garantiu que a água da Operação Pipa não deve paga e quem for cobrado tem que denunciar. Nos caminhões, há um telefone para os moradores fazerem as denúncias. O mecanismo dessa operação não conta com pessoal e nem equipamento das Forças Armadas. O pipeiro é contratado e pago de acordo com a distância e a dificuldade de acesso aos locais onde a água deve ser entregue. Sobre a denúncia de Sertânia, o NE10 tentou entrar em contato com a prefeitura, mas não teve sucesso.
especiais.ne10


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