Pode ser a proximidade da estreia numa competição em que os holofotes, mais do que nunca em sua carreira, estarão sobre ele. Pode ser a má fase com a camisa da seleção brasileira. O fato é que, em sua primeira entrevista coletiva pela seleção desde o acerto de sua transferência para o Barcelona, Neymar foi mais homem que menino. Mesmo quando
conversou com uma repórter da Coréia do Sul sobre videogames.
Aos 21 anos, Neymar é o símbolo do futebol brasileiro e um rosto que promete se tornar ainda mais conhecido por conta de sua transferência para o futebol espanhol. É também, de acordo com seus companheiros de seleção, o destaque de uma equipe cuja forma pós-mundial de 2010 ainda está mais marcada por baixos do que altos. Estranho seria se ele não sentisse a pressão. Nesses dias de "media training" e afins, é em detalhes que se lêem reações. E a ausência de molecagem no discurso de Neymar disse muito.
Nos 40 minutos de entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira, por exemplo, Neymar praticamente não sorriu. Foi curioso vê-lo falar em jogar com alegria e desconcentração quando ele na verdade mostrou irritação ao analisar a percepção pública de seu momento na seleção. Ao mesmo tempo, não fugiu de mostrar um pouco mais o que pensa. Na questão da diferença de rendimento entre seus melhores dias no Santos e na seleção, por exemplo, ele não hesitou em dizer que tem um comportamento coletivo muito mais cobrado por Luiz Felipe Scolari do que por treinadores do Santos.
"Todo jogador tem sua função, e temos um treinador. Ele pede que a gente faça coisas dentro de campo, quer marcação e movimentação. Aqui (na seleção) não tem como ser o que era no Santos. São jogadores diferentes, o entrosamento é diferente. No Santos já me conheciam, aqui ainda estão me conhecendo", afirmou ele.
Blindado por Scolari, cujo discurso tem insistentemente passado por elogios ao comprometimento do jogador e ignorado o fato de que em 2013 ele apresentou apenas lampejos na seleção, Neymar também adotou um comportamento mais desafiador em relação à mídia. Piadas ficaram ao largo. Não houve risadinhas ou gracinhas ao fim de cada resposta. "Caneladas" surgiram em perguntas mais incômodas.
"A orientação de marcar mais não é só para mim. O treinador me pede para reduzir espaço do adversário. Mas se eu marco muito, vocês reclamam. Se não driblo, vocês reclamam. Às vezes não consigo entender as pessoas", disse.
Quando o assunto invariavelmente foi a revelação feita por Felipão de que Neymar está sendo incomodado por uma tendinite no joelho, o jogador mostrou outro sinal de amadurecimento forçado pelas circunstâncias ao observar que dores são e prometem ser ainda mais companheiras na rotina de um atleta de alto nível.
"Vocês que seguem a seleção sabem que eu nunca fiquei fora de nenhum jogo. Eu sentir dor não é nada. Todo jogador joga com dor aqui ou ali, nunca está a 100%. Mas não tem nada a ver. Estou bem para jogar e à disposição".
Sorrisos, Neymar guardou apenas para o momento em que técnicos de equipes de TV se aproximaram da bancada para tirar fotos. Isso ele também parece ter aprendido. O menino hoje também é marca, não pode aparecer carrancudo junto aos fãs.
Daniel Tozzi e Fernando Duarte
Do UOL, em Brasília
Do UOL, em Brasília
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